domingo, 2 de setembro de 2007

O dragão e o tempo. - Autor: Pompeo Marques Bonini ( Pompa )



O dragão e o tempo.

POMPEO MARQUES BONINI

SUMÁRIO:
CAPÍTULO I - UMA IMPETUOSA BATALHA
CAPÍTULO II - O SEGREDO DOS RANTANS
CAPÍTULO III - O HOMEM QUE NINGUÉM SABE DE ONDE VEIO.
CAPÍTULO IV - LAPSOS DE SONHO
CAPÍTULO V - À CAMINHO DE BREMER
CAPÍTULO VI - O QUE SUSCEDEU NA BASE DE COMENDO
CAPÍTULO VII - O SALÃO DE NAMBLEN
CAPÍTULO VIII - UM ENGANO CRASSO
CAPÍTULO IX - A REALIDADE ABRANGE REALIDADES SOBREPUJANTES
CAPÍTULO X - O RETORNO DOS GUERREIROS
CAPÍTULO XI - ENCONTRO DE REALIDADES
CAPÍTULO XII - CAMINHOS PENOSOS
CAPÍTULO XIII - NA CASA DE FANTR
CAPÍTULO XIV - ENTREGUES À SORTE DO DESTINO
CAPITULO XV - O SENTIDO E O MOTIVO

INTRODUÇÃO:

A história que será apresentada à seguir está ambientada num futuro longínquo. Um planeta Terra transtornado por horrenda criatura, que com suas pérfidas relutâncias e vontades assola às mais variadas cidades, estas, afetadas pela desventura da destruição energética, enquanto populações ainda ilesas apenas temem a proeminente destruição, em meio ao caos as diferentes culturas e raças lutam com todas as forças à restaurar um mínimo de paz. Numa sociedade em que se estipulou por conveniência que as dinastias dos reis zeram a contagem de anos, iniciando a contagem do tempo no ano 0 do 1o Reinado, o que representa o ano 3000 corrente, antes deste tempo convencionou-se chamar de 1a era, todos os reinados após o ano 3000 estão na 2a era: quando o planeta passou a adotar o sistema unificado de reinados com um só Rei para toda o planeta Terra.
O contexto filosófico que se descortina no decorrer do livro se relaciona com as vertentes de tempo e espaço, o leitor perspicaz terá a oportunidade de refletir sobre um assunto complexo de uma maneira suscita, simples, direta, objetiva e até ingênua, ou seja: aparentemente sem pretensões estratosféricas, é necessário notar que muitas vezes as aparências são enganosas, e guardam nas profundezas de seus brilhos e cores mensagens diferentes senão até contraditórias do ao que se direcionam num primeiro momento. Por isto eu como autor, aconselho que o leitor precavido reflita de maneira adequada ao perpassar cada “quadro” deste livro de maneira a entender a metafísica ou o sentido metafórico de frases, idéias e pensamentos co-relacionando devidamente às noções da realidade ou do que se julga ser realidade, pois isto é sucessivamente definido quando se procura nomear, e trazer ao esclarecimento da razão senão até do coração. Dá-me vontade de antecipar detalhes do livro e idéias que me inspiraram a construí-los; ou foi à escrita que inspirou as idéias? Bem, isto não é o ponto de crucial importância, mas sim que as idéias nele estão e têm por certo uma via de interpretação interessante e específica, o que será devidamente discorrido após o final do conto.
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CAPÍTULO I:
UMA IMPETUOSA BATALHA

É bastante louvável a atitude que tinha aquele grupo de homens: por onde passavam salvavam centenas de vidas. Constituíam o grupo dos “cinco Lantes”, trotavam e galopavam em seus cavalos em busca de desafios que se lhes apresentassem diante dos olhos. Eis que num dia de muita chuva e ventania chegaram os “cinco Lantes” numa cidade bastante estranha, pois esta parecia estar desabitada. Seus prédios não demonstravam quaisquer sinais de vida, nas ruas não haviam “Flars” ( que constituem um meio de locomoção através de tele-transporte ). A energia de alimentação físico-psíquica da cidade estava quase se esgotando.
Um enigma bastante enfático aumentava na medida em que os “cinco Lantes” penetravam na cidade futurística de “Sprels”, aqueles edifícios estavam altos como sempre, porém apagados, não apresentando mais aquela vivacidade de alguns meses atrás, os Lantes ficaram abatidos, mas prosseguiam a marcha montados em seus possantes cavalos negros, sempre no estilo de antigamente, como há muito tempo faziam. Desde os tempos remotos eles defendiam a insígnia de Lante um grande rei que viveu nos primórdios dos tempos. A chuva era forte, e com a ventania vieram escuras nuvens. Tiveram então que parar e se unir, para que não se perdessem naquela obscura cidade, à esta altura já estavam no centro, onde sabiam que se encontrava o prédio administrativo do gerador principal de energia físico-psíquica e que conforme os proscritos daqueles tempos era o único lugar em que alguém poderia sobreviver, pois todos dependiam daquela energia que emanava fraternidade e amor.
Sprels era até então a maior de todas as cidades, a que mais havia ganhado méritos e honras por acumular energia através do gerador principal, no entanto um maléfico pensamento sobressaiu-se em um dos funcionários daquele prédio, era este unir-se à Grauder um dragão das vindas do sul que trabalhava para deturbar pequenas cidades e sugar a energia que elas produziam. Um dragão verde que espirrava de suas sete narinas um fogo de coloração azul, não um azul qualquer mas que possuía um brilho que ofuscava os olhos de quem ousasse visualizar. Foi com o fogo de Grauder que se depararam os “cinco Lantes”, pois Grauder os esperava há um tempo determinado pois os havia visto enquanto encaminhavam-se à Sprels através das sendas dos secos campos que circundavam aquela cidade, o dragão tinha o tamanho de cinqüenta homens posicionados em uma fila e a altura de uma grande torre de captação de água, o que era um instrumento bastante utilizado naquela época pela escassez deste produto primário.
Não foi com fidalguia que os recepcionou Grauder, a própria escuridão fora incitada por suas maléficas pretensões. Após a escuridão houve um grunhido horrendo, que gelava o sangue, o que penetrou pela mente dos Lantes de maneira real e amedrontadora, pois eles não esperavam tal acontecimento, foram pegos desprevenidos por um mal que estava oculto, pois Grauder grunhia mas não se mostrava visível entremeado na escuridão. O ruído dos ventos mais a chuva que resvalava fortemente nos vidros dos prédios não os deixava discernir a direção de onde provinham aqueles ruídos maléficos e desejosos de uma violenta ação. Eles se uniram num circulo, ficando atentos à qualquer coisa que pudesse se assemelhar à uma sombra mais sinuosa ou mais escura que a própria escuridão. Viram então que o gerador de energia começara a funcionar, pois este quando funcionava começava a demonstrar luzes opacas amarelo-azuladas que faziam um contorno arredondado através de um aparelho estranho à qualquer um que não fosse técnico das artes de produção. Assim, mentalmente se comunicavam, eram telepatas já desenvolvidos, e disseram um aos outros suas conclusões à respeito daquele fenômeno:
- Acho que há algo ocorrendo no prédio.
- Claro! Creio que trata-se isto de breve luminosidade.
- Sim, se é o que estou pensando companheiros isto indica que o gerador começou a funcionar.
- Não! – Pensou Reliri o mais sábio de todos os Lantes – Isto indica que as forças misteriosas que ocupavam os espaços de produção do gerador não mais estão lá, pois este dá mostras de iniciar seu trabalho.
- Sim Reliri – Disse Laius o mais forte – Concordo com sua sábia teoria, mas temo ainda estes ruídos que nos cercam. De que se tratará isto?
- Das mesmas forças que saíram do gerador creio eu – Retrucou Reliri com todas as dúvidas que cercavam seus pensamentos, pois tinha receio de que aqueles ensurdecedores grunhidos fossem devido à algo que estivesse fora do alcance do poder que eles pudessem produzir.
Inesperadamente uma voz tão horripilante quanto aqueles sonidos surgiu em meio às trovoadas que se evidenciaram naquele momento:
- Sede benvindos cinco Lantes ao reino de minhas posses.
Evidentemente ficaram aturdidos com a introspecção daquele pensamento, mas haviam de fazer alguma coisa, e foi fato verídico que além de trovoadas haviam raios, era questão de segundos, mas durantes estes fenômenos da natureza conseguiam visualizar com parcial proporção as formas verdadeiras daquele ser tão temido e desconhecido, que era muito comentado nas lendas dos povos daquele país. Descobriram eles que Grauder não era somente um dragão maléfico como também uma criatura muito feia, sua coloração naquela noite era negra, e parecia possuir uma viscosidade já que durante os raios sua pele em determinada linha ficava reluzente. Havia grande contraste naquela cabeça enorme, pois deixava à mostra seus dentes brancos em meio à escuridão de seu rosto, os olhos brilhavam vermelhos e ora verdes, sempre num tom fosforecente, que somente agora notavam, e até na escuridão podiam ser vistos, somente quando ele piscava ou fechava os olhos os cinco Lantes perdiam a noção de onde estava ele, isto porque ele piscava muito lentamente transmitindo um torpor e melancolia à todo aquele que o olhasse diretamente nos olhos.
- Não nos sentimos em casa antigo dragão destas terras - Falou Lauren um destemido Lante – Pois tu acabaste com Sprels, a cidade que tinha o maior índice de energia em todas as circundâncias, assim não aceitamos qualquer palavra que seja provinda de vossa essência.
- Suas imprecações são ínfimas quando comparadas ao meu poder incomensurável Lante, e saibam todos vocês que Sprels é minha cidade, assim como todas outras aquelas que foram conquistadas por mim. A energia da qual me apodero serve-me de calço para minhas edificações.
- Qual a edificação que crias tu criatura? – Perguntou assombrado e extremamente inflamado com aquelas palavras - Não creio que tenha sequer preceitos para ousar dizer tamanha asneira, tuas intensões não são válidas para nossa sociedade.
- Como se vosotros cinco pudessem interferir de alguma maneira em meus planos, esta é a ousadia que utilizais para comigo?
- Sim Grauder! – Disseram agora os cinco em uníssono já que podiam por um conjunto harmônico falar desta maneira – Enxotamo-lo daqui neste momento: ou saia ou queira enfrentar a fúria de nossas espadas, que têm a proteção de nossos antecedentes: os reis dos primórdios dos tempos.
O dragão tendo escutado tal provérbio não se conteve e executou uma manobra de vôo bastante perigosa, pois a chuva que caia dificultava bastante suas habilidades no ar, subiu à uma altura considerável, acima dos edifícios mais altos do centro da cidade pretendendo descer de maneira bastante imperiosa, queria mesmo era esmagar os Lantes, mas estes não esperaram sequer um segundo pois logo no momento em que notaram os diferentes sons que se faziam produzidos pelas poderosas asas do grande dragão mesmo sem enchergar um palmo à frente de seus olhos desceram rapidamente de seus cavalos, mandando estes numa direção diversa no intuito de ludibriar os sentidos de Grauder.
Entraram no edifício de produção de energia físico-psíquica, e à esta altura aquela energia que se dispersava com pouca intensidade já fazia-se notar por evidenciar uma coloração bastante forte, que chegava a iluminar muito fortemente o salão principal, este salão estava impregnado duma sugeira e podridão que supostamente fora despendida pelo dragão, porém os Lantes não se ateram por muito tempo neste detalhe e procuraram alguma maneira de fechar aquele recinto, para que o animal não mais entrasse ali, com outras maquinarias que estavam dispostas cerca da porta já destruída, pois o dragão com todo seu tamanho havia destruído as laterais de uma porta que por natureza já era grande. Houve grande inutilidade nesta obra já que o equipamento era mais compacto que a energia de suas espadas pudesse transportar através do recurso que possuíam de telecinese, é bastante provável que todo aquele equipamento possuísse recursos internos de defesa, o tempo que fora despendido neste objetivo fora o sulficiente para que que Grauder descobrisse haver sido enganado por alguns cavalos, é evidente que os cavalos foram mortos pela fúria e esturpor do dragão que com sua flamejante chama transformou-os em um monte de pedras de gelo, pois este era um dos poderes que lhe era conferido. Todos os que viram ficaram horrorizados com a situação, disse todos porque nesta cidade ainda sobreviviam alguns poucos que nem fugiram tampouco foram mortos por Grauder, simplesmente vagam em busca de comida por lugares diversos da cidade. Neste momento se posicionavam em um dos edifícios, num apartamento que um dia fora um maravilhoso recinto, olhavam curiosos pela janela, mas ao mesmo tempo com medo de que o horrenda criatura sentisse o odor que deles era emanado, pois sabiam que o dragão tinha uma capacidade de percepção e distinção de cheiros bastante apurada.
Os cinco Lantes não tiveram tempo de antever a chegada do dragão, por isto quase tomaram o mesmo infeliz destino que seus cavalos. A chegada do monstro se passou num súbito ato, tão barulhento quanto desorganizado, pois este já imaginava que seus inimigos estariam bisbilhotando seu nicho de energia, ficara rubro de raiva e entrou naquele salão num golpe de extrema rapidez, porém pouco direcionado, trombando com uma gigantesca vidraça em forma de espiral, que carregava em seu interior um líquido amarelento extremamente venenoso, que corria no interior daquela estrutura espiralada como corre o sangue dentro de artérias e veias, a função daquele escabroso líquido não convém ressaltar neste momento, porém sabe-se que fez muito mal ao dragão, e que escorrendo por sua pele corroia-lhe não só a pele como também a alma, já que o líquido era um misto de energia psíquica com uma biosíntese física.
Fora por muitos poucos centímetros que os cinco Lantes não foram atropelados por Grauder, porém no momento em que viram o dragão em apuros saíram dali antes que o líquido lhes chegasse a atingir.
Foi com muita dificuldade que Grauder saiu do edifício de produção energética, cambaleando e se arrastando notou que havia se precipitado no intento de devastar seus inimigos tendo culminado num enganoso procedimento, porém era muito esperto e fingiu estar mais lesionado do que estava na realidade. Os cinco Lantes foram enganados pela esperteza do dragão, pois utilizando-se desta estratégia o dragão, aparentando estar extremamente aturdido, conseguiu arrastar-se perto o suficiente dos guerreiros de maneira que estando ele a uma distância calculada conseguiu atingi-los com seu fogo, expelido por suas sete narinas, o fogo a pesar de quente era congelante e mortal. Nenhuma espada os poderia salvar daquela situação, mas o dragão não esperava que pudessem eles possuir quaisquer poderes maiores que um homem comum, tardiamente se apercebeu disto. A telecinese foi contundente e precisa quando aplicada no próprio fogo do dragão. Foi instantaneamente congelado, tendo o fogo congelado como se continuasse aceso, pois o brilho que era dele despendido continuava iluminando, luminosidade que durou cerca de um minuto, graças a esta os guerreiros puderam ver com clareza a expressão de horror que o dragão fizera no momento de sua morte. Reliri então proferiu a seguinte frase:
- Que os antigos reis se apiedem desta criatura que tão malditos atos executou neste lugar.
- Sim meu amigo e companheiro – Complementou Laius com convicção e muita alegria nos olhos – Veremos agora se alguma claridade paira sobre esta cidade.
- Não sei, - Retrucou Laurem, que até agora se encontrava num silêncio pesaroso. – O gerador de energia está quebrado, são poucos os que sabem mexer com estas complexas estruturas, não me vejo tão otimista, ainda mais que Grauder sugou toda energia que este aparelho produziu, sem ele não funciona esta cidade que um dia fora de extrema beleza.
- Fique seguro de que o pior já se foi, haveremos de continuar nossos afazeres protegendo Sprels – Retornou a dizer Relirí.


CAPÍTULO II:
O SEGREDO DOS RANTANS

Assim depois de algum tempo considerável aquela cidade se tornou novamente um grande ponto de referencia para todas as paragens, mesmo após muitas gerações os feitos que foram agora descritos, tudo graças àqueles poucos indivíduos que a tudo testemunharam e espalharam a notícia a muitos lugares. Tornou-se um mito em que não se afirmava uma total veracidade, um verdadeiro feito heróico. As ruas passaram a ter nums escritos por elas, os nomes eram uma homenagem aos cinco Lantes, e foram escritos em energia, de modo que perambulavam por todas as ruas como para lembrar à todos de que um dia houve um ressurgir da cidade. Muitas praças foram adornadas por estátuas de ouro que representavam a vitória dos cinco lantes, todas lapidadas com a demanda de muito labor por grandes escultores daquele mundo. Uma das esculturas reluzia numa praça com uma beleza indescritível e representava respectivamente o dragão Grauder massacrando cinco cavalos, notava-se inclusive os detalhes de sofrimento que se mostravam visíveis nos olhos e nas retorcidas bocas dos cavalos, Logo ao lado da grande escultura havia uma placa de bronze em que se encontrava escrita a lenda, muitos iam à praça para saldar os guerreiros do passado, fazendo uma reverência específica com o braço e elevando os joelhos ( o que naquela época condizia como um cumprimento representando respeito e submissão ) e falavam em voz alta muitas coisas, dentre estas estavam os agradecimentos infinitos e inacabáveis.
Noutra praça encontrava-se a imagem lapidada do dragão sendo corroído pelo líquido energético, nesta o sofrimento era visível no rosto da abominável criatura, as crianças daqueles tempos gostavam muito das estátuas por ser a única coisa no ambiente que pudessem entreter-las, pois todo o resto era formado por tecnologias e parafernalhas eletrônicas. À elas os psis ensinavam as lendas, com as histórias elas ficavam maravilhadas acreditando em tudo e se emocionando, querendo saber de detalhes que não estavam transcritos nos documentos, com isto as histórias adquiriram personalidade próprias dependendo da região da cidade em que eram contadas. Em algumas chegaram a dizer haver existido 3 dragões e terem sido para isto necessário um exército de 400 homens para derrota-los, mas os documentos oficiais nunca foram perdidos, e ali se encontravam escritos muito mais antigos que descreviam os acontecimentos tais como se deveria crer. Não se contentando com apenas histórias Estevan um homem interado da estranha diferença entre a mesma lenda, que em cada lugar daquela cidade era proferida duma maneira distinta procurava uma maneira de saber qual o fato mais realista do passado. Entretanto os documentos que até agora nos referimos eram muito bem guardados pelo governo, e este guardava além deste muitos segredos não revelados à toda sociedade.
Estevan trabalhava como programador de maquinarias energéticas, e tendo ele certo dia entrado para trabalhar num órgão governamental teve a idéia de estudar todos os edifícios do governo, o que foi imprescindível para que ele entendesse o que passava nas instituições governamentais, decidiu soturnamente entrar num dos sistemas de água da cidade, este tinha contacto com o prédio de segurança onde acreditava estar o tão importante documento, assim de maneira escondida, numa noite tão escura e tenebrosa quanto fora a noite da grande luta entrou por uma intrincada tubulação, era um transmorfo aquático, ( Haviam naquela cidade diferentes raças vivendo em conjunto ) e tinha ventas ao lado do pescoço e abaixo das axilas, o que lhe permitia entrar naquele estranho sistema de distribuição de água.
Já conhecia como era aquele sistema, inclusive por haver roubado mapas do sistema de distribuição de água interno do prédio de segurança. Tudo funcionava como um tubo de água que transpassava pelo subterrâneo da cidade, com uma temperatura fria e desagradável, mas Estevan já estava adaptado por haver vivido certo tempo em lagos frios, não esperava que houvessem saídas de água para o centro duma outra esfera de energia, tendo com isto quase morrido, já que a energia sugara-o sem que o esperasse. A escuridão era estrema nos confins daqueles tubos, mas ele sendo um programador energético utilizou-se de um pequeno globo de luz avermelhada, que transformava aquela límpida água numa espécie de turva visão, não teve mais medo de nada, após ter passado aquele grande apuro. Os tubos daquele sítio eram transparentes como vidro sendo compostos de material de grande resistência, era possível visualizar a terra e as pedras que compunham aquelas profundezas da terra. Transpassou muitos quilômetros sub-aquáticos, quando julgou estar em um ponto premeditado percorreu um outro caminho que agora subia, seu corpo à este momento já estava muito gelado, sentia que perdia grande temperatura, não pensara estar tão despreparado para este desafio, já num momento de desespero quase ficou louco, mas seu inconsciente tinha grande contacto com o consciente então logo pensou que a melhor saída era manter a calma, pois se sua freqüência cardíaca estivesse baixa era mais provável que sobrevivesse à jornada. Deveria pensar positivamente, do contrário não poderia tampouco conseguiria manter aquela relativa calma com a qual mantinha uma boa freqüência cardíaca.
Foi de incrível surpresa quando a água daquela tubulação começou a se tornar de uma cor diferente e estranha à visão de Estevan, pois até aquele momento era avermelhada devido ao seu globo de energia que se encontrava em sua mão, mas agora era ora alaranjada ora um verde extremamente escuro, em que seu globo não conseguia interferir, isto a ele assustava pois seu aparelho tinha grande potencial, logo pensou não estar a água mudando de tonalidade mas sim haver passado despercebidamente por algum orifício em que estivesse entrando outro líquido. O qual não sabia a origem, e conseqüente não sabia ser salutar ou maléfico, por momentos inclusive desconfiou ser defesa à intrusos, mas logo retificou seus pensamentos achando ser esta idéia utópica.
Uma mudança inesperada, porém não era somente a cor da água que mudou como também sua temperatura. O que se via ao redor eram pedras e terra que se encontrava do lado de fora da transparente estrutura, Estevan ingenuamente esperava entrar logo em uma das partes do prédio de segurança conforme planejara, disse ingenuamente porque que os mapas não correspondiam exatamente ao que era a realidade, pois entrara ela numa zona que jamais ao não ser as autoridades mais superiores do país haviam explorado. Notou que de maneira gradativa a terra e pedras se afastavam do túbulo no qual perpassava, uma estrutura metálica gigantesca sustentava o tubo de maneira que num determinado momento ele se viu a uma altura incomensurável com relação ao solo, mas não sabia exatamente onde se encontrava, neste momento o torpor de alguém que se perde tomou-lhe espaço na mente. Sabia que o teto daquele estranho lugar era a própria terra de que eram compostas as profundezas da terra. Conseguia visualizar na eterna distância que o separava do solo um ambiente de floresta, com gigantescas árvores, ora mergulhava olhando para baixo oura para cima, por vezes via pássaros tão grandes que suas garras podiam com perfeição agarrar o tubo completamente como se fosse um galho, estes pareciam descansar acima do tubo. A corrente o levava para lugares nos quais jamais imaginara existir, um ambiente bastante iluminado, do próprio tubo, incrustadas nas estruturas metálicas que o sustentavam partindo de todos os lados haviam imensas luminárias energéticas que eram fortes como um sol e que cegavam a quem as olhasse diretamente, porém que não produziam qualquer calor, Estevan fechou os olhos muitas vezes para poder atravessar estas partes, este era um sistema de energia que desconhecia.
Noutro momento a água se apresentou com grande turbulência fazendo com que nosso personagem se debatesse diversas vezes contra as paredes, não se conteve em amaldiçoar a si mesmo por haver intentado aquele feito tão impensado, mas logo não pode sequer pensar, pois tamanha era a turbulência da água que a cada momento recebia pancadas diversas, preocupando-se unicamente com a cabeça e com guardar a salvo seu globo de luz, porém esta preocupação era ínfima com relação ao que viria acontecer, pois aquele túbulo era um sistema de distribuição de água à um longínquo lugar, lugar desconhecido à toda a sociedade, menos à poucos seres mais poderosos e reis mais sábios. Muitas milhas abaixo da terra e outras tantas longe da cidade de Sprels. Consta que este sistema de água formava mais adiante uma magnífica cachoeira, esta caia por três quilômetros até chegar à um escuro e profundo lago, donde vivia uma sociedade de índios primitiva ao redor.
Estevan de repente viu-se livre, caindo de uma assustadora altura, sua dificuldade passou-se em ter de rapidamente mudar de tipo de respiração, pois este processo era lento e requeria uma técnica de gradual velocidade. Assim quase morreu sufocado pela própria sorte, mas foi com isto que salvou-se pois se ficasse naquele túbulo por mais tempo morreria de hipotermia, Por muito tempo caiu, olhava para baixo em meio à toda aquela água e conseguia distinguir um grande lago negro, mesmo com terror de morrer na queda procurou controlar seu temor. Sendo ele um nadador nato não ter dificuldades com o mergulho que precedeu a queda, mas estava contundido, tanto com a queda como com as turbulências que o fizeram trombar com as paredes do tubo. Estava num estado mental muito perturbador, pois pedia-se em devaneios quanto a realidade ou o sonho, já não mais sabia se vivia ou perpassava uma situação diferente do que fosse definido como viver. Quando emergiu à margem da água a primeira coisa que se ouviu foi uma alta tosse, contínua e forte, começou agora a nadar pela margem da água de maneira desesperada, respirava com a cabeça para fora d’água. Quando chegou à margem daquele lago arrastou-se à um canto mais seguro perdido em seus pensamentos, pois neste momento seus raciocínios não eram claros e caiu vencido por um cansaço de extrema intensidade.
Despertou momentos depois cercado de índios, estes primitivos portavam lanças, e arcos com poderosas flechas, mas um sobressaía-se por trazer consigo uma arma até então desconhecida, assim Estean a julgava ser. Os nativos o amarraram com alguns cipós e o levaram até mais para dentro da mata onde havia uma sinuosa trilha. Eram negróides de força incomensurável, pois carregavam uns apetrechos feitos de pedra nos quais incrustavam-se diferentes inscrições, dentre estas se destacavam desenhos de figuras muito feias, pareciam figuras de macacos. Estevan não proferiu uma só palavra, apenas ouvia um estranho dialeto falado pelos aborígines, seus pensamentos ainda estavam torpes, não conseguia distinguir o real do imaginário, e por vezes tinha lapsos em sua mente de um grande Dragão verde escuro, insights que penetravam em sua mente ora este dragão era visto numa distância considerável voando numa escuridão profunda ora seus olhos vermelhos e malignos apresentavam-se-lhe tanto na imaginação como no sentimento, sentimento este que era de medo e pavor.
Não conseguia com clareza saber onde estava, mas na realidade andava por aquela trilha atado nas mãos e levado à força à uma tribo das cercanias.
Sentiu a força de Grauder em seu sangue, pois este ainda vivia ao contrário do que todos da antiga sociedade vivia, os índios o haviam ajudado a ressurgir, o fogo azul que ele expelia certamente era mortal, porém seu coração era tão frio como o amargo veneno de que si saia, assim ele não morreu, mas congelou-se, bastava que um calor derretesse aquele gelo que ele retornaria à vida.
Eis que naquele tempo uma primitiva sociedade, antes que ocorresse a reurbanização, encontrou o dragão prostrado como uma gigantesca e pesada pedra de gelo, desconheciam os feitos do dragão, mas logo imaginaras Grauder como uma espécie de deus e o recorreram levando para as profundezas da terra donde há algum tempo viviam. Utilizaram-se de muita magia para conseguir isto, pois o peso daquela gigantesca estrutura era verdadeiramente incomensurável, tendo eles mestres e artífices da magia transportaram-no por completo. Já posicionados em seu território cantaram louvores ao dragão, despertando primeiramente seu pensamento, após isto começaram a receber mensagens mentais de seu futuro dominador. Estas foram a própria liberdade do dragão pois este os ensinou que poderia ser liberto com a luz de Chaug e a troco disto os daria a proteção, vãs palavras do dragão que não passaram de meras promessas para retornar à superfície e tentar mais tarde dominar às cidades que tinha desde sempre muito apreço. Os aborígines, que na verdade eram por eles mesmos denominados Rantans, acharam num lugar bastante inesperado a luz de Chaug, esta estava enterrada na mais obtusa e esperada lápide daquelas paragens, a lápide de um dos antigos Lantes, conforme as indicações do dragão roubaram a pedra e derreteram o gelo que prendia o dragão, no entanto este ainda se encontrava fraco, pois toda a energia que houvera consumido em tantos anos de poderio totalmente usurpada das cidades da superfície havia sido degradada com o passar do tempo.
Assim, quando Estevan chegou à tribo viu o imenso dragão deitado num gigantesco ninho de pedra, nas quais encontravam-se estranhas estruturas ligadas à ele, se encontrava em processo de retorno, portando não tinha o mesmo poder de antes, porem sua prepotência era tão grande ou maior que a dos antigos tempos. A conversa que se seguiu fora perigosa, com cautela Estevan conseguiu persuadir Grauder de algumas mentiras que proferiu, isto porque Grauder não imaginava que fosse possível que outras raças viessem àquelas paragens que não fossem Rantans os aborígines.
- Quê queres aqui criatura? – Disse o dragão com relativa tranqüilidade, tranqüilidade esta que mais se assemelhava à uma morbidez e desinteresse que outra coisa.
- Não tenho quaisquer interesses concretos ó honroso dragão – Disse Estevan tentando esconder seu escárnio por aquela maligna criatura.
- Não tens nada como objetivo nesta vida?
- Apenas vago nestas paragens, mas se queres realmente saber há muito tempo vivo só – Neste momento vacilou, gaguejando por um breve momento pois parou para pensar, o que passou despercebido pelo dragão já que este estava num estado de fraqueza e desatenção. – Lhe digo que honro estar diante de vossa presença, já que tenho sabido através das antigas histórias, tua sabedoria e de teus grandes feitos ó grande Grauder.
O dragão logo sentiu-se lisonjeado com tamanha desenvoltura, mas não sabia que tudo fora uma cabal representação, tão perfeita quanto era o medo que sentia Estevan neste momento. O dragão decidiu então adotar Estevan como um de seus prediletos conselheiros, pois dentre seus planos estava o de criar um exército para que o auxiliasse na conquista das terras da superfície. Não viu porém que havia uma cobra bastante venenosa em seu próprio ninho, cobra esta que auxiliou na salvação do novo mundo.
Tudo se passou de uma maneira que o dragão adquirindo cada vez mais confiança em Grauder se via cada vez mais forte, os Rantans igualmente passaram a confiar em Estevan e lhe deram um lugar de honra e prestigio, adquirindo assim um lugar de grande eminência na tribo.
Até então Estevan não sabia como sair daquele lugar, pois o que mais lhe preocupava era poder avisar à seus condescendentes de que o dragão estava vivo, vivo e cada vez mais recomposto. Tentava de maneira sutil adquirir cada vez mais informações sobre onde estava. Todos acreditavam que ele era um destemido perdido das paragens do oeste, de onde já haviam visto surgir seres de outras raças. Foi pouco a pouco que ele conseguiu destrinchar o enigma daquele lugar, pois era totalmente inacessível dependendo de uma única redoma de energia, que fornecia tudo aquilo que eles poderiam ter disponível, tanto a luz como a natureza que os circundava. O grande perigo estava na possibilidade que tendo o dragão se restabelecido por completo iria certamente diretamente para este globo energético, sugando sua essência e acabando com toda vida que há naquele lugar.
Mais tarde ficara sabendo Estevan que este globo de energia fornecia grandes tomos de força para uma máquina teletransportadora, que era a responsável para a passagem desta para a parte superficial do planeta, ficou satisfeito com a descoberta, e saindo certa vez a passear com um suposto amigo daquela outra estranha raça disse-lhe em seu próprio dialeto ( Havia aprendido este ) que queria conhecer a magnífica maquinaria. Foi levado até lá, chegando lá conseguiu através de seus conhecimentos fazer com que funcionasse o teletransportador, num ímpeto de fúria e violência puxou consigo aquele indivíduo fazendo com que ele fosse junto ao outro plano. Surgiram depois de uma desagradável sensação de vazio no corpo nas planícies secas e desertas das proximidades de Sprels, onde lá houve uma estrondosa luta, em que ninguém venceu, apenas fizeram-se cansar um ao outro, tendo quase esgotado a energia física dos dois. Esta luta é muito maior do que eu posso imaginar! Pensou Estevan enquanto corria em direção à cidade de Sprels, o aborígine ainda correu em seu encalço, mas de maneira inútil pois caiu prostrado no chão sem forças para mais nada.

CAPÍTULO III:
O HOMEM QUE NINGUÉM SABE DE ONDE VEIO.

Estevan foi correndo à cidade, porém seu estado físico estava horrível, não somente por causa da luta como também por todos os dias que conviveu naquela situação com os aborígines, comendo coisas diferentes, como estranhas e amargas raízes, plantas exóticas ou folhas salgadas e com fortes odores. Servindo à Grauder prestando-lhe favores e ganhando sua confiança. Sua barba já estava muito comprida, estava magro e muito branco, já que ali não havia sol mas aquela desconhecida luminosidade. Quanto tempo houvera passado aí? Dois meses talvez... Estava em estado de grande euforia pois finalmente tinha a oportunidade de comunicar uma grande verdade aos compatriotas que estimava.
Passou então que tendo Estevan chegado à cidade correu diretamente, como um condenado ou escravo que aparentava, correu em busca do setor administrativo, onde chegando correu a avisar que havia um ser duma raça inimiga à espreita perto da cidade, referindo-se ao indivíduo com o qual se debatera. Não falou das coisas maiores pois sabia que desta maneira não acreditariam nele, mas que deveria ter uma maneira mais concisa para fazer este comunicado tão importante, isto mesmo que disse demorou a ser assimilado, e quando o foi fora registrado mas logo esquecido pois todos desacreditaram a ocorrência, somente ele sabia que aquilo era uma realidade mais que perigosa, talvez os homens atualmente estejam tão demasiadamente acostumados com a paz que não podem sequer imaginar a deturpação e o caos com os quais eu convivi durante tanto tempo.
A paz é portanto um principio de relativa segurança, pensou ele enquanto prosseguia para sua residência, que se situava no último andar de um maravilhoso prédio, adornado de belas pinturas em seu interior. Enquanto olhava as pinturas pensou: Vejo que há grandes forças atuando para que o mal se estabeleça neste lugar, porém aqui tudo parece tão perfeito que nada se transparece dos obscuros confins do subterrâneo. Assim vejo que a realidade pode esconder realidades ainda maiores dentro de si, assim vejo que a realidade não é real, mas sim uma maneira distorcida de viver.
Em meado em seus pensamentos Estevan não percebeu que todos ao seu redor o olhavam pasmados, pois estava com muitas contusões devido às lutas e aparentava estar muito mais velho do que na realidade era, por sua barba estar exageradamente crescida. E por estar com uma pele muito mais ressequida que o comum já que fazia muito tempo que não tinha contacto com a água. Alguns que o viam subir as escadarias do edifícios ficaram aterrados com a visão achando aquilo um desrespeito à moralidade do povo de Sprels, outros riam ironicamente pois pensavam ser uma piada ou brincadeira qualquer, as crianças começaram a unir-se à Estevam, ficavam perguntando centenares de coisas à ele, ele estava demasiado cansado para poder responder qualquer uma delas e se mantinha em silêncio, utilizando sua energia apenas para subir as imensas escadarias, elas também puxavam seus trapos e farrapos fazendo jogos e algazarra ao lado dele.
Chegando em sua casa olhou pela janela e visualizou uma das praças da cidade, praça esta que possuía uma das gigantescas esculturas construídas em homenagem aos cinco langs, esta era aquela em que Grauder esmagava os cinco cavalos com sua face de furor, e em que os cavalos demonstravam um incomensurável sofrimento. Neste momento pensou em qual seria o poder real deste dragão, pois somente o havia visto da maneira pacata, não sabia de maneira prática como se portava sua voracidade, mas já tentava antever e prever de maneira imaginativa, por momentos devaneou sobre possibilidades e mais possibilidades do que poderia nos futuros meses ocorrer com sua cidade e seu país, ficou consternado com suas próprias idéias, nem notou a presença daquelas crianças que haviam entrado juntamente com ele em sua casa e puxavam-no como querendo brincar com ele, pois nunca havia acontecido algo de sorte tão diferente como a presença de um indivíduo aos trapos nas ruas da cidade. Foi dormir, não porque tinha sono, mas porque estava demasiado desgastado de tantas agruras, as crianças foram embora e o deixaram em relativa paz, contaram a novidade aos colegas da escola e logo a notícia se espalhou de maneira bastante estranha, pois somente as crianças comentavam que havia na cidade um homem bastante diferente, descreviam então as vestes em todas as suas nuances: falavam do olhar cansado, da mudez do personagem real do qual falavam, do modo indefinido e perplexo como ele olhara a estátua de Grauder e de seu cansaço. Então se perguntavam de onde poderia ter vindo este homem. Queriam saber onde se encontrava esta figura, logo Estevan ficou muito conhecido entre as crianças. Era chamado de: “O homem que ninguém sabe de onde veio”, então muitas se agrupavam em turmas das mais variadas idades e decidiam fazer uma excursão à casa de Estevan, começaram depois de alguns dias a levar presentes dos mais diversos. Estevan era bastante receptivo, e com as crianças passou a se relacionar com tamanha desenvoltura que bastou isto para que criasse uma pequena tenda de jogos em sua casa, tudo se passou de maneira bastante natural, pois da mesma maneira que as crianças sentiam-se atraídas por um sentido de aventura que provinha deve ele sentia-se feliz por elas terem entendido que ele havia vindo de desconhecido lugar. O que acontecia entretanto é que os adultos o olhavam com desconfiança, e logo este sentimento se transformou em escárnio mesclado com um tanto de inveja de sua facilidade para lhe dar com as crianças da cidade, mesmo que se sentissem assim era antagonista o fato de que gostavam de deixar que suas crianças o visitassem e até lhe dessem presentes.
Nas profundezas de sua mente Estevan era acometido por lapsos do que julgava serem falsas memórias, ou algo similar. Eram lembranças que vinham entrecortadas no decorrer do dia, que não tinham nexo em sua grande maioria tão confusas que mexiam com seu próprio raciocínio, confundindo-o de sobremaneira, tamanha era a influência destes acontecimentos que Estevan poderia estar num ambiente silencioso e começar a gritar ou dizer consigo mesmo frases confusas, este foi inclusive, mais um fator que contribuiu para sua má fama que levava com as pessoas que o viam ou presenciavam tal situação.
Estas lembranças fragmentárias começaram a ficar cada vez mais freqüentes de tal maneira que posteriormente houve um sentido de unificação de todas as idéias, custou a entender qual era a história total, mas depois conseguiu traduzir tudo, julgava ele que havia tido um sonho deveras particular em que fora apoderado dum sentimento bastante realista, sonho este que foi matéria para muitas citações por ele ditas em suas histórias que contava para as crianças nos momentos em que elas o visitavam.
Estevan escondia a verdadeira face de seus íntimos receios, tinha na verdade muito medo de que o plano de Grauder fosse posto em ação, não bastava viver aquela dúbia sensação, ele deveria certamente tomar uma atitude drástica ou tudo acabaria por se desfazer, para a sociedade ele era imoral por haver caminhado nas ruas de maneira estranha e diferente do normal, mas para ele havia algo mais que pequenas diferenças de vestimentas, e este era o perigo que os circundava.

CAPÍTULO IV:
LAPSOS DE SONHO

Naquela noite em que dormiu ao chegar à Sprels sonhou com os cinco Lantes, seu sonho foi bastante claro, era como se ele realmente estivesse estado naquele lugar com o qual sonhava. Tudo era negro no início, logo viu que se encontrava em um prédio bastante alto, não era sua casa, mas percebia que vivia ali, tudo estava escuro, não o suficiente para que não pudesse ver que ali havia outras pessoas e que tudo se encontrava em decadência, comiam o que encontravam nas escassas reservas de alimento da cidade que estava em deplorável estado, acordou de súbito, acordou no sonho e não na realidade, viu seus companheiros, todos se prostravam em total silêncio em uma janela, levantou-se assustado e olhou para fora, onde intensa chuva dominava o céu, foi pavoroso quando presenciou o próprio momento em que os cavalos foram massacrados num ato do dragão Grauder, teve ímpetos de lançar maldições diversas ao dragão, contudo manteve-se em silêncio como seus companheiros pois Grauder poderia perfeitamente ouvir estas e direcionar-se à eles. Noutra parte do mesmo sonho porém diversa estava ele sentado numa mesa de ceia juntamente com muitas famílias, todos falavam da morte do dragão e comemoravam tal feito com grande felicidade, estavam ali inclusive os cinco lantes, Reliri, o mais respeitado dos Lantes levantou-se da cadeira posicionando-se acima de todos a fazer uma palestra e dizendo da seguinte maneira envolveu à todos:
- Aqui nos encontramos todos reunidos descendentes e forasteiros de Sprels, vos direi que é de grande honra a frase que diz que tudo está acabado, o dragão funesto foi destruído e a partir de hoje será erguida uma nova sociedade, a cidade de Sprels será reerguida para o caminho da paz e reconstituiremos tudo aquilo que fora destruído pelo dragão.
- Muito bom! – Gritaram todos enfaticamente, entre aplausos e urros verdadeiramente enternecidos.
- Não vos direi muitas coisas mais sobre os detalhes pois sabeis tão bem quanto eu que há muito labor a ser empreendido, mas que o povo com grande coragem será vencedor, não falta muito para que outros cheguem aqui e queiram ajudar-nos a retornar num ambiente ativo e salutar, vamos então brindar um recomeço e dar vivas ao que será uma grande potência energética...
- Fantástico! Fantástico! – Gritava um homem muito gordo de maneira frenética quase que fanática, que estava até então enfurnado num dos cantos daquela sala comendo um grande pedaço de carne, atrapalhando o palestrante que ficara evidentemente consternado com a patética intervenção na metade de suas colocações.
- Como dizia eu – Retornou a dizer Reliri com bastante indignação e afetado pelo indivíduo gordo da suculenta carne, já olhando-o com o canto de seus olhos como que avisando-o indiretamente do crasso erro que cometera interferindo em sua conferência - Criaremos aqui um futuro para ser comentado por muitas e muitas gerações. Talvez nós nunca sejamos sequer lembrado por tudo o que fizemos, mas que fique certo que nossa atuação foi estritamente necessária ao início de um novo alvorecer.
- Magnífico! Poético! – Gritou o mesmo gordo, agora já com o dobro de empolgação que da vez anterior, já demonstrando que não percebia a importância da reunião ou mesmo que já se deixava levar por uma grande e volátil desmensurada alegria.
- Per favore amigo! – Disse agora de maneira concisa e direta Relirí, mostrando-se bastante inflamado com o gordo - O senhor interfere de maneira extremamente negativa em minha palestra, se acaso ainda não tens noção de tua atitude terás de pagar um preço bastante caro. O preço será evidentemente a tua própria vida, pois a importância desta conversa que estamos agora colocando em vigor é de alta precisão para a construção de um novo amanhã. Peço agora que tenhas a bondade de conter-se para que não venha a provocar o torpor nas mentes alheias.
- Bravo! Grande colocação! Eia! – Continuou gritando o gordo com a voracidade de um homem fora de seu estado normal, inclusive bebia ele um misto de bebida com substâncias alucinógenas, bebida que nesta época era bastante comum, porém que tinha ocasiões específicas para ser ingerida, ficando ilícito tal beberagem numa reunião de tamanha magnitude.
- Homens e mulheres de toda a super vivência, esta conferência, vos direi – Iniciou Laius demonstrando uma inquietude bastante evidente no olhar – Trata-se de algo mais importante que pensais, pois aqui se encontra alguém que cuja a importância supera todas as nossas possíveis cogitações, esta pessoa não é como quaisquer um, possui um poder que foge à nossa compreensão, ainda há o fato de que por muitos passou despercebida.
Laius levantou-se de súbito, empurrando a cadeira para trás fazendo um ruído desagradável à todos, começou a vasculhar com o olhar à todos que se encontravam na mesa. As pessoas olhavam-no com curiosidade e expectativa tentando decifrar e entender o que havia dito. Num ato extremamente violento Relirí, que se encontrava na ocasião com uma batina branca e outra azul por baixo que deixava transparecer, com sua face bastante rugosa e morena, desgastada pelas intempéries das aventuras e dos saberes puxou Laius ( que era muito musculoso e de ombros largos ) com força para que sentasse novamente, levantando-se ele e dizendo à todos.
- Não sejais tolo caro amigo Laius, possuís a força de um leão, mas não sabes que assim nunca encontrarás nosso estimado salvador. Há de se concentrar num silêncio maior que todos, aquele em que se ouve a tudo. Será assim a vontade de Grande Lang que há muito aqui viveu. Todos ergam-se de seus assentos por favor, vamos nos concentrar em silêncio e olhar um nos olhos dos outros.
Assim todos procederam, inclusive Rasbfut, a qual era respectivamente a designação daquele gordo dopado e repelente levantou-se seguindo a atitude de todos porém pensando ser aquilo um jogo ou brincadeira em que dever-se ia ficar em pé equilibrando-se acima da cadeira, por isso o fez não compreendendo por que os outros não subiram. Todos se concentraram por um momento em que fora impossível incluir numa linha de tempo definível já que havia um estranho poder de hipnose talvez aplicado por Reliri, metade dos presentes conseguiram ver uma silhueta bastante oculta e semiobscura entre os presentes, tratava-se de Estevan, que executava a mesma atitude, mesmo sem compreender totalmente de quê ou de quem falavam. Certamente desconfiava de algo, que a princípio era uma escassa hipótese: a sua própria pessoa, sentiu que em si havia uma importância que deveria ser revelada, como que de maneira controlada pela própria sorte iniciou uma palestração nestes termos:
- Aos que me conseguem ver mostro a visão de um porvir não ainda vivenciado, aos que somente me escutam tenho novas de grande importância, que por suposto não podem ser ignoradas. – Alguns olhavam-no diretamente nos olhos, mostrando que o encontraram, outros olhavam em seus respectivos olhos continuando naquele solene ato de concentração – Como podem já concluir venho de longínquo tempo, em que Grauder já está supostamente derrotado: Congelado por seu próprio veneno. No entanto tudo não passa de uma grande pantomina, pois o gelor foi derretido e o dragão retorna à vida.
- Quê haveremos de fazer então homem das premonições? – Perguntou Reliri, dando mostras de que conseguia ver e ouvir a imagem.
- Há um lago distante, numa civilização submersa por muitas terras, havereis de encontrar uma pedra chamada luz de Chaug que nas profundezas deste lago poderá estar. Mas cuidado... Há nas entranhas da terra outras civilizações procurando pelo mesmo objeto de poder.
Rasbfut caiu inerte em cima da mesa vencido pelo cansaço, espalhando uma pasta juntamente com as beberagens e comidas por toda a mesa, já que quebrara três grandes jarros de barro na queda, os circunstantes ficaram indignados com a ocorrência, pois suas roupas se mancharam de todas as sortes de alimento, todos se uniram num grande mutirão para conseguir levantar todo aquele peso dormente e o retiraram da mesa. Estevan notou que no momento em que finalizaram esta tarefa todos sumiam gradativamente, surgiram ecos em sua mente e se viu desnorteado, como se o mundo girasse em torno de si até que despertou, lembrando-se do sonho com tamanha perfeição que pensou o haver vivenciado.
Uma enorme gama de sensações e sentimentos perpassaram pela mente de nosso personagem, pois havia ele indicado Àquele conselho qual seria a única maneira de impedir que o dragão estivesse ativo. Nada mais estava confuso em sua mente, pois perpetuava em sua consciência de que negando ou não havia ele feito uma viagem à um tempo remoto, não entendia com exatidão detalhes precisos, mas decerto sabia que presenciara a derrocada de Grauder, naquele momento tinha a impressão de que os cinco Lantes haviam posto fim à perversidade de Grauder, entretanto tudo passou de vão labor, já que uma pedra de poderes desconhecidos ressuscitou o Dragão. Forças iriam atuar para que tudo se desconcertasse de tal maneira que o mal ressurgiria um dia, porém por motivos maiores havia ainda uma salvação, esta vinha de Estevan que num futuro longínquo trouxera uma nova informação, nova mas ao mesmo tempo assustadora pois até aquele momento tudo se encontrava em relativa paz: uma nova cidade estava sendo idealizada.

CAPÍTULO V:
À CAMINHO DE BREMER

Grande interferência sofreu a reunião, que poderia até ser considerada como uma vigorosa comemoração de uma renovação da cidade, não obstante aquilo se transformou em um ambiente de calamidade e confusão, pois após a mensagem que alguns receberam de Estevam ficaram consternados com a real situação. Não somente Rasbfut caiu na mesa como outros perguntavam que havia ocorrido ou de que se tratava aquilo, alguns poucos que conseguiram ouvir e captar a mensagem entreolharam-se de maneira que sabiam propriamente qual era o exato problema que teriam pela frente.
Seriam convocados os cinco lantes à uma nova reunião, juntamente com os convivas que daquela haviam participado, nesta decidiram que haveria de procurar o tal lugar no qual estaria a solução. Estando Rasbfut em sã e plena consciência, situação na qual se portava de maneira totalmente antagônica à que se refere quando se apraz com aperitivos conciliado com suas favoritas beberagens alucinógenas, falou:
- Sede bem vindos à minha humilde e pequena casa Lantes, sabendo eu que sois merecedores das maiores honras que um ser possa oferecer concedo como aberta esta reunião, que visa o aprimoramento dos conhecimento que queremos ter sobre as forças do mal, digo ainda mais meus caros companheiros: no íntimo de meus receios está em evidência aquilo que diz que tudo isto não passa de uma farsa, uma mentira criada pela simplória ilusão de nossas mentes. Pois as visões que foram apresentadas à alguns na noite passada ( se referia à outra reunião evidentemente ) foram de certa forma dúbias...
Antes que o gordo e afável Rasbfut finalizasse seu extenso discurso Reliri interferiu um tanto enfadado com o exacerbado modo de interpretar as verdades pelas quais estavam todos passando naquele momento:
- Honro com todas as pompas que possa eu e meus quatro companheiros apresentar ao senhor Rasbfut – Disse ele, mesmo estando ele pensando o quão leigo era aquele indivíduo em se falando de problemas e visões, apenas não queria contrariá-lo no intuito de não rergogitar quaisquer discussões contra ele, já que do contrario seria a reunião levada à falência. – No entanto julgo as visões recebida por alguns na ultima reunião de supra importância para que possamos agora definir nova estratégia amigo e companheiros ouvintes.
- Claro, claro... – Retrucou Rasbfut sentindo que havia sertã contrariedade no olhar severo de Reliri – São importantíssimas as informações recebidas no dia de ontem, mesmo que falsas possam ser, se não se valem todos os companheiros da observação que faço aqui podem muito se enganar com tudo o que possa advir, não me restringirei somente a dizer que pode tudo vir a falecer com um caminho incerto senão pesaroso, digno de grande tristeza: pois aqueles que trilham por caminhos duvidosos e incertos podem vir a morrer pela falta de certezas da vida.
- Não sejas tolo! – Gritou Jalitre, um guerreiro de vontade, extremamente consternado com a inviabilidade de teorias que era parte daquele homem, cujo valor julgava estar muito aquém de sua pessoa. – Não vês que foi tudo muito real? Todos aqui sentem que o perigo é eminente, e circunda de alguma maneira nossa preciosa cidade, que neste momento se encontra em reconstrução. Por isto digo a ti e à todos aqueles que queiram ouvir, não com os ouvidos senão com as verdadeiras faces da essência, com o coração. O que realmente deve constar como principal preocupação é descobrirmos donde fica este tal lago no qual disse estar uma pedra nosso salvador.
- Pois então não se recordam das frases anteriormente citadas? – Perguntou à todos Reliri.
- Não sabemos e tampouco temos interesse nisto, mas sim de começar esta ceia que a tanto espero chegar! – Disse o gordo extremamente contrariado e com asco de todos por considerarem suas profusas idéias nada mais que inócuas e invalidas, e rememorando que sua pança já pedia por algo que pudesse lhe acalentar o estômago e esfriar a mente .
Reliri desconsiderou os comentários daquele inoportuno condescendente e assim prosseguiu:
- Nas profundezas de nossa civilização se encontra um lago em que se insere importante pedra, ontem pensávamos ser estes tempos o ressurgir de uma nova civilização, meramente em vão, já que hoje sabemos haver muito a fazer, àqueles que se dispõe à seguir nossos passos lhes dou vivas e honro todos com as mais glamourosas canções de união, àqueles que desacreditam que isto devemos encontrar os informarei que estais invitados a sair do grupo agora mesmo.
- Assim está dito e assim será – Disse Laius o forte, conciso em suas palavras.
Alguns incrédulos levantaram-se se levantaram ( mesmo antes que fosse servida a comida ) e saíram daquela casa naquele mesmo momento, outros ficaram, dentre estes está Rasbfut, que tinha todos os pressupostos para que fosse embora, não se sabe, entretanto se ficou por esperar a refeição ou se julgando estar neste direito por ser esta sua casa, alguns acham inclusive que nem prestara atenção às últimas palavras de tão entretenido que estava com seus pensamentos a respeito de que poderia sua cozinheira haver feito para degustar, pensamento com o qual sempre que vinha à sua mente ocupava-lhe por completo a massa encefálica.
Dentre aqueles corajosos que quedaram na mesa estavam os cinco Langs mais três, que eram respectivamente Jalitre, Rasbfut e Quemet. Os nomes dos Langs eram: Reliri, Laius, Lauren, Esni e Spangrir.
Um total de oito guerreiros que discutiam numa mesa o futuro de toda uma sociedade, desta discussão o porvir estaria definido, como assim o foi feito, interpretaram a poética premonição como real perigo e recalcitraram sobre o assunto de tal maneira que decidiram sair em uma comitiva conjunta para os ermos daquela cidade, num longínquo lugar poderiam descobrir algo que fosse representado e que condizesse com profundezas da terra.
Todos em negros e esbeltos cavalos saíram numa fria manhã de inverno aos recônditos mais distantes que pudessem imaginar. Ocorreu-se-lhes que encontraram nestas distantes paragens uma bela cidade, cidade na qual todos os edifícios eram ornados com diamantes e prata, os diamantes eram de incrível proporção, chegando a formar grandes monumentos, reluzindo com o sol. Esta cidade muito ao contrário de Sprels estava em sua maior plenitude, seu nome era Bremer. Tão linda que todos os guerreiros ficavam embasbacados, era reluzente como um sol, e enaltecia profundos sentimentos à noite, quando seus diversos lagos, distribuídos através de muitos bairros mostravam-se belos como espelhos, refletindo todas as estrelas do céu. Havia inclusive grandes construções compostas totalmente de diamantes, eram estas semitransparentes, reluziam dando resposta à luz do sol transmitindo todas as cores que se possa imaginar quando este cingia sobre estas magníficas edificações. A população deste local era bastante amigável, falavam o mesmo idioma que os Sprelenses, eram ainda receptivos e bastante comunicativos, por isto tiveram bastante sorte os guerreiros de recair justo nesta cidade que até então desconheciam totalmente.
Talvez fossem estes habitantes pouco mais altos, seus olhos sempre brilhavam quando falavam, isto pareceu-lhes muito estranho, pois era como se uma luz fosse emitida de maneira que os olhos dissessem mais que as palavras. Os guerreiros ficaram maravilhados com a magnificência da cidade, logo que chegaram com seus negros cavalos pararam à beira de um translúcido lago para que estes se saciassem com a água que momentos antes encontravam-se paradas como não houvesse qualquer vento no local. Os cavalos se embebiam, estando neste momento reconfortados após dura e penosa jornada através dos ermos, os guerreiros porém buscavam saber onde estavam, tinham consciência da influência que aquele belo lugar exercia sobre eles, estavam de certa maneira hipnotizados por tamanha beleza. Uma noite passaram ao relento, sem comer qualquer coisa, apenas sentindo-se estranhos em terra desconhecida, no dia que se seguiu entraram numa construção tão alta quanto a visão lhes permitia enxergar, esta era uma torre de estruturação central, à qual os Bremenses denominavam como “Base de comendo”. Muita sorte tiveram eles por adentrar neste recinto, já que foi aí que conseguiram a permissão para conversar com o “Gran ministro Uranj”, que supostamente comandava tudo aquilo que se referia às necessidades organizacionais da cidade. A suposta conversação que se passou entre a comitiva e este honrado senhor, porém importante é ressaltar algumas circusnstâncias que se passaram em momentos antes que isto se consumasse, tudo isto para o devido esclarecimentos do leitor.
Assim que adentraram num suntuoso edifício, totalmente construído no mais translúcido diamante, ornado com detalhes em prata foram recepcionados por um grupo de Bremenses contituido de 10 integrantes, os quais perguntaram o que queriam os forasteiros, e respectivamente em que poderiam ajuda-los. Assim lhes foi dito por Reliri, um dos mais precavidos e conscienciosos do grupo:
- Na realidade, caros amigos, buscamos uma resposta bastante difícil de ser concedida ou desvendada e não sabemos em real se poderíeis ser ou não útil às nossas pessoas, por isto justamente nosso intuito é justo falar com algum conhecedor maior de vossa sociedade, alguém que seja sábio e nos possa informar sobre estas paragens.
- Sim caros amigos – Disse um deles que trajava-se como todos com vestes brancas com fitas jogadas para todos os lados que se arrastavam para todos os lados sem que se caíssem ou mesmo perdessem a forma na qual estavam embaraçadas, muitos dos guerreiros assustaram-se por perceberem que os olhos do sujeito brilhavam de tal maneira que pareciam transmitir o que ele queria dizer antes mesmo que ele dissesse – Entendemos perfeitamente o que quereis e, recomendamos que podem os senhores se direcionar à um local divergente deste para esclarecer as respectivas dúvidas.
- Não estais cientes de quem somos? – Perguntou Rasbfut desconsiderando quase que totalmente a energia que lhe penetrava diretamente nos pensamentos, mostrou-se com isto arrogante e prepotente – Viemos de muito longe e passamos uma noite inteira ao relento ao lado de uma lago que há dentre muitos outros nesta estranha cidade, fico muito grato aos senhores por nos haver recepcionado com tamanha lisonja, mais realmente novamente devo e me vejo obrigado a dizer que não estais devidamente informado de qual é a insígnia que representamos, quais são nossos respectivos valores e tudo mais. Assim de maneira bastante enfática devo recair em nossos valores, e no fato de que há bastante tempo não fazemos sequer uma rápido lanche, sequer uma fruta têm entrado por minhas entranhas nas últimas cinqüenta horas, reitero de que isto ao meu ver é problema de digno comentário, que deve ser enfatizado até que seja resolucionado...
- Não prossigas em seu discurso por favor Rasbfut – Disse consternado, e envergonhado pela extrema falta de modos de seu “amigo” Jalitre, o guerreiro que porventura não fazia parte dos cinco Langs. – São bastante deseducadas tuas palavras, creio que seja muito mais digno de comentário assuntos que venham a calhar, mas não palavras vãs que se refiram à uma fome desventurada e desmotivadora, pois como sabe tu nos mais detalhados de profundos de teus pensamentos o que nos atormenta no real é a fome da verdade que se enconde de uma maneira semi-morta que pode tornar a viver.
Estas palavras ditas por Jalitre eram tão verdadeiras que penetraram nos pensamentos de Rabsfut de maneira que este não pode responder, mesmo que sua supérflua desconsideração e ignorância estivesse a ponto de brotar-lhe da mente, assim pois calou-se neste momento, pois mesmo que de maneira pictórica fossem proferidas entendeu com perfeição como se houvesse surgidas estas palavras de seus mais íntimos pensares.
O edifício era muito belo, os guerreiros por certo não paravam de olhar à volta, estavam lado à lado, os 10 Bremenses formavam na frente deles um semicírculo, Eram tão belos por assim dizer como o próprio lugar em que estavam, mas não estavam sós, pois naquela manhã o alarido dos forasteiros se alastrava por toda a cidade sendo proclamada, cochichada e recitada para todos os habitantes, a grande maioria conservava seus habituais modos não deixando transparecer qualquer mudança de estado de humor, principalmente quando passavam diante dos ditos cujos, outros, o que representava a grande minoria, se mostravam curiosos e interessados com o que poderia ou quem poderia ser aqueles novos e tão engraçados indivíduos que haviam chegado à seus lares por assim dizer. Por isto no momento em que se passou esta conversação ocorreu que alguns poucos, trajados sempre daquelas idênticas vestes, brancas imponentes e que ficavam com fitas entrelaçadas, quedaram-se paralisados olhando à comitiva como se tratassem de estátuas que falassem, pois cochichavam uns aos outros suas mais diversas opiniões e teorias à respeito do mais diferente e extraordinária ocorrência.
Foram levados ao “gran ministro Uranj” através de um elevador composto duma plataforma invisível, o que fazia que tivessem vertigem, pois era como se todos estivessem volitando para cima, a única coisa que havia para que pudessem distinguir que aquilo se tratasse de um elevador era um intrincado sistema de fios e botões coloridos que se posicionava num determinado local no ar, uma esplendida visão perpassou pelos olhos de todos os guerreiros, brilhos ofuscantes das paredes daquele recinto mesclavam-se com miles de pessoas andando de um lado à outro, sempre ocupadas com suas respectivas tarefas, outras estavam paradas estagnadas em gigantes sofás, tão coloridos quanto podem existir cores no mundo. Não conseguiam os guerreiros em real recalcitrar sobre qual seria a importância daquele alto edifício para aquela sociedade, ocorre que era de supra função, já que além de ali se encontrara a parte administrativa da cidade haviam locais de lazer e descanso, disto se tratavam os tão curiosos e belos sofás, com estofados indescritíveis. Acontece que o processo de pensamento da população em questão era consideravelmente diferente do deles por Ito, em momentos achavam estarem os indivíduos que estavam sentados em sofás consumidos por uma modorra letárgica e hipnótica, fato enganoso e errado, pois em verdade encontravam-se num processo de pensamento bastante divergente que lhes dava as melhores renovações psíquicas, que era uma maneira de descansarem por assim dizer que não fosse dormindo como assim estavam acostumados os guerreiros. Desta maneira extremanete curioso, enquanto se elevava o elevador, não suportando um só momento ficar com aquela duvida Rasbfut perguntou aos estranhos de quem poderiam se tratar aqueles bestiais seres que ficavam nos coloridos e maravilhososa sofás com olhares estagnados.
- Caro estranho de distante terra... – Disse um dos dez que acompanhavam-lhes. – Este é nosso processo de descanso que não passa especificadamente de poucos momentos. Vê o senhor com isto que pouco fazemos o que os senhores chamais de descansar, pois nosso principal mérito é atuar, preferimos para estes importantes momentos os sofás de Drojaz, que são dotados dos mais interessantes renovadores energéticos.
- Sofás de Drojaz? – Falou Rasbfut com ar de incredulidade. – Em nossa cidade há um processador energético, que há pouco retorna seu funcionamento, no entanto nunca cogitei a possibilidade de haver um sofá em minha casa que concedesse energia, para quê iria eu querer coisa de tamanha estranheza. – Disse ele querendo em seu íntimo saber quê realmente era aquilo.

CAPÍTULO VI:
O QUE SUSCEDEU NA BASE DE COMENDO

Assim que o elevador chegou no mais alto do edifício entraram todos em uma ordem de modo que os visitantes ficaram entremeados com cinco Bremenses na frente e cinco por detrás, justo para garantir-lhes que não se perdessem num intrincado labirinto de passagens lapidadas no mais puro diamante, ornados em suas paredes por desconhecidas e intraduzíveis descrições, colocadas à prata nas paredes de maneira em que letras de prata eram incrustadas nas paredes formando palavras, frases e até textos, que não podiam ser reconhecidas pelos forasteiros já que pareciam dialetos totalmente diferentes, mesmo que a língua falada fosse a mesma. Todos estavam agachados já que não lhes era permitido levantar pela altura do teto, era como um túnel bastante estreito, ainda assim conservava beleza magnífica por cores e detalhes reluzentes à luz do sol, que recaía ainda mais sobre aquele local mais alto da edificação. Noutro momento ocorreu-se-lhes que recaíram numa espécie de escorregador gigante, este deu saída para um grande salão no qual se mostrava evidente um teto ogival, este que se evidenciava como o brilhante ápice da construção, naquele local, como em todos os outros do lugar, o piso era construído exclusivamente daquela pedra translúcida, que deixava ver se fosse dispendida a atenção do que via, qualquer andar que se encontrasse na imensidão de andares abaixo, a menos que os corpos das pessoas que estivessem abaixo com suas brancas roupagens não impedissem, o que inevitavelmente ocorria, orem que dava uma impressão bastante bela. Neste andar, que era respectivamente o mais importante dali haviam muitas mesas de prata cheias de comidas apetitosas, outras tinham somente lugares reservados à pratos e talheres, todos sempre de prata. Pessoas andavam de um lado ao outro para pegar pratos, outras serviam diferentes comidas aos que estavam em grandes mesas. Diversas mesas com centenares de pessoas sentadas a comerem, já logo neste primeiro momento Rasbfut ficou maravilhado. Sem mesmo pedir permissão se envolveu com os circunstantes, logo começou a comer como se tivesse sido o motivo daquela confraternização, pois falava tanto que dominava de certa maneira aqueles que sentavam cerca de onde estava ele, de que falava não convém ressaltar, já que eram por certo histórias que somente ele conhece, se inventa ou não; não colocaremos aqui em discussão, é fato porém que nenhum dos que estavam presentes duvidou de suas palavras, e que a comitiva sequer impediu sua separação momentânea, não tendo ficado preocupada dando o pressuposto uníssono em pensamento de que aquele incidente se tratava certamente um grande alívio para o grupo.
Seguiram adiante, deslumbrados com toda aquela confraternização, não era à toa que estivessem na famosa “base de comendo” onde todos deleitavam-se com as mais diferentes variedades de comidas, foi com grande alegria que Rasbfut chegou à esta conclusão. Entretanto os outros sete guerreiros não se preocupavam com este fato, aliás: as palavras iniciais dos Bremenses que se referiram ao nome do edifício haviam passado despercebidas por eles. Ansiavam porém pelo andamento dos acontecimentos e previam em conjunto que possíveis coisas pudessem ser ditas pelo tão esperado Uranj o “Gran ministro”.
A comitiva era formada como já dito por dez Bremenses e sete guerreiros, já que nesta parte ficara desconfigurada pela ausência de um dos guerreiros, que não conseguira evitar sua grave declinação por comida, com isto as dezessete pessoas encontravam dificuldade considerável para caminhar naquele ambiente, já que muitos outros iam para todos os lados, cada qual com um afazer específicos: uns servindo, outros sendo servidos, uns rindo, outros falando, alguns ainda mostravam suas proezas como jogar copos a todos os lados sem deixa-los cair no chão, nem mesmo uma só gota do líquido que lhes preenchia.
Meados neste procedimento ocorreu fato inóspito à Jalitre, era um guerreiro bastante inteligente, no entanto pesado por ter um porte físico consideravelmente grande. Esbarrou numa destas outras pessoas que andavam, e, encontrando-se ele e último no grupo naquele exato momento ninguém se apercebera do acontecimento. O indivíduo com o qual ele esbarrara nada fez senão mostrar-se extremamente surpreso com a diferença tanto de trajes como de biótipo dos novos visitantes. Assim, sendo ele um Bremense bastante convicto de que poderia haver feito importante descoberta olhou diretamente nos olhos de Jalitre demostrando expressão de grande felicidade, isto se passou por breves momentos, pois logo após este acontecimento foi-se correndo em direção à uma parte específica daquela sala, na qual se encontrava um pequeno conjunto de globos verdes escuros, colocou suas mãos em dois dos globos e fez um pronunciamento, com uma voz que se expandia por todo o salão através do poder que lhe proporcionava os globos:
- Caros amigos: Aqui estão um grupo de estranhos! Vamos todos dar boas vindas à eles com as mais saudosas e requintadas comidas, que todos sejam agraciados com a calourosa recepção, pois nossas terras são consideradas pela fama de boas e acolhedoras, tanto é isto que há muito tempo, nos primórdios dos tempos houve uma...
E assim aquele homem prosseguiu seu discurso, contando uma estória tão longa quanto é este próprio livro ou mesmo maior, fato que por sua parte foi surpreendentemente correto e digno de grande honra, no entanto em vão já que no momento em que todos souberam da presença de forasteiros se alvoroçaram para cima deles com gritos, saudações, aclamações, oferendas dos mais diversos pratos, cantos e canções de boa procedência. Nada se ouvia a não ser um conjunto distorcido de vozes, nada se via além de centenares de pessoas formando um circulo ao redor dos visitantes, formava-se naquele local um verdadeiro tumulto, inclusive Rasbfut, que até então comia um pedaço bastante grosso dum assado com frutas, ficara curioso pela ocorrência e foi juntamente com todos correndo no sentido do tumulto, não esperava porém que tratassem de seus próprios amigos já que não dera qualquer importância ao pronunciamento anteriormente referido.
Protegidos pelos dez Bremenses ficaram os sete guerreiros até que se ouviu um grande estrondo, o qual não se sabia de onde vinha, no exato momento um clarão muito forte apareceu, de modo que todos ficaram cegos momentaneamente. Bastante aturdidos os guerreiros abriram os olhos já esperando o pior, mas quando se deram por si não mais estavam naquele salão mas sim noutro local, este era ainda dentro do edifício, e ficava continguo ao outro, mas sem que houvesse passagem específica. Neste novo recinto um grande lago de águas escuras se posicionava no centro da grande sala, com uma cascata no centro, que caía de um orifício no centro do teto que se apresentava como no outro local em forma de ogiva, o silêncio era total. Lauren pôs as mãos nos olhos, tirou-as e logo notou que o grande salão se encontrava ao lado desta sala, onde todos ainda se alvoroçavam e agora pareciam procura-los por todos os lados.
Outro estrondo e clarão e agora os dez Bremenses que os acompanhavam sumiram daquele lugar sosobrando apenas eles e um senhor já de avançada idade, o qual tinha um aspecto bastante sério, alto como os outros, mas que trajava vestes normais.
- A quê viesteis à minha cidade amigos forasteiros?
- Somos mensageiros de distantes terras. – Disse Spangrir, um Lante perspicaz e esperto.
- Podes especificar algo mais?
- Claro que sim ó Uranj gran ministro – Tornou ele a dizer utilizando-se dos modos mas educados que conhecia. – Viemos de Sprels uma cidade de outras paragens, temos a infelicidade de dizer-lhe que as terras ainda não estão salvas pois Grauder têm ainda a possibilidade de ressureição.
- Com que argumentos podem vocês me provar isto? Esta criatura já a muito deixou minhas terras, hoje vivemos num esplendor de grande magnificência, não quero me ater com problemas injustificados ou não prováveis de fidedignidade.
- Não é possível que o senhor não acredite em nossas palavras. – Tornou a dizer Spangrir, assumindo definitivamente aquela palestra – O mundo todo correrá grande perigo se isto não for resolucionado logo, temos de achar a “Luz de Chaug” que está imersa num lago, mas tudo é confuso, pois não sabemos sequer onde procurar, também recebemos a mensagem do salvador, este estranho que nos ensina o caminho, muitos de nós mesmo não acreditaram nele, e por isto não estão aqui. Mas nós temos a crença de que é isto uma possível verdade por isto estamos nesta busca.
- Falai-me mais deste salvador.
- É uma imagem, ou voz que nos disse que tudo ainda não está a salvo, que Grauder vive de maneira desconhecida, e que pode ressurgir um dia.
- Como pode ele saber tantas coisas, ainda por cima, informações tão temerosas?
- Não sabemos muito bem. – Disse Relirí com bastante sabedoria. – O salvador é envolto em mistérios, tenho a impressão de que é um ser muito poderoso que defende todo este planeta em que vivemos.
- Não sejas tolo pequenino! – Exclamou o Gran ministro, desta maneira devido à baixa estatura de relirí, que quase se assemelhava a um anão – Algumas pessoas mentem muito, porém é necessário saber se ele mentia ou não... Tenho minhas dúvidas.
- Quero que saiba que se não nos pode ajudar já nos vamos de tuas propriedades, não queremos mais estorvar, tampouco ocupar teu precioso tempo de comes e bebes homem. – Disse pouco conformado com as recalcitrações do outro Lauren, ao mesmo tempo em que apoiava seu grande machado no chão causando um ruído alto que a ele era inesperado e inconveniente à situação, pois tornava sua afirmação todavia mais concisa e assustadora. – A grande verdade, é que o salvador não é humano, senão uma imagem que se nos foi apresentada pelas graças do destino, como já dito os incrédulos não mais aqui estão.
- Não te apoquentes homem, a violência não é a melhor saída para uma situação tão pouco contraditória como esta. – Disse o Gran ministro Uranj pouco assustado com as feições de Lauren, que eram por acaso bastante terríveis com um nariz deveras grande, e umas pestanas que de tão grossas davam à ele um ar de constante malvadez e enfado, tudo isto aliado com a batida do machado ao chão que fora apenas um ato de descanso, mas que se consumara ao ver de quem olhava num ato de ferocidade e insatisfação. – Vamos tentar resolver tudo com as melhores prerrogativas, afirmações e colocações que possamos propor num debate amigável e venerável.
- Claro, claro – Disse novamento Lauren, percebendo com perfeição o quão seu ato intimidara o Gran ministro Uranj, tentando de qualquer maneira ser sutil e receptivo ao que havia sido dito com algumas outras afirmações. – Vamos de uma vez por todas esclarecer o problema, todos certamente irão se agraciar com tudo o que possa ser dito...
- Sem exageros meu caro amigo Lang. – Afirmou Jalitre, o guerreiro, - Não estamos em situação que se possa confabular desta maneira. O fato é que sabemos que há um ser que nos disse que há muito perigo, a Luz de Chaug é a salvação. Caso o senhor digníssimo Gran ministro possa nos ajudar pedimos informação, caso contrario deixaremos o recado de que se algum forasteiro ou viajante passar por estas terras, que seja interrogado com o intuito de se descobrir onde está a tal pedra. Aliás, terra de muito bom gosto e requinte, se me permite ainda: indique-me o nome do decorador deste seu escritório, pois este sim é de muito bom gosto, um verdadeiro oásis de beleza e criatividade.
- Meu caro e digníssimo guerreiro, que ignoro o nome mas valoro as idéias, quero antes de tudo informar-lhe que a cascata que cai não foi idéia do decorador senão do arquiteto, que é até hoje desconhecido. Não se sabe quem construiu qualquer dos prédios desta cidade, já que os habitantes quando aqui chegaram encontraram todos estes prédios e lagos já construídos, isto é um dos fatores que fazem com que esta cidade seja tão bela e ao mesmo tempo desconhecida pelos próprios habitantes, perdão, creio que eu esteja fugindo ao assunto principal, o único que a conhece em sua totalidade sou eu mesmo, não à toa fui elegido como Gran ministro, sei de muitas coisas meus queridos amigos, coisas que se foram e coisas que virão, isto sim por certo sei, não sabia porém da derrocada de Sprels pela segunda vez.
- O que quer dizer com estas insinuações Uranj? Explique-nos por favor. – Falou com a devida educação Spangrir com toda sua imponência e beldade.
- Em verdade eu não sou daqui, tal como todos os que aqui vivem, não sou daqui destas terras e também não sou deste tempo, é bastante difícil de crer mas há muito tempo descobri algo que se assemelha à um grande portal, é interessante que vejo o que vocês chamam de salvador como uma pessoa qualquer que de alguma maneira se apoderou de informações importantíssimas sobre acontecimentos do amanhã, o que para ele representa o hoje e que justamente pode ele mesmo estar correndo grande perigo, o que acham vocês disto?
Antes que se organizassem todos começaram a discutir de maneira desordenada, de tal modo que nenhuma idéia com nexo pode surgir naquele momento, não até que Lauren soltou um berro aterrador:
- Parem todos! Não vêem que desta maneira não chegaremos a nenhum lugar? Vejam vocês que nos encontramos diante de um deus – Neste mesmo momento ele se ajoelhou diante de Uranj como um servo diante de um conde e baixou sua cabeça.
- Que idiotice é esta? – Perguntou indignado Relirí, tentando levanta-lo com as mãos de qualquer maneira – Levante-se homem, vejo que és um grande ignorante, Uranj é como qualquer um de nós, é duvidoso acreditar em alguém que diz saber de tudo se este todavia não mostrou dignas provas que possam porventura elucidar suas tão belas afirmações.
- É claro que tudo se assemelha à uma distorção do que hoje entendemos por realidade, porém ocorre que este mesmo lago que encontrais diante dos olhos não só é um lago como um portal ou coisa similar, pelo qual uma única vez me aventurei, e fascinante experiência ocorreu, tanto que hoje sei que irá amanhã acontecer, entretanto no hoje de ontem o amanhã me desconhecido era.
- Não digas asneiras! – Gritou com furor Lauren, intensamente constrangido por haver se submetido de tal maneira à um homem que de momento à outro julgou ser sobre-humano.
- Se é assim que creeis vamos todos dar um mergulho no lago agora mesmo. – Disse definitivamente Uranj, o gran ministro.

CAPÍTULO VII:
O SALÃO DE NAMBLEN

E assim se procedeu, muitos ainda se encontravam numa desconfiança bastante grande, porém a força do discernimento fez com que todos tirassem o excesso de sobre-roupas e entrassem naquele lago de águas escuras, e esverdeadas. A borda do lago possuía um formato oval, sendo circundada por uma faixa especial construída em prata, os circunstantes enquanto se preparavam para entrar notaram que naquele mesmo salão havia uma mesa com diversas e requintadas poltronas de prata ao redor desta, o que não julgavam ser de grande utilidade já que aquela era uma sala ( segundo a interpretação deles ) somente para uma pessoa. Fato bastante curioso era que naquela sala não havia sequer uma porta para entrar ou sair. Todos os guerreiros, com exceção de Esni que tinha pavor de entrar na água por um receio cabível para uma pessoa que nunca entrava em mares ou rios para nadar, também parecia que Rabsfut estava naquele momento pouco disposto, poderíamos neste caso propor uma explicação: não lhe faltasse boa vontade para acompanhar os outros ocorria certamente uma série de mutações químicas e muitas fermentações em seu estômago, que fazia um descomunal esforço para digerir dentre a carne desconhecida uma variedade enorme de outros alimentos que deglutira com voracidade inigualável no salão de comes e bebes anteriormente descrito, disse aos colegas que se sentia indisposto para entrar na água naquela ocasião.
Assim todos entraram no lago, notaram porém que não dava pé, e que a profundidade haveria de ser grande dado ao fato de que alguns tentando ver aonde chegava o fundo não o encontravam com seus mergulhos, a água era turva e escura, no momento em que todos os sete nadavam disse Uranj:
- Aqui estamos neste grande lago no meio de minha sala de administração, mas não aqui que encontraremos a resolução de nossos divagares, venham colegas, acompanhem-me, por favor, ao centro do lago.
O lago era de uma imensidão magnífica, tiveram todos de perscrutar por muito tempo numa seção de natação quase que infindável para encontrar o centro daquelas águas, a visão dos companheiros já muito distante estava, apenas dois pequenos pontos podiam ser vistos, ainda que confundidos com os ofuscantes brilhos que das paredes do edifício eram transmitidos pelo transpassar da luz do sol no diamante. O barulho naquela parte do lago era ensurdecedor, já que ali caía na parte exata do que supostamente fosse o centro uma exacerbada, enorme e gigantesca cascata. ( Uma observação intrigante que podemos aqui colocar ao leitor desprecavido e desapercebido era que não se sabia em real como aquele lago não transbordava já que não tinha contigüidade com um rio, poder-se-ia supor que havia um ralo para o escape do excesso de água, sem mais observações inapropriadas deixo aqui de detalhes inapropriados dado às circunstâncias do momento)
A verdadeira face das coisas muitas vezes é totalmente inesperada, tal como foi para nossos personagens honrosos. Acontecimento extraordinariamente tragicômico foi que Uranj começou a discursar com bastante pompa e louvor, não se sabe à quê, já que tamanho era o barulho produzido pela queda de água que nada se ouvia, apenas se via de vez em quando um momento em que ele apontava o dedo indicador para cima, em direção ao que supor-se-ia ser a origem da queda das águas. O real motivo que levou-o a ficar em tal estado de espírito todos queriam saber, estava ora sorrindo ora assemelhava-se como um pimentão, inopinadamente era um contra-senso concluir que ele mesmo não se apercebesse que suas palavras não podiam ser ouvidas por mais que gritasse ou se esforçasse por falar em alta e boa voz. Após esta situação vergonhosa e irrisóriamente espalhafatosa todos fingiram entender, talvez para não contrariar, ou mesmo para dar continuidade aos acontecimentos. Ao final do discurso o gran ministro Uranj apontou o indicador para baixo e submergiu.
Tendo o gran ministro Uranj submergido todos os outros entenderam que deveriam fazer o mesmo, mas não sabiam ao certo qual o intuito daquela atitude tão incerta e estranha, alguns pensaram que quisesse este senhor somente refrescar a cabeça, mas logo, como ele apontou outras tantas vezes para baixo todos o seguiram com as atitudes. Ocorreu que mergulharam todos demasiadamente próximos à cascata de modo que influenciados pela turbulência do local sentiram-se atordoados por uma gama enorme de correntes que perpassavam aquele local, nada viam, pois a água era obscura e turva, com gosto salgado, a corrente ficava cada vez mais forte, empurrando todos para baixo, o terror apoderou-se de todos num momento em que pensavam que iam morrer afogados, todos sentiram uma sensação de que haviam sido enganados, levados à morte por um inimigo, não imaginaram que depositando a confiança num homem que dizia ter poderes diversos pudessem ser levados à tão grande desgraça. Alguns outros em nada pensaram, tamanha era a preocupação em tentar sair daquela situação, tentavam de qualquer maneira emergir à superfície, porém não logravam quaisquer resultados positivos, muito pelo contrário: quanto mais tentassem emergir mais afundavam, não se pode estudar e estruturar o tempo em que ficaram nesta situação, pois nestes momentos não existe por certo uma noção de tempo real, pode-se por certo dizer que muito desceram, a correnteza era fortíssima, a arrastava-os com impetuosa violência para baixo, talvez mais baixo que o próprio térreo daquele edifício, não houve por certo naqueles momentos aterradores um lapso de pensamento que viesse a tender para o fato se haviam passado pelo terceiro, segundo, ou primeiro andar, isso porque não se encontravam naquele confortável e ao mesmo tempo “ausente” elevador.
A cada momento lhes faltava o oxigênio, de modo que a cada segundo a consciência real dos fatos parecia sumir, o raciocínio diminuía em lucidez, os que haviam lutado contra agora se acalmavam esperando o pior, e sabendo que quanto mais tentassem despender energia mais se lhes seria pior. Assim, já esgotados, o pouco dos sentidos que lhes restavam à todos serviu para que vissem que num determinado momento a água ficou mais clara, ato o ponto em que estava límpida, foi aí que algo muito inóspito e muito bonito ocorreu, a correnteza pareceu perder suas forças, mas não foi este acontecimento digno de beleza senão uma estranha formação de claridade que se mostrava presente no que se suporia ser o fundo daquele profundo lago. Era uma belíssima imagem, que certamente poucos haviam visto, por mais que estivessem cansados ou sem forças, por breves momentos contemplaram aquela esplendorosa imagem, que por todas as suas vidas nunca algo igual haviam visto, a claridade mudava de tons constantemente, não havia um solo, mas sim água e esta tela irregular e clara de nuanças diversas. Extasiados com tamanha beleza, e mortos de tanto tempo com o mesmo ar nos pulmões quase nem se aperceberam que Uranj fazia supremo esforço em chamar-lhes a atenção para descerem ainda mais, utilizando-se agora das próprias mão para mergulhar, assim se procedeu e todos, desceram em direção àquela luz provocante.
No momento em que passavam naquela película luminosa notaram ( se é que conseguiram algo notar, dado o estado desmaiado de alguns ) que no outro lado não havia água, senão ar, caíram todos de uma altura relativamente perigosa, num salão bastante especial. Ninguém, por um acaso da sorte se contundiu gravemente, ocorreram sim algumas escoriações simplórias que devem tanto por nós quanto pelos aventureiros ser desconsideradas. Um salão que além de especial era deveras curioso; Dos caídos quatro levantaram, dentre estes Uranj, que certamente já esperava por toda esta situação, os outros eram Reliri o sábio, Lauren: o Guerreiro baixo em estatura mas alto em força e ferocidade e Spangrir o arqueiro esbelto. Os outros ainda estavam torpes e tontos, tentando levantar. Assim que se deram conta do novo ambiente começaram a explora-lo.
- Arrg! – Grunhiu logo Lauren, tendo a suprema capacidade de se recordar dos primeiros pensamentos que teve ao ver que todos se envolveram meados nas correntezas mortais do lago – À que situação mais deplorável fomos nos submeter, claro que coloco como tão único e exclusivo culpado este homem desrespeitoso e estranho que ao invés de nos acomodar só nos traz desventuras.
- Não se precipite desta maneira Lauren – Disse Relirí, notando os detalhes daquela diferente edificação, - Antes de tudo abra os olhos da mente e do corpo e veja e perceba o quão intrigante é o local que nos encontramos.
Assim, quando os outros finalmente adquiriram forças para levantar em união começaram a olhar o lugar; Acima havia simplesmente água, perceberam que haviam caído dali, mas não entendiam como toda aquela água não se lhes inundava, caindo por cima devido a pressão e à força gravitacional, era algo como ver um lago virado do avesso, o que dava certo receio, pois os instintos de todos dizia que aquilo ainda estava errado, entretanto, o que mais chamava a atenção era uma enorme estrutura que se posicionava no centro daquela sala de piso de madeira, piso encaixado com grande perfeição, disposto em forma de sol com troncos de uma cor marrom claro. No centro havia uma estrutura rodopiante, que girava com tamanha velocidade que não se podia distinguir que quer que fosse aquilo, produzia até um zumbido bastante sutil, era possível notar obstante que a estrutura era certamente da mesma cor que o piso daquele local, sobressaia pelo seu giro uma constante corrente de ar, que perpassava pelo rosto dos circunstantes revigorando-lhes o ânimo. Entretanto uma intensa e quase cegante luz era emitida por este curioso objeto, esta luz se estendia por todo o lugar iluminando-o com diferentes tons. Não foram precisas muitas palavras de Uranj, pois ao olhar ao redor todos perceberam que aquela estranha “máquina” funcionava como uma espécie de projetor, que transmitia imagens para todos os lados, imagens estas que eram perfeitamente visíveis nas paredes, este salão era circular, suas paredes eram de perfeita continuidade, sendo assim possível ter-se uma visão de 360o do que era ali retratado, as imagens mudavam constantemente, como se houvesse lá alguém trocando os canais de uma televisão. Todos se maravilharam e ao mesmo tempo assustaram com tudo. Olhavam imagens de uma próspera cidade, imagem ampla que envolviam paisagens de toda a grandiosidade da cidade, logo viam-se lugares específicos como casas, prédios, praças, monumentos, nesta parte perceberam que os monumentos retratavam exatamente às situações de guerra por eles vivenciadas, como o esmagamento de seus cavalos ou mesmo a morte desastrosa de Grauder congelando à si mesmo. Todas as imagens se passavam rapidamente de modo que ficaram tão somente como telespectadores, sem que houvesse a necessidade de qualquer comentário adjacente, logo perpassaram as imagens para pessoas felizes, crianças pulando de um lado à outro, meios de transporte, comunicação, estações de energia psico-física da cidade tudo funcionando com perfeição. Tudo parecia tudo o que mais desejavam, mas inesperadamente as imagens ficaram retidas numa feição de um homem, este parecia se encontrar extremamente abatido, estava numa sacada, num lugar amplo, e fitava alguma coisa, logo distinguiram isto que olhava como um monumento dos cinco Lantes, um monumento em que Grauder esmigalhava impiedosamente os seus antigos e belos cavalos negros, estes que porventura apresentavam na escultura uma expressão do mais puro sofrimento, o que era possível notar naquela imagem tamanho era o realismo da próprias. O homem que olhava, além de muito conturbado dava ares de estar pensativo e alterado, como se estivesse contrangido com tudo o que ocorria-se-lhe pela mente, todos começaram a desvendar que aquilo podia ser tudo o que viria a acontecer, não existiam aqueles monumentos, mas o fato em si por certo se consumara. Seria aquilo tudo uma supérflua e indigna suposição? Tão logo alguns poucos o reconheceram como Estevam, o salvador, a imagen mostrava-o contando muitas histórias, histórias que se referiam à eles próprios e ao modo com que haviam morto o dragão. Quem seria ele? Por quê aquelas imagens mostravam uma realidade de tamanha distorção do que poderia ter nexo? Eram estas perguntas que imundavam-lhes a mente à todo instante, mais adiante viram que este homem a que julgavam ser o tão valorado salvador ia dormir, se revirava na cama como se estivesse tendo um pesadelo, logo tudo se obscureceu de tal maneira que não se via um palmo em frente do rosto, ouviasse somente aquele zumbido, como o do ar perpassando por uma fresta de uma janela, porém que era criado pelo giro constante daquele aparelho desconhecido. Todos não falavam sequer uma palavra, suas mentes fervilhavam com pensamentos que deslanchavam em velocidade tão grande que acabavam por desordenar-lhes o entendimento completo, pois tudo sempre findava em uma quebra-cabeça incompleto. A escuridão prolongou-se por determinado tempo, até que ainda imersos nela conseguiram distinguir num recôndito da parede o próprio Grauder bufando, indo em direção à seus cavalos e os matando, isso por certo os deixava indignados, Lauren não resistindo emitiu um breve e revoltado grito, mesmo sabendo em seu íntimo que aquele ato não se aplicava às circunstâncias:
- Isso foi definitivamente injusto! Arrrg!
Ninguém teve tempo de responder tamanha foi a estranha sensação que se lhes apoderou a mente quando momentos depois viram a si mesmos na sala de Rasbfut executando a reunião que fora o motivo da jornada na qual estavam trilhando. Foi confuso e conturbado verem a si mesmos num remoto passado. Tudo transcorreu tal qual como havia ocorrido, inclusive o desentendimento de Laius contra Relirí à respeito da seriedade da reunião, e o próprio aparecimento do salvador, do qual puderam saber o nome posteriormente através das crianças que constantemente gritavam seu nome pedindo seus contos e histórias fantásticas, que em real de fantásticas nada eram senão imagens de uma passado remoto e perdido.
Estava tudo consumado, sabiam o que fazer, mas não como, as imagens continuaram, mas perderam em importância e talvez por isto embranqueceram até que a sala se iluminou de igual modo, num branco amarelado, deixando o ambiente bastante claro. De maneira lúcida os presentes procuraram, cada qual dentro de sua capacidade pessoal, entender e interpretar tudo aquilo que se lhes fora apresentado, até que Lauren fês uma pergunta bastante interessantes, mesmo que ingenuamente:
- Onde raios de lugar estamos? Nunca pensei existir lugar de tamanha beleza e estranheza ao mesmo tempo.
- É mais ou menos isto que venho tentando explicar-lhes desde algum tempo. – Disse Uranj, o gran ministro tentando elucida-los – Estamos no Grande salão de Namblem, todos que antes duvidaram de minhas sinceras palavras agora podem se deleitar com a veracidade do que de meus lábios surgiu, e que estejam certos de que a verdade muito foge ao que antes vocês podiam esperar, por isto peço que estejam preparados à algo que possa ser todavia mais difícil que propriamente aquilo que fora até agora transpassado.
- Não temos receio. – Disse brava e destemidamente Spangrir, ao mesmo tempo que perpassava o lábio superior ao inferior sentindo a salinidade da água. – Podes certamente dizer quê devemos fazer para se não salvarmos a nós ao menos possamos honrar ao antigo Lante ajudando no futuro de Sprels.
- Tuas palavras são tão verdadeiras quanto a moral e a poesia que às preenchem – Completou Quemet, que pouco falava mas muito fazia em momentos extremos. Intimamente e4nvolvido naquele sentimento de defesa às antigas dinastias.
- Ouçam caros invictados: – Disse Uranj com uma voz pausada e calma. – Notaram que este lugar não é de fácil acesso, que muito pelo contrário põe em risco a própria vida daquele que o busca, isto por certo mostra toda a importância e essência do Salão de Namblen, assim demando que escuteis com atenção tudo o que tenho a dizer. – Fazendo breve pausa prosseguiu ele a dizer nos seguintes termos. – Temos aqui um portal, que dá vasão à imemorável tempo, desconhecido por todos e mais ainda que acaba por findar nosso próprio destino, ou deveria eu dizer o contrário? Que nós acabamos por definir o destino daqueles que ali se encontram? Assim temos como fato estridentemente importante o de que um de nós deve ir de encontro ao salvador.
Não se sabe ao certo por quanto tempo ficou aquela pergunta no ar até que alguém se dispusesse a falar novamente, o zumbido se apoderou momentaneamente do espaço enquanto todos ficaram abismados com o discurso veemente e irrevogavelmente imperioso que fora proferido, assim se sucedeu, as idéias incidiram sobre todos como que paralizando-os.
- Não deveremos temer qualquer coisa amigos. – Disse corajosamente Laurem, sendo ele aquele que menor tinha noção do que realmente ocorria – Ponho a imperiosa força de meu machado e minha bendita elegância em dúvidas se acaso este aparelho girante e composto de maléficas magias não tiver de ser destruído agora mesmo.
- Não! – Gritou em resposta Uranj com tanta veemência que o zumbido da engenhoca desconhecida pareceu na mente dos circunstantes cessar de emitir qualquer ruído por certo tempo – Não proliferes pensamentos errôneos como este. – Não podia-se definir tão precipitadamente à que ele se referira quando disse isto, se à bendita elegância do baixote ou se à destruição do apetrecho... – Assim vos direi que se isto for destruído tudo estará acabado, inclusive nossas vidas, o que se dará como efetivo ato é a escolha de um de nós como antes eu havia dito.
Depois de muita discussão decidiu-se que o escolhido seria Relirí, já que este era o mais precavido e consciencioso do grupo, tendo ele concordado com a decisão iniciou-se a seguinte palestração por parte do Gran ministro:
- Terá de entrar no portal de Namblen e buscar à Estevan por toda a parte, quando encontrar haverá de trazer consigo, pois somente com ele poderemos encontrar a tão importante luz de chaug.
Isto tudo era evidente, ocorreu que Laurem olhando aquele estranho aparelho, que rodopiava em vertiginosa velocidade teve um temor que até então nunca se lhe havia perpassado pelo espírito, era algo mais que o simples medo de topar com a estrutura que se assemelhava à um conjunto de dois globos sobrepostos um ao outro, eram medos e sensações que provinham de seu próprio interior, quanto mais olhava mais parecia que aquela gama infindável de sensações penetrasse em seu íntimo, algo gritava dentro dos recônditos de seus maiores temores, vacilou por momentos, seus passos eram curtos, sentia-se por momentos enfermo por outros mais revigorado que já pudesse haver estado. Quando finalmente enfiou somente o rosto pelo portal se viu envolto numa substância plasmática amarelada, na qual tendo inserido todo seu corpo via somente ao redor, dentre todos os giros que dava o aparelho todos os outros guerreiros que se desconfiguravam gradativamente até que passassem a ser parte de um remoto passado.
Já aos que ficaram restou a incerteza e insegurança, as palavras de Uranj foram concisas e assustadoras, quando como que lembrando de sua própria experiência este disse:
- Relirí teve de enfrentar seus mais íntimos medos, temores e receios para se transfigurar ao porvir, pois aquele que vai ao que ainda não aconteceu deve enfrentar tudo aquilo que está no caminho que se salta de uma só vez, de maneira que são infindáveis os desafios, somente alguém muito corajoso consegue dar um salto e fazer tal travessia, um risco certamente corremos meus amigos: Aquele que do futuro retorna pode esquecer-se de algumas coisas, dentre as quais coisas muito importantes, tendo uma memória enfraquecida e fragmentária, fato que... – Pareceu verter algumas lágrimas pela face, lágrimas estas que caíram no solo como água de antigos rios. – Fato que muito deturbou minhas mais queridas vitórias, vitórias de um passado, de um futuro..
- Não se desanime gran ministro – Disse Spangrir inbuido dos mais fraternos sentimentos – Muitos sequer precisam retornar ao passado para perder suas memórias...
- É verdade – Disse Lauren, inflamado em seu espírito pela idéia de que deveria de qualquer maneira dizer algo contundente naquele momento – Há alguns que têm aminésia.
- Não me refiro à isto Lauren – Retornou Spangrir pacientemente à explicar detalhes de sua afirmação – Me refiro justamente aqueles que se esquecem do passado por má vontade e comodidade...
- Assim está dito! – Falou Uranj, agora se há de esperar a ver quais serão as intercorrências de nossos dias que nada mais são que um quadro não acabado do porvir.

CAPÍTULO VIII:
UM ENGANO CRASSO

Por falar em intercorrências devemos aqui nos ater a importantes fatos que se sucederam num local pouco mais elevado que aqueles que estavam nossos aventureiros; Ocorreu justamente que Esni que não sabia nadar e Rasbfut que havia se descupado de qualquer maneira para vangloriar sua má vontade ficaram um bom tempo vendo os viajeiros nadando ao centro daquele magnífico lago, entretanto notaram que algo poderia haver de errado já que todos mergulharam e não mais retornaram à superfície.
Instantaneamente ficaram preocupados, momentos depois já davam berros e gritos tão altos que lhes deixavam a garganta doendo, porém a distância que separava o local em que estavam do centro do lago era demasiada, ainda mais que já todos tinham submergido. Ficaram pasmados com o ocorrido, Rasbfut em uma atitude digna e honrada mesmo ainda de pensar em separar-se da espada que estava presa à cintura saltou para dentro do lago, nadando uns poucos metros quase se afogou, logo com muita dificuldade retornou, sendo ajudado com o intenso esforço de Esni para coloca-lo de volta para fora, devido ao seu peso por exatas cinco vezes tomou sorvos consideráveis de água, Ocorria que a borda daquele lago não era como a de um lago qualquer já que não havia raso, o lago era fundo e mais parecia à uma borda alta de piscina que outra coisa.
Estando já Rasbfut encharcado e a salvo os dois guerreiros trataram de correr de maneira desesperada à qualquer lugar que fosse para buscar ajuda, logo percebendo Esni que aquela era a direção errada falou:
- Rasbfut! Não vês que estamos correndo inutilmente, aqui nada há senão lindas e formosas paredes, o outro lado é donde está o salão do qual viemos.
- Claro, claro, não havia me dado conta disto.
Correram então na outra direção, chegando finalmente perto da parede, olharam à todos: pareciam ter esquecido a procura deles e comiam e bebiam de tudo com muita alegria, no entanto aquela parede não tinha sequer uma pota.
- Quê fazemos agora Esni? Aqui não têm um raio de uma porta! – Disse furiosamente o outro.
- Vamos bater com as mãos na parede e gritar para tentar chamar a atenção dos que ali estão.
Começaram então desesperadamente a bater com as mão no diamante que compunha a parede e gritaram até ficarem roucos, parecia que ninguém ouvia nada através daquela espessa e transparente parede, casualmente num momento em que eles já há muito já se esguelavam um indivíduo que estava servindo bandejas de sucos coloridos virou seu rosto por breve momento, deparando-se com aquela imagem assustadora inicialmente pensou se tratar de alucinação ou efeito de reflexo dos diamantes, segundos depois notando que aquela imagem prosseguia assustadíssimo e horrorizado derramou a bandeja com todos os sucos no busto de uma mulher, como se isto não bastasse caiu o próprio no colo desta concidadã por uma das pernas ter perdido a força de sustentação, a outra era bastante respeitosa naquela sociedade, era esta uma das mais poderosas e influentes cidadãs daquela requintada confraternização, praticamente a nata dos mais importantes meios artístico daquele lugar.
Estando postos estes últimos termos em vigência, fica bastante evidente que aquela maravilhosa e linda mulher ( assim o era ) ficou indignada com o péssimo serviço de distribuição alimentar do lugar, fazendo uma cara de maus presságios gritou enraivecida sem sequer imaginar qual fora o motivo que levara aquele homem a cair tão desastrosamente. Chamando a atenção de todos que estavam na mesa, foram estes acudíla tirando o garçom quase desmaiado de seu colo. O pobre homem quase não conseguiu dizer uma só palavra de tão apavorado que ficara, pois sabia muito bem quem era a outra, assim quando conseguiu expressar-se de modo a dizer uma frase por completo todos olharam simultaneamente para o lado da sala que ele indicara ficando igualmente assustados com a inóspita situação.
- Que é esta baderna? – Perguntou um.
- Não sei! – Disse outro.
- Parecem dois loucos.
- São como uns animais.
- Levantem este homem que mais parece estar morto que outra coisa.
- Não façam isto senhores. – Disse a importante mulher. – Eu mesmo o levanto. Creio que seu braço se torceu na cadeira...
- Devemos chamar o conselho com urgência! – Gritou derrepente o garçom como que despertando de funâmbula modorra.
A comitiva de organização, que compreendia nos 10 Bremenses que recepcionaram os aventureiros foi chamada, e logo que chegaram foram, através da já conhecida técnica do raio, que era respectivamente a única maneira de entrar naquela sala, ao outro lado da parede.
- Rápido – Disse Esni, quase atropelando-se na palavras – Precisam salvar-los que estão ali, no centro, mas estão sem respirar.
- Não entendemos o que diz seu companheiro. – Disseram os 10.
- Claro. – Disse Rasbfut com certo constrangimento por estar naquele momento tentando manter a calma. – Ocorre que nossos amigos estão no fundo deste lago, e precisamos ver se vivos ou não, mas não sabemos nadar. Não têm vocês porventura um barco? Devem nos ajudar, tanto que seu próprio gran ministro foi-se junto.
- Dizemos à eles? – Perguntou um dos dez da comitiva à outro.
- Sim, dou-lhe a permissão para isto.
- Obrigado mestre. – Retornou o outro com breve reverência com inclinação do tronco – Agora vou dizer-lhes importante segredo forasteiros, porém devem guarda-lo para sempre sem difundi-lo à qualquer pessoa que for.
- Está bem – Disseram os dois impacientemente em uníssono.
- Ocorre que este não é um lago comum, senão o lago que guarda em si o salão de Namblen, onde há muitos segredos não revelados, este salão é guardado por nós, o conselho dos 10 de maneira que ninguém a não ser nosso gran ministro Uranj consegue acessa-lo. Mas vejo que houve uma esessão, seus amigos foram junto com nosso ministro. Uma dádiva bastante apreciável para eles, e vós fostes bastante agraciados por conhecer esta verdade, agora ficais por favor tranqüilos, pois nada há de perigo para com eles.
- Seus desgraçados! - Gritou enfurecido Esni já retirando sua espada da bainha. – Não ponhais fé no que dizes estes mentirosos Rasbfut, pois ímpios são os falsos que melindram para emergirem ao poder! Vocês simplesmente mataram a todos pois querem-nos distante, não morreremos sem lutar!
- Não queremos fazer mal à vocês, a verdade já foi dita, queiram aceita-la por favor.
- Não iremos acreditar! – Gritou agora Rasbfut retirando sua espada que tinha ainda resquícios de algas do lago, fato que fez com que um do conselho dos 10 gargalhou estrondosamente de forma a deixa-lo ainda mais enraivecido.
Foi travada então neste momento uma impiedosa e sanguinária batalha, os dois guerreiros se uniram de maneira a proporcionar bastante trabalho ao conselho. Fato inesperado e surpreendente se passou, pois o conselho estando todo trajado com aquelas vestes brancas airosas e elegantes pareciam indefesos, entretanto no mesmo momento em que os dois guerreiros mostraram-se hostis apareceram automaticamente armas em suas mão, as armas eram todas iguais e tratavam-se de espadas, curiosamente estas se mesclavam de tal forma com as roupas que acabavam por assemelhar-se à prolongamentos das faixas que circundavam a roupagem.
A batalha prosseguiu por tempo consideravelmente extenso de modo que no tempo que se sucedeu os que estavam do outro lado desta sala se amontoaram do outro lado da parede para assistir a ocorrência, como uma torcida hipnotizada gritavam e vaiavam, tomando partido para com os conterrâneos o que foi evidenciado pela opinião de que eram ladrões os forasteiros que penetraram em suas terras. Muito sangue foi dissipado dos dois lados, nenhuma morte, entretanto bastante sofrimento, o chão se encontrava sujo e vermelho, as roupas dos do conselho já brancas não mais eram, os guerreiros foram desfraldados de tal maneira que ficaram sem seus escudos e espada, foram amarrados com as próprias fitas das roupas que ao mesmo tempo que eram estáticas nos corpos de quem as vestia eram maleáveis quando manipuladas.
Naquela euforia toda que se encontrava no salão de festas e comidas muitos desmaiaram ou passaram mal, outros foram verdadeiramente pisoteados pela falta de estrutura ou arquibancada adequada ao tipo de situação que havia se formado improvisadamente, uns ficavam em cima dos outros, faltava espaço para visualizar a briga, muitos ainda tinham levado ao lugar seus pratos de comidas e bebidas de modo que uma das coisas que mais incomodava eram as comidas que caíam nos que estavam na parte debaixo do monte humano e as reclamações deseducadas provenientes deste mesmo acontecimento.
Ambientados neste contexto, após muitas intercorrências findou-se a luta e os dois amarrados, amordaçados e definitivamente neutralizados foram, através do sistema de estrondo e na seqüência raio levados ao salão de comes e bebes, onde foram recepcionados com as mais diversas blasfemas e sarcásticas piadas. Assim formou-se agora uma multidão ao redor de onde estavam eles, numa estratégica atuação cinco da comitiva dos 10 Bremenses organizadores formaram um círculo ao redor dos guerreiros a evitar qualquer ato de violência, o que seria raro. Assim atravessaram o salão, levando bastante tempo com todo aquele congestionamento e foram levados ao carro de segurança já fora na rua.
Lá fora ainda era dia, o sol estava a pino, entraram em um carro especial, que era bastante largo, e não tinha contacto com o chão, dentro um programa especial era quem pilotava, os 5 que estavam com eles da comitiva, entraram juntamente com eles no carro, que por dentro era cheio de circuitos e luzes especificas, sem qualquer janelas ao exterior a não ser a que dava para cima permitindo que a luz do sol entrasse no carro.
O sol porém parecia cada vez mais abrasador, a impressão por parte dos dois que nada podiam falar ou fazer era de que aquele carro ficava cada vez mais quente. Rasbfut ficara intensamente decepcionado com sua atuação nas lutas, sobretudo com remorso de haver sido um dos responsáveis do início de tal atitude, que agora tardiamente parava para fazer reflexões filosóficas olhando sempre para um conjunto de luzes vermelhas e amarelas, tentando ao mesmo tempo sem lograr, contar quantas vezes acendiam umas e outras.

CAPÍTULO IX:
A REALIDADE ABRANGE REALIDADES SOBREPUJANTES

Já Reliri se encontrou imerso em um plasma amarelado no qual se inseriu, sentindo uma sensação de leveza e tontura ao mesmo tempo, perdendo a noção espacial e o próprio equilíbrio. Não mais sabia se estava de pé ou deitado, logo afastou um braço do outro no intuito de sair do lugar, mas já era tarde para isto, o espaço que o circundava se transfigurava gradativamente, até que percebeu num dado momento que as linhas amareladas começaram a se esverdear, inicialmente eram pequenos pontos verdes, mas depois percebeu ele que tratavam-se de gotas de água que se posicionavam em diferentes locais do plasma amarelo esbranquiçado, sem qualquer outro ponto de referência pegou na mão algumas gotas de água e experimentou para ver se suas divagações eram corretas, sim eram salgadas.
Tudo se passou rapidamente, as gotas aumentaram em quantidade e tamanho no local, simplesmente voavam estagnadas no plasma. Até que em um momento haviam tantas que passaram a formar grossas bolhas de água. Relirí assustou-se com o que previa em meado ainda naquela sensação de tontura e desorganização espacial, quanto mais tentava afastar as grandes bolhas com as mãos mais elas se uniam às outras e ainda maiores ficavam.
Logo tudo era definitivamente água, e não mais havia qualquer vestígio da substância amarelada. Tendo inspirado o último sorvo de ar Relirí começou a nadar, não sabia para onde, pois estava perdido, mas tão logo quanto sua capacidade visual lhe permitiu avistou ao longe peixes e areia, com grandes pedras no que foi nem racionalmente mas instintivamente por ele considerado como o chão, por isto como um grande peixe começou a nadar para cima, manteve a calma neste momento quiçá isto devido à experiência desagradável anterior, momentos depois olhou para baixo, e além de peixes não se distinguia qualquer imagem a não ser distorcidas cores e fortes luzes. Quê havia ocorrido aos outros? Pensa ele: Podem ter afogado? Porém não estava, sinceramente, em condições de recalcitrar sobre estes assuntos, mais lhe preocupava a própria vida.
Finalmente, quase que sem fôlego Relirí, um dos mais sábios Langs, chega à superfície notando após breve momento que se encontrava não no lago anterior mas sim num extenso mar. Assim que pode começou a rodar em torno de si mesmo para encontrar terra, o que conseguiu vendo alguns rochedos que se sobrepunham evidenciando-se sobre as águas, viu porém que havia uma distância de uns 3 quilômetros para até lá chegar, para sua infelicidade não havia qualquer barco nas redondezas, flutuou um pouco de barriga para cima a fim de descansar da fadiga que fora produzida por toda aquela gama de situações que passara, logo orientou-se novamente e pôs-se a nadar de maneira relaxada e leve, pois sabia que se tivesse pressa ou temor do mar poderia ser vencido, sem qualquer pressa, e muitas vezes tendo que nadar na lateral para fugir à correnteza, outras nadando de costas para com a água chegou à uma praia de areia fina e muitas conchas na areia, a praia era curta e logo se dispunham intrincados rochedos com largas fissuras, porém nenhuma outra saída mais fácil. Sem qualquer outra escolha levantou-se e pôs-se a caminho de uma destas fissuras, entre as sombras viu que detrás de si se punha o sol, por isto apressou-se em escalar as rochas, chegando a uma planície de escassa vegetação, donde muito andou até avistar uma grande e gigantesca cidade, com prédios ainda mais altos do que pudera imaginar existir. Com isto quanto mais se aproximava de tal cidade mais concluía que estivesse centenas de anos à frente de seu tempo.
A noite já caía a bastante tempo quando entrou ele na cidade de Sprels, o que teve definitiva certeza por ver diante da entrada um gigantesco luminoso piscando com cores fosforescentes de variados matizes com os dizeres:
“Bem vindo à cidade de SPRELS forasteiro, esperamos que a estadia seja agradável e apraziva. Se aqui vives continue aqui, porém sempre salve aos antigos condescendentes: Salve aos 5 Lantes ou não entre”
Relirí ficou extasiado com o valor que davam os futuros moradores da cidade ao grupo de Lantes do qual ele próprio fazia parte, assim com este sentimento adentrou na cidade, estranhando à tudo que via, já que era diferente do comum.
Andando pelas calçadas notou que todos o olhavam, não sabia se era por que estava com os trajes desfeitos e sujos ou se porque suas vestes fossem inadequadas àquele tempo, o que era bastante evidente já que vestia uma túnica esverdeada que o cobria até a cintura, dali para baixo uma calça marrom presa na perna através de uma série trançada de tiras de couro que findavam por formar sua sandália. Os outros vestiam-se com roupas levíssimas de tecido que ele desconhecia, em sua maioria de cor preta ou azul escuro, as roupas destes cobriam-los até o pescoço deixando, para sua estranheza, somente os pés e a cabeça descobertos, as mãos ficavam quase sempre ocultas por um prolongamento daqueles leves e sinuosos trajes. Com isto sentiu-se envergonhado e topando com a escultura numa praça de sua própria pessoa não se conteve e correu em direção à esta. Todos o olharam pasmado nesta atitude tão diferente do normal, chegando lá leu as muitas homenagens que haviam sido escritas em bronze à ele e seus companheiros, haviam ainda poemas dedicados ao dia da destruição do dragão, um deles assim dizia:

Honrai aos lantes
Que num tempo de muito antes
Sobrepujaram a força de Grauder
Com muita astúcia e sabedoria

Honrai aos amantes
Da paz em Sprels e no mundo
Os salvadores da terra em que somos viventes
Sem qualquer medo somos como Lantes
Corajosos e não ignorantes
Como aquele que na destruição se afundou

Reliri notou que aquele poema era iluminado com especial atenção já que as luzes que o iluminavam assemelhavam-se à uma chuva de luzes coloridas, com pequenas bolinhas azuis caindo de uma estrutura assemelhada à um cano vermelho escuro, este cano parecia ser de cobre. Havia naquela praça uma série de estruturas compostas por canos, como este mesmo, retorcidos, em formas circulares, formas quebradiças ou mesmo formando figuras e bustos de pessoas importantes. Estes canos compunham em realidade o sistema de iluminação daquela época, as luzes como já descritas eram um tipo de todas as cores com bolhas azuis. Assim, naquela noite de lua cheia era intensamente maravilhoso olhar a gigantesca escultura dos 5 Lantes em bronze, todos montados em seus lindos cavalos com feições corajosas e imponentes, uma escultura que se posicionava no centro da praça, e que sendo iluminada por aquele complexo sistema de luzes de diferentes matizes, com a produção de bolinhas azuis era algo quase que arrebatador de tão lindo, os próprios postes de iluminação com toda uma série de retorcidos canos formavam figuras de pessoas, pássaros ou mesmo objetos desconhecidos e abstratos.
Foi de grande emoção quando nosso personagem leu o poema e se prostrou diante da gigantesca escultura olhando à todos os Lantes, enquanto que pessoas passavam apressadas de um lado à outro, umas paravam por momentos e o olhavam com curiosidade sem desconfiar de quem realmente se tratava senão de um forasteiro louco ou perdido.
Sem mais esperar Reliri decidi andar um pouco mais a fim de conhecer detalhes da cidade, começa então a travessar a praça, andando a curtos passos, sem pressa, olhando ao redor, notando que não haviam árvores, mas sim prédios tão altos quanto a vista podia ver, entrou então numa rua entre dois prédios iluminados de azul claro, de janelas espelhadas, e diversas passarelas que permitiam passar de um ao outro, as passarelas e pontes eram abertas de modo que se via as muitas pessoas que andavam nelas. Nesta concentração em que estava ele, olhando sempre para cima, trombou com um grupo de pessoas trajando-se estes todos de preto.
- Perdão – Disse constrangidamente, tentando levantar-se de cima de duas das pessoas que como ele caíram. – Não tive a intenção de...
- Quem é você – Perguntou logo um deles, vendo como se trajava de maneira inadequada e até inconveniente – Por acaso está também indo à festa?
- Claro, claro – Disse Reliri totalmente de improviso, sem ter tido tempo para responder outra coisa que quer que fosse e querendo ao mesmo tempo esconder sua verdadeira identidade – Estou, acho, indo à festa, mas na verdade eu acho que...
- Não, você está errado – Retornou o mesmo escondendo rindo vivamente do próprio Reliri. – Não é festa da fantasia, senão de um amigo que já há muito conhecemos. Vamos se quer venha com a gente, se quiser podemos arranjar-lhe umas roupas normais, pois estas já não servem para este tipo de festa, a não ser as já cafonas festas da fantasia. Creio que me entende; Aliás qual é seu nome? Em quê setor trabalha
- Meu meu nome? – Gaguejou Reliri vacilando por breve momento antes de responder a pergunta, tinha até certo medo por não saber com quem realmente falava, e estava por certo assustado com a inóspita e inovadora paisagem. - Meu nome é Restrinfi disse de uma vez não trabalho no setor.
- Vamos não incomode nosso novo amigo – Disse outro homem bastante alto e de olhar bondoso. – Não vê que ele é um dos distribuidores? Vamos, se não nos apressarmos chegaremos atrasados, pois a noite anda alta e bons presságios são nossos.
- Claro, claro – Disse o outro, enquanto de dentro de suas roupas tirava um enorme pedaço de pano, constituído daquele levíssimo e fino material – Tome, vista isto agora mesmo, para que não percamos tempo é melhor que ponha sobre esta sua roupa feia e esquisita.
- Obrigado – Disse humildemente reliri, sem comentar nada sobre como é que se vestia o pano a deixa-lo como aquelas roupas belíssimas que eles vestiam.
- Vamos, vamos Restrinfi! Parece uma criança. – Retornou ele, rindo muito do outro. – Não consegue mais vestir a vestimenta preta? Vou ajudar-te, mas saiba que esta é somente usada pelos que trabalham nos setores, e é melhor arrancar esta sandália que lhe deixa com um ar terrível, não estamos mais em tempos de usar estes apetrechos antiquados e incômodos.
Assim ocorreu que de uma maneira inesperada Reliri se viu intimado a participar de um evento que ocorria dentro de um daqueles arranha céus, algo que para si era extraordinariamente encantador, ainda mais que seus intestinos ruminavam de tanta fome. Já integrado ao grupo conversando sobre mulheres, assunto que até naquela época parecia haver permanecido igual, foi esta inclusive sua salvação pois do contrário não teria palavras ou assuntos para prosseguir interligado com o grupo.
Chegando no átrio notou-se grande quantidade de convidados que subiam em grandes elevadores para o andar especificados, eram estes tão espaçosos que ali mesmo já havia espaço no qual os convidados já iniciavam calorosas conversas, com iluminação e muita música. Entretanto o momento era breve, pois o elevador era rápido. Logo o elevador parou e abriu-se a porta, descendo um pequeno conjunto de degraus saíram todos numa linda passarela, que era protegida por um tapete vermelho ornado com lindos desenhos de figuras geométricas em preto, o tapete seguia em diante através dum corredor largo e iluminado com aquelas mesmas luzes anteriormente descritas.
Já no corredor haviam nas laterais muitas mesas já dispostas, todas providas de muitas frutas, sucos e bebidas diversas, os convidados já muito animados foram pegando aquilo que lhes apetecia continuando no caminho, Relirí e seus novos conhecidos foram animadamente conversando até chegarem num amplo salão, ornado a ouro, este salão parecia simular o interior de um castelo. Acontece que passaram por ele como quem passa por um rio através de uma ponte, pois havia uma alta ponte por sobre o salão.
- Aqui é onde será o show? – Disse um dos com cara de extrema alegria
- Sim, será aqui mesmo, e não confunda representação teatral com show. – Explicou o outro.
Continuaram andando e surgiu outro corredor, este mais amplo ainda, e super largo, dando saída para fora do edifício, de forma que todos pisavam agora numa plataforma sustentada por uma ligação entre os dois edifícios. O lugar era lindíssimo, Relirí se perdeu dos outros e começou a ver uma multidão fissurada como que hipnotizada dançando vertiginosamente, o som era similar à uma batida de tambores contínua, ali haviam músicos que mesclavam o som de seus instrumentos com outros adjetivos eletrônicos. Os tambores logo davam margens à outros diferentes sons. Muitos ainda chegavam do outro prédio, e dançavam como loucos, chegando perto do parapeito Relirí tomou um susto estrondoso pois não imaginava estar em altura tão elevada já que não fazia frio no lugar ou mesmo ventava. No centro da estrutura, que era elíptica havia um local com muitos sofás, mesas e cadeiras dos mais diversos formatos, todos de dores pretas ou azuis, inclusive esta parte da estrutura era totalmente transparente de modo que se receava em pisar-se nela por não saber se havia realmente ou não chão no local. Relirí atravessou a esta parte da festa com dificuldade extremamente curioso, olhando a tudo e à todos que encontrava pela frente, os outros o olhavam como a qualquer um, inclusive algumas mulheres o olharam com secundárias intenções por suas nobres e guerreiras feições. Ocorreu que estando ele já ambientado, e dançando com todos os outros, já empolgado com as novidades que encontrara, olhando de vez para baixo e vendo diante de seus próprios pés uma maravilhosa e assustadora paisagem, a intensa cidade de Sprels em um tempo que não era o seu, depois olhava para o céu e vendo a lua pensava em seus amigos.
Num destes momentos um homem de feições benignas se aproximou dele ficando consternado com o que teorizava, simplesmente desvendou quem de quem se tratava aquela figura:
- Quem é você? – Perguntou ele, dando evidentes sinais de que sabia quem era.
- Sou um extrangeiro – Disse Reliri revidando a pergunta.
- Não sei se estou louco, mas sei que isto pode até ser, mas é você um estrangeiro de longínquos tempos, isto é estranho vejo que se trata de um contrasenso, quê faz aqui? Como é que pode isto?
- Sim meu amigo, você está perfeitamente certo, sou Relirí um homem do pretérito.
- Não vejo qualquer maneira de explicar este fato, mas vamos sentar, assim podemos melhor conversar, aliás: lá nas mesas o som é pouco mais baixo, é se possível conversar sem gritar.
- Sim vamos. – Disse Reliri ainda receando a incomensurável altura que tinha o prédio – Devo chamá-lo como?
- Ungius é meu nome, sou historiador, e sei que não há sombra de dúvidas em minhas recalcitrações, trabalho nos setores mas o que fico intrigado é como pode o senhor estar num tempo que não lhe pertence?
Chegando então nos espaçosos sofás e neles se acomodando cada qual com duas bebidas azuis com um fogo verde, com função meramente decoradora, travaram a seguinte conversação:
- Devo dizer-lhe algo importante, deve você acreditar em min.
- Quê é que procuras? – Perguntou interessadamente Ungius como que intuindo o desígnio de Relirí.
- Devo encontrar uma pessoa neste tempo e leva-la ao passado.
- Entendo, mas como é que vieste ao futuro?
- Não sei bem ao certo, acontece que um grande ministro, Uranj me trouxe aqui. Através do portal de Namblen.
- Pois encaixam-se tuas informações de certa maneira, porém este portal em real é uma lenda que há entre aqueles que estudaram a antiga civilização de Bremer.
- Antiga?
- Sim, antiga, pois não deve saber você que há muito explodiu-se tudo, pela revolta daqueles que descobriram alguns segredos dos mais poderosos.
- Quê segredos? – Perguntou Relirí curiosamente.
- O próprio portal do qual você falou sempre foi resguardado pelos mais poderosos chefes daquela antiga civilização.
- Quem destruiu a cidade de Bremer?
- Não se sabe, infelizmente, até hoje. Mas sim que foi um ataque repentino e enfático. – Disse Ungius com assombrosa feição. – Particularmente, serei sincero com você meu caro Relirí, já que és digno guerreiro do passado e lutaste Bravamente contra as pérfidas estratégias de Grauder, creio que há uma civilização obscura à toda nossa sociedade que vive neste momentos de alegrias e festas enganosas por suposto. Uma civilização deve haver que não se mostra a nós, mas guarda um grande mal, não podemos mais ficar nesta situação, porém estamos destinados ao terror e à morte já que todos são cegos e surdos às sábias palavras do destino. É somente um homem que tudo diz de verdadeiro e sábio, eu creio nele não tão somente por ser amigo e companheiro, mas sim por ter consciência e opinião crítica de tudo o que ele e as outras pessoas dizem ou pensam.
- Quê pessoa é esta? Dize-me pois procuro um indivíduo de nome Estevan, o nosso salvador.
- Pois justo deste falo. O consideram como o salvador?
- Sim, assim é que o chamamos.
- Faz sentido, todos aqui o têm como louco e insano, menos as crianças que não se cansam de ouvir continuamente suas histórias que retratam dum passado tempo, da época em que vocês os cinco Lantes viveram para salvar e reviver nossa cidade de Sprels. O que acontece é que muitas alucinações e sonhos atormentam meu amigo de modo que ele criou algumas situações parecendo ter vivenciado elas.
- Como posso encontra-lo?
- Por quê?
- Devo encontra-lo com urgência, o futuro desta cidade dependerá disto.
- Sim, vá com minha esposa até seu prédio, vou chamá-la para que o acompanhe pois não posso acompanha-lo já que tenho funções importantes nesta festa. Sabe como é, sou um parente muito próximo do aniversariante, tenho que ficar de qualquer maneira.
- Está bem, acho que consigo entender, é irrisóriamente importante o dia de hoje.
- Claro, claro – Respondeu Ungius contrangido por não poder acompanhar um componente vivo da história antiga à salvação da cidade. Já indo chamar sua esposa para acompanha-lo.
Tendo Naika sido chamada, uma mulher admiravelmente linda, com verdes olhos e rosto afável, foram os dois para baixo do edifício, saindo e caminhando a pé pelas ruas, já que não era o edifício de Estevan muito distante dali. A mulher permaneceu em relativa calmaria pois não desconfiava de quem realmente se tratava o semelhante que portava.
Assim chegando ao prédio adentraram neste, após subirem pelo elevador ( menor que o outro ) chegaram e viram a porta do apartamento entreaberta, entraram e se depararam com uma gigante sala, com teto bastante alto, sala que na realidade se tratava de um quarto pois havia uma grande cama encostada numa torre de sustentação na parte central da sala, noutros cantos estavam alguns aparelhes eletrônicos desconhecidos à Relirí, um grande aquário com peixes ornamentais ocupava uma parede côncava de um dos lados da sala, este auário ia do chão até o teto formando praticamente uma parede de água, com peixes magníficos, consideravelmente grandes, todos muito coloridos.
Andaram por aí, estava tudo muito bem iluminado, com luzes verdes e brancas, porém sem as bolinhas azuis, no lugar disto uns raios verdes saíam dos canos de cobre. Entraram e notaram estar aquela sala vazia, Naika parecia já conhecer o lugar, na parede que se opunha ao lado em que o aquário preenchia toda uma parede haviam muitas portas, todas com vários desenhos de animais diversos, entraram em todas, encontraram muitos ambientes da casa ali, cada qual dava acesso ao outro, inclusive uma escada dava acesso à outra sala similar àquela, mas esta tinha uma grande janela e mesa redonda no centro. Relirí logo que visualisou a janela notou que esta lhe era familiar, quando se aproximou viu exatamente o que já vira antes: A praça em que se encontrava a escultura do esmagamento dos cavalos, com todos os detalhes com que fora demonstrada no salão de Namblen, agora realmente sabia onde estava, e sabia que um dia, já se confundia em dizer se do passado ou do futuro, um homem havia olhado aquela escultura de maneira pensativa e intrínseca, e que hoje quem olhava era ele.
- Está vazia! – Falou Naika sem saber a importância do motivo que lhes levara ali.
- É, - Disse Relirí, extremamente conturbado com a visão daqueles cavalos que sofriam de maneira estática, estava absorto em antigas lembranças. - Não sei que dizer de tudo isto.
- Tudo isto o quê?
- Hã? – Disse como que despertando dum sonho.
- O que você não sabe?
- Naika: há coisas que não sabemos como resolver, mas que devemos tentar de qualquer maneira, nem que tenhamos que principiar por desconhecidos caminhos.
Ungius que houvera ficado na festa por seus importantes laços de sangue com o aniversariante não conseguira parar de pensar na ocorrência de haver se encontrado com um dos cinco Lantes, em determinado momento chegou até a duvidar de seus sentidos achando estar tão distraído a ponto de confundir qualquer um com o famoso e importante Relirí. Como pode? Pensou ele, confundir-me com pessoa de remoto passado.
Envolvido por estes pensamentos ficou em tal estado de dúvida que não mais conseguia pensar na própria festa, a festa não tinha fim até que se passasse o prazo de dois dias com visitantes dos mais diversos horários, assim ele ficara neste dilema. Não obstante passara a duvidar se houvera sido sonho ou não o extraordinário acontecimento, todos dançavam muito e pulavam em torno dele, Ungius entretanto foi atacado por um lapso de pensamento extremamente voraz, pois lembrou-se num instante que Estevan se encontrava com sérios problemas, nos últimos tempos atacado por estranhas alucinações, acompanhadas de pesadelos nefastos. Por um momento ele para, no meio de toda aquela multidão que dança alvoroçada e fica paralizado olhando a diante, mas seus olhos nada vêem senão é a mente que imagina coisas distantes.
Quebrando o comumente feito sai do lugar, se desvencilhando de todos os que dançam e descendo o elevador corre desesperadamente em busca do apartamento de Estevan, muitas pessoas que andavam na rua foram por ele empurradas, sem que ele tivesse má vontade, mas sim que estivesse num ato supramente importante e inadiável. Todos com isto estranhavam este homem que tanto corria pelas ruas, logo uns o perseguiram por alguns quarteirões, seguindo no seu encalço para revidar o empurrão, eram na verdade três homens fortes e enraivecidos. Ungius não teve sequer tempo para olhar para trás e ver que ocorria. Adentrou no edifício com ímpetos de tanta força que arrombou a porta de entrada, que sendo de vidro espatifou-se no chão, subindo no elevador antes que seus perseguidores pudessem saber a quê andar se dirigia, entretanto todos aqueles que se encontravam no átrio deste edifício se horrorizaram com a violenta situação:
- Quê é isto aqui?
- Loucura total! Este homem que se foi. – Disse um dos três ao inquisidor que lia um diário numa saleta. – simplesmente empurrou a todos na rua, e ainda foje de nós que a justiça queremos.
- Mas porque fez isto?
- Isto não nos interessa. Quem sabe onde ele mora?
Ungius entrou no apartamento de seu amigo com a mesma violência de antes, muito preocupado com o estado de saúde de Estevan. A porta que estava encostada abriu-se de supetão causando um estrondo no lugar, Relirí e Naika que conversavam acima na sala desceram as escadas desenfrenadamente a ver que havia ocorrido encontrando Ungius estafado quase que caindo aos tropeços na direção deles:
- Quê ocorreu à Estevan?
- Não o encontramos – Disse Naika preocupada
- Não está aqui. – Confirmou Relirí
- Já olharam no quarto contíguo à este?
- Quê quarto? – Perguntou sua mulher
Não foram necessárias palavras para à isto explicar pois Ungius correu para em direção do aquário, e chegando bem perto dele apertou um dispositivo que fez com que este se abrisse no meio em forma de um grande portal onde do outro lado se encontrava um magnífico quarto todo decorado de azul, em que nas paredes se encontravam conchas das mais diversas, o teto deste quarto era côncavo, e tinha um lustre bastante bonito, com formas triangulares em suas luzes, que eram como as outras só que emitiam bolhas brancas junto com a iluminação. Tudo era muito bonito, quadros de mares distantes estavam presos às paredes e uma linda janela ornamentada com detalhes todos esculpidos numa madeira clara e graciosa, porém não estava tudo certo, pois no centro deste quarto, numa cama de especial descanso daquela época, uma espécie de câmara de material similar ao vidro se prostrava Estevan todo contorcido, padecia de pesadelos. Os três por um momento não souberam o que fazer dado à gravidade do caso, mas logo impetuosamente Relirí correu aos saltos para dentro do quarto, caindo de tal maneira naquela incubadora que a destruiu com as pernas, o que parecia ser vidro se derreteu recaindo sobre Estevan, que se contorcia ainda, teve de ser muito chamado para retornar à lucidez.

CAPÍTULO X:
O RETORNO DOS GUERREIROS

Antecipando todos estes acontecimentos e vendo a realidade sob outro ângulo encontraremos os guerreiros Jalitre, Quemet, Lauren, Spangrir e o gran ministro Uranj ficaram na expectativa olhando como Reliri desaparecia paulatinamente no centro daquela estrutura girante, e como do centro daquela surgia uma substância amarela que o envolvia de maneira gradativa. Todos temeram que o pior pudesse acontecer já que desconheciam totalmente tal tipo de maquinaria, coisa que até então não podiam ter quaisquer noções de existência. Não duvidavam mais da veracidade das palavras de Uranj, pois todos estavam já convencidos através da avalanche de imagens que aquele gerados tinha apresentado-lhes.
A máquina não deixara de produzir aquele zunido monótono e constante como o de um vento, este som reinava, pois todos estavam em silêncio, reinava de tal maneira que deixava o ambiente misterioso e até macabro por assim dizer. Quando Relirí finalmente sumiu de todo Lauren se pôs a falar nos seguintes termos:
- Vejo meus caros amigos que se não fomos nós foi este bravo guerreiro, que ele consiga, senhores, trazer a pessoa que com todas as forças buscamos, do contrário, se perder-se nos obtuzos caminhos do futuro perder-se-a a humanidade sua glória e graça.
- Sabias palavras são as suas meu caro amigo – Disse Quemet passando a mão em seus bigodes negros, como se isto o ajudasse a pensar – Sabemos que não será fácil, e que a missão pode fracassar, porém vamos pedir forças aos antigos Lantes: Que a força dos antigos reis esteja conosco!
- Vejam o que acontece! – Gritou Spangrir extremamente assustado quando notou que de algumas poucas partes da parede descia água – Vamos todos afogar se houver qualquer vazamento, aliás, não entendo como a água não nos cai na cabeça.
Eram verdadeiras as palavras de Spangrir pois das paredes descia água, o portal de Namblen estava se enfraquecendo de modo que cada vez mais girava mais vagarosamente, a força de sustentação da água era de algum modo produzida por ele, e agora que escasseava a água descia pelas paredes não mais em pequenas fissuras mas em sua totalidade preenchendo agora o chão até a altura das canelas de todos, ficaram então preocupadíssimos e entreolharam-se já prevendo o que iria acontecer, para tentar acalmar Uranj disse:
- Não tenhais medo do que possa vir a ocorre neste momento. – Sua voz se mesclava à um eco que provinha da sala sendo constantemente infestada de água. Seu cenho era de relativa tranqüilidade – O que irá agora ocorrer é um processo lento, muito vagaroso, que é decorrente como podem ver da diminuição de giros do portal, pois são estes que dão o poder sulficiente para que este lugar se sustente.
- Então vamos morrer como animais que foram de encontro à uma armadilha? – Gritou de maneira extrapolada e ensurdecedora já num ato sórdido e precipitado querendo esgoelar o ministro com as próprias mão Lauren o baixinho, que se encontrava neste momento ao seu lado.
Sendo Lauren muito forte, e estando o ministro despreparado para tal ato de fúria atroz e inesperado ocorreu que os dois caíram por um desequilíbrio momentâneo na água, que neste momento já se encontrava na altura da coxa e do peito de Lauren respectivamente já que este era de baixa estatura. Se não fosse o eminente auxílio de todos na tentativa de separar aquele baixote apoquentado, os dois certamente morreriam afogados ali mesmo naquela luta desorganizada e louca.
- Não! – Grunhiu spangrir, o fez de tal maeira que Lauren assustou-se com o tom ameaçador de sua voz. – Como podes fazer tal ato de ignorância diante de todos nós? Você nos deixa extenuados com atos obscuramente pérfidos e inúteis, resguarda tua força, que louvamos, para os momentos precisos e necessários.
A situação estava definitivamente acabada, pois Lauren consentindo com as broncas e admitindo estar errado ficou calado como uma pedra, apenas distanciando-se do ministro Uranj que retornou com as seguintes palavras:
- A verdade é que não irá acabar o ar que temos disponível, pois vejam que na medida em que surge-nos água por debaixo se dispessa a que está acima de modo que nos encontramos num progresso rumo acima, em que a camada de ar em que nos encontramos irá subir conosco até sumir quando chegar à margem do lago.
E foi justamente assim que se procedeu, porém o processo era tão lento e o lago era tão profundo que perdurou o caminho para cima por exatas 10 horas. Para que não cansassem na subida os guerreiros foram aconselhados por Uranj que simplesmente flutuassem na água pelo maior tempo que conseguissem, pois assim iriam despender menos energia que nadando. Foi esta a técnica de que se utilizaram, não obstante a água estava bastante fria e passaram muito frio, sentindo que este impunha suas agruras nas derradeiras três horas, onde muitos começaram a tremer de frio, sendo auxiliados pelos que estavam em condições normais.
Finalmente após muito tempo chegou a viagem para cima ao seu contundente final, embocando no centro do lago, mesmo local onde haviam estado antes de imergir no lago, onde havia uma gigantesca cascata de água. Nadaram então até a margem do lago, margem esta que neste momento encontrava-se demasiadamente alta, por causa da camada de ar que havia subido e pela água que preenchera esta camada. Assim que chegaram à margem foram avistado por cinco homens representantes do conselho dos 10. Os homens defensores da glória e honra do império de Uranj quando o avistam nadando ficam alarmados e começam a gritar:
- Cordas! Cordas! Rápido, tragam cordas! Precisamos retirar Uranj do lago.
Após breve tempo tendo sido trazidas as cordas e tendo os nadadores chegado para perto da borda, que era toda lisa e arredondada composta talvez de bronze,eles à prendem de tal maneira que esta serviu-se de apoio à todos que subiram nela extremamente fadigados e enfraquecidos. Foi extremamente difícil para Lauren e o próprio ministro treparem pela corda já que tinham sido eles os que mais haviam sofrido com a baixa temperatura da água, por duas vezes cada um tombou novamente na água antes que conseguisse alcançar a margem propriamente dita do lago, o que ocorreu foi que após estas duas tentativas fracassadas com cada um os guerreiros Jalitre, Quemet e Spangrir improvisaram uma estrutura com a corda que os amarrava de tal maneira que os representantes do conselho os pudessem puxar.
Estando todos na sala de Uranj, podiam olhar aquele lago escasso de água com a margem bastante baixa, mais ou menos uns quinze metros, entretanto o que mais lhes chamou a atenção eram as roupas dos do conselho que estavam manchadas de sangue e rasgadas, estes estavam cheios de cortes e escoriações, alguns ainda sangravam de maneira considerável.
- Quê lhes ocorreu?
- Ó gran ministro Uranj. – Disse um deles ajoelhando-se diante do ministro – O honramos muito e defendemos vossos interesses como a água é parte do céu, assim digo-vos que uma tragédia nos ocorreu.
- Mas quê pode então haver feito-vos como estais?
- Fomos taxados de ignominiosos pela dupla que acompanha à estes, e vieram à luta por não aceitarem a verdade do portal, creram que nós levamos seus companheiros à morte, com tudo fomos forçados a prende-los.
- Como? – Perguntou, mesmo entendendo o que havia sido dito, Jalitre o forte cavalheiro. – Não entendo como nossa aliança pode de tal maneira ser quebrada, pois até agora nos ajudamos para a salvação do reino, mas...
- Mas os inimigos podem estar nos mais íntimos recônditos da amizade... – Completou de maneira maldosa Lauren
- Cale-se Lauren! – Falou com imponência Spangrir – Se ainda guardas rancor que os engula e digira de uma vez, pois estamos todos aqui em uma equipe, não queiras a tudo embaralhar.
- Pois nos vimos obrigados à com eles lutar – Disse novamente o do conselho sem ainda levantar-se. - Suas armas como podem ver estão dispostas no chão, duas espadas e dois escudos semi destruídos.
- Vamos. – Ordenou o ministro – Não podemos perder tempo, Dêem-nos roupas secas que partiremos agora mesmo em busca dos prisioneiros, não posso permitir que esta tragédia ocorra nesta cidade.
Todos se vestiram com aquelas mesmas roupas brancas, cheias de fitas, eram roupas bastante leves, ainda que assim fossem pareciam proteger o corpo de tal maneira que se um graveto fosse enfiado por um de seus lados não lhe rasgaria o pano. Roupa branquíssima com fitas diversas sempre estáticas, mas que mudavam de posição conforme se torcesse com a mão, todos gostaram das roupas com exceção de Lauren que continuou com suas vestes molhadas, não se sabe se por impertinência de sua parte ou se não havia um tamanho de roupa tão pequeno quanto ele o era.

CAPÍTULO XI:
ENCONTRO DE REALIDADES

- Desperte! Desperte! – Gritava Ungius enquanto chacoalhava o corpo convulsivo Estevan e os dois que o acompanhavam corriam para dentro do quarto – Retorne à lucidez de uma vez por todas!
- Não! – Gritou Estevan saltando de sua cama especial num ato totalmente inesperado.
Todos o seguraram, a tentar trazer-lhe à realidade novamente, a substância do globo que havia derretido cobria-lhe parte do corpo, Estevan olhava continuamente para todos os lados, como se não estivesse vendo seu quarto e tampouco as três pessoas que ali estavam por um momento, até que estando mais tranqüilo sentou-se em silêncio enquanto Ungius falava à sua orelha:
- Tranqüilize-se, você está a salvo e nada lhe pode fazer qualquer mal. – Apertou qualquer dispositivo que havia abaixo da estrutura oval que sustentava a redoma e abriu-se num dos lados desta um alçapão automático deste mesmo material da redoma, abaixo havia uma pequena banheira, cheia de água, para onde foi colocado Estevan, foi neste momento em que ele retornou à consciência por completo.
- Ungius, tive um sonho terrível, estes sonhos estão me deixando louco... Mas, mas: Quem são estes? Não posso acreditar, ainda não sonho, mas quê faz você aqui? – Perguntou direcionando o olhar diretamente à Relirí, reconhecendo-o como um dos integrantes da reunião com a qual sonhara a algum tempo.
- Sou Relirí. – Disse ele cumprimentando-o curvando sua cabeça – Venho desde muito longe para encontrar-te.
- Não é isto possível, não estou sequer dormindo. Não consigo entender.
- Esta será por certo uma noite bastante importante. – Disse Naika entendendo agora através dos fragmentos que havia captado o contexto geral da problemática em que se encontravam – É melhor deixarmos as conversas mais importantes para um momento mais organizado, pois isto sugestiono que vaiamos todos acima e conversemos com maior tranqüilidade na mesa.
Sem perder qualquer tempo foram todos para cima, revigorado Estevan pôs um trajes que as pessoas naquela época colocavam após os banhos, espécie de roupa colada ao corpo que dava à este uma perfeita comodidade, de cores amarela e preta, de listras que imitavam chamas de fogo. Já acomodados e estando sendo servidos por um complexo sistema de distribuição de alimentos, que saíam de compartimentos localizados na própria mesa, colocando à disposição algumas cápsulas estranhas e uns tubos avermelhados fosforecentes que deveriam ser comido, o que Reliri estranhou bastante já que não tinham qualquer sabor.
- Mas que comida desagradável! – Exclamou Relirí num momento em que as palavras saíram de sua boca sem que ele quisesse permitir. – Quero dizer: bastante diferente. – Retificou ele, arrependido de ter sido tão forte a novidade que não conseguira se conter.
- É muito boa! – Disse Estevan. – Mas isto não me incomoda, devo dizer a todos, e exclusivamente à você Lang, o qual tantas histórias já contei aos outros, que tive outro de meus estranhos sonhos: Havia nele um homem muito velho, um ancião que parecia ser sábio e benevolente, muitas pessoas em uma sala bastante grande, mas com traços de fogo, talvez fosse uma lareira ou fogueira, não consigo me lembrar este detalhe, mas sim que este ancião muito falava, enquanto isso os outros muito entretidos se punham à escutar.
- Quê falava ele? – Perguntou Úngius enquanto pegava um pequeno aparelho em forma de um fino cilindro, o que era na realidade um gravador especial, que posteriormente quando inserido noutro aparelho trazia os dados por escrito pronto para serem comparados e estudados pois mesmo naquele tempo como em qualquer outro a razão humana nunca fora substituída, e por isso nunca fora subestimada.
- Contava antigas lendas, consegui ainda ver como seus olhos brilhavam na medida em que as palavras eram proferidas, parecia colocar de quando em quando um apetrecho de estranha forma na boca exalando em seguida espessa fumaça, era bastante idoso tinha longa barba e uma touca de estranho formato na cabeça disse que a história do mundo somente passou a ser verdadeiramente convalidada a partir do ano 0, ano em que um projeto muito grande foi consumado por um grupo de três imponentes sábios, parecia que eu me sentava ao lado de todos que ali estavam era uma sensação estranha e real ao mesmo tempo.
- E os outros? – Retornou Ungius enquanto os outros dois se conservaram respeitosa e reverentemente em silêncio.
- Circundavam o senhor a que me refiro, mas não me viam, e sim à ele. Disse algo que pareci acreditar no momento: Houve no ano 0 do 5o reinado um importante invento, era um portal, não me lembro exatamente que fora explicado à respeito deste invento mas sim que corrompeu-se a sinceridade de um dos três sábios: seu nome era Enbrio, assassinou friamente os dois outros magos com sua busca cega pelo poder, e com ele ficou o portal, porém não parecia haver internalizado que o próprio perpassaria por todos os tempos, mas com ele ficou o portal, portal de Namblen, assim era o nome que proferiu. Tenho ainda um receio que não consigo explicar, pois não me recordo, não consigo lembrar o final deste intrincado sonho, mas passei por maus bocados pois tive sensassões terríveis que não consigo descrever exatamente à quê foram devidas.
- Não temas. – Disse Relirí imbuídos de seus preceitos guerreiros, mesmo sendo um dos Lantes mais refinados e inteligentes tinha ainda toda a energia e estímulo para lutar. – Devo também lhe esclarecer muitas coisas...
Tendo explicado sua experiência com o portal de Namblen todos ficaram cientes do que ocorria, esta parte da história antiga era desconhecida à Ungius, mas ele interessava-se sobretudo pela salvação não só de Sprels como do mundo, a própria cidade de Bremer era naquela época considerada como lenda, algo que as poucas descrições não permitiam desvendar qualquer informação exponencial. As poucas histórias estudadas por Ungius condiziam exatamente com o que havia dito Relirí, edifícios muito altos, construídos no mais puro diamante, reluzentes e maravilhosos, com espaços vastos em seus interiores e caminhos sinuosos, cidade de muitos lagos e beleza incomensurável.
- Temos de encontrar a solução para este enigma. - Balbaciou Ungius com num estado bastante conturbado, como que hipnotizado por forsas de seu inconciente - Nosso amigo Estevam sabe realmente como chegar na civilização da qual diz haver entrado certa vez por ter a audácia de procurar importantes documentos à respeito da existência deste maléfico demônio; Devemos enxortá-lo do mundo como há muito tempo atrás foi feito, pois enquanto o mal estiver na espreita não haverá paz. Não haverá paz, mas sim uma carnicicina terrificante!
- Não! – Falou Naika, que até então permanecera silenciosa, ouvindo cada palavra com extrema atenção. Seus olhos estavam brilhando pois em seu íntimo haveria de encontrar uma solução à este enigmático dilema. E, passando as mão de maneira terna sobre os esvoaçantes e loucos cabelos de seu marido prosseguiu numa sinuosa conversação... – Haveremos de por qualquer fim à estes empecilhos, desfalecer perante os desafios antes que se tente todas as alternativas é pedir para morrer, e isto faz com que percamos às honras, os méritos e a própria salvação de toda uma sociedade.
- O fato Naika – Revolveu ele em sua conturbada e hipnótica dialética, com os olhos agora esbugalhados, olhando a mesa branca de uma maneira direta como se estivesse em outro lugar. – É que esta sociedade de que a senhorita fala nada vê, percebe ou sente. Se sabem de algo parecem querer fugir... Quantas vezes? Quantas vezes nosso amigo Estevan saiu às ruas desta tão adiantada cidade a falar das realidades opacas à percepção aos cidadãos? E estes o ignoraram rotulando-o como louco varrido... E somente as crianças, somente elas deram-lhe a confiança devida, extasiadas com suas histórias e contos, que nada têm de fantasioso... Fico de certa forma constrangido com a ignorância e acima de tudo com a petulância destes outros. Quê haveremos de fazer?
- Sim... – Gemeu Estevan de maneira escassa, quase que num sussurro, ainda bastante influenciado por seu último sonho. Olhando a postura dura e percrustadora de Relirí. – No início pensei estar realmente fora de meu estado normal, que fossem estas visões e sonhos falsas memórias, mas logo percebi que havia algo de extraordinário... Sim... – Novamente uma certa modorra o dominou, depois de certas divagações tão silenciosas que nem se ouviam, apenas ouvia-se o borbulhar de um aparelho de oxigenação do grande aquário do andar inferior e um estranho modo de mastigar os bastonetes de Naika, que agora já parecia pouco mais distraída. – Acontece que as falsas memórias eram tão reais que meus sonhos influíam em meu estado emocional e minhas vivências... – Pôs as mãos na testa e os cotovelos na mesa.
- Não vejo nexo nestes sinais, mas certamente, num remoto pretérito o veneradíssimo senhor é conhecido como “O salvador”, pois lá sabe-se que você possui informações valiosas. – Disse Relirlí, com seus olhos azuis perfurando a letargia de Estevan de modo que este desviou seu rosto diretamente à seu olhar, julgando que tivesse ele algo de magistral imponência.
- Fui inexoravelmente conselheiro de Grauder – Falou ele, como se sentisse obrigado neste momento a doar uma satisfação que não portava, notava-se claramente que sua postura era agora de extremo interesse e lucidez. – O que não posso me arrepender pois naquela ocasião era minha única salvação.
- É evidente que o senhor é o mais aconselhado à ensinar o camin... – Relirí que até então se conservara numa lucidez extrema estancou, e derrepente, diante de todos tombou com a cabeça na mesa desfalecido, seu corpo derrubado da cadeira por uma ausência total de sentidos caiu ao chão antes que qualquer integrante da conversação pudesse segura-lo.]
- Quê houve? – Gritou histericamente Naika sem saber o que fazer.
- Vamos averiguar. – Disse Ungius, enquanto chamava Estevan a lhe ajudar levar o acometido ao andar de baixo donde se encontrava uma saleta com uma confortável cama...
-
CAPÍTULO XII
CAMINHOS PENOSOS

Despojados de suas armas, feições pasmadas, sonhos desiludidos e vontades enfraquecidas. Intermeados numa louca perdição assim encontravam-se os guerreiros Esní e seu companheiro Rabsfut. Os olhos de Rabsfut já se esbugalhavam de tanto arder, pois numa atitude paranóica olhava com extrema fixação as luzes vermelhas e amarelas daquele interior do carro em que estavam confinados. Esní por algumas vezes chamara-o estando até bastante preocupado com seu estado de fixação, não conseguindo qualquer resultado já que ete continuava com o olhar mais fixo que uma pedra, talvez estivesse ele abstraído da realidade num longínquo pensamento, perpassando mentalmente por sendas misteriosas e desconhecidas ou há a probabilidade de que estivesse mesmo tentando de maneira inútil contar as malditas luzes. Das duas uma alternativa seria correta: ou era um ser e suprema bestialidade ou extrema inteligência.
Somente quando houve um solavanco bastante contundente saiu de sua modorra pasma e patética, deixando que Esni lhe falasse:
- Paramos?
- Claro! Mas em quê raios de lugar puderam estes Bremenses ignóbeis haver levado-nos? – Respondeu Rabsfut levando à mão à testa e pensando que pela dor poderia ter levado uma boa sova naquele local.
- Nem sequer ouso imaginar: Já pensaste meu caro amigo como são poderosos estes Bremenses? Aquelas roupas mágicas dondem surtem do nada espadas e escudos brancos como a própria roupa...
- É certo isto que falaste Esni, já que num momento de batalha um guerreiro que nunca se dá por vencido até que esteja morto. Mas aquelas roupas... – Vacilou em sua fala como se a dor lhe custasse para pensar, e ainda com a mão na testa, num local onde se encontrava um colossal calo de coloração roxo-esverdeada concluiu de maneira contundente. – Aquelas roupas por certo eram amaldiçoadas!
- Amaldiçoadas? Viste tu alguma sombra tenebrosa sobre elas?
- Claro que não Esni!- Replicou agressivamente, notando que um movimento em sua cabeça no ato desta frase lhe proporcionara uma grande dor em alguns músculos do pescoço - Até pareces ignóbil como os Bremenses falando desta maneira. Não vês que se transformaram em espadas e escudos sem qualquer artifício sólido, achei que fosse pérfida ilusão e logo os repudiei, mas quiseram a morte dos nossos e por isso quisemos logo honrar a insígnia dos Lantes.
- Sim, agora compreendo. Certamente perdemos a batalha. Por quê não anda este carro? – Disse Esni meui confuso com a inquietude de seu companheiro que a cada vez que falava se tornava mais rubro como que ainda constrangido com a derrota.
- Esta parado?
- Assim julgo.
- Certamente devem estar espionando o que falamos. – Falou Rabsfut extremamente desconfiado, e já supondo-o ironizou. – Ei vocês! Vamos agora lutar novamente pois tudo não passou de um leve exercício de crianças... Vamos, façam algum,a coisa seus paspalhos...
- Creio que não escutam.
- É melhor mesmo, pois senão eu falava umas verdades bastante duras de ouvir à estes charlatões. Essas roupas malditas... Malditas roupas! Ai minhas costelas... – Então gemia dum modo bastante peculiar, fazendo com que Esni tivesse ímpetos de rir de suas próprias desgraças e da expressão retorcida do rosto de Rabsfut, mas logo pensava que melhor era silenciar e deixar que tudo prosseguisse do modo que fosse, pois já desfaleciam suas esperanças.
Antes que os dois continuassem a conjurar suas desventuras abriu-se uma porta em forma de circulo no carro, os 5 Bremenses disseram numa voz bastante ríspida:
- Podem agora sair!
- Com quem pensam que estão falando? – Perguntou Rabsfut bastante injuriado enquanto Esni permanecia submisso.
- Não devemos conversar mais que o estritamente necessário, pois são os senhores prisioneiros por desacatar as ordens da cidade do Gran ministro. Agora saiam de uma vez por todas!
- Está bem, Está bem. – Tornou Rabsfut já um pouco mais resignado, mas bastante desalentado por suas dores.
Com extrema dificuldade desceram do carro, atados por mão e pés mancaram através de um deserto donde notavam que num raio de muitos quilômetros nada se via senão o próprio horizonte, tão ressequido quanto o próprio chão em que pisavam, os cinco Bremenses lhes acompanhavam ora ajudando-lhes a andar ora ameaçando-os com as armas já que eles pareciam não entender completamente o que se passava.
O sol se punha numa coloração esplendorosa, mistura de tons vermelhos e roxos pregados nas nuvens, suas escoriações ardiam com o resvalar dos ventos que uivavam em suas orelhas como uma pavorosa assombração, o que trazia maior pesar aos seus pensamentos. Rabsfut parecia num tom bastante baixo falar sozinho, entretanto como Esni não sabia que era apenas uma cadência de pensamentos sem ordem específica olhava de esguelha procurando alargar seus tímpanos para captar algo, o que surtia inútil, apenas retumbava em seu cérebro os inócuos sons dos ventos desérticos.
Há a possibilidade de que já não houvessem quaisquer esperanças naquela triste cena, os dois caminhavam como escravos à caminho dos trabalhos eternos, ou quem sabe imaginavam que um precipício estaria por vir. Caíram de cansaço por duas vezes cada um, mas logo recebiam novas ordens e caminhavam mais. Quanto durara aquele calvário? Talvez cerca de quinhentos metros, mas tamanha era a emoção que lhes pareciam cinco ou dez quilômetros.
- Quê situação penosa... – Lamentou Esni com certo arrependimento
- Sim! Sssssim... – Resmungou o outro. – Talvez estejamos indo de encontro à morte, ou quem sabe, à algo pior...
- Olhe à frente: Quê pode ser aquilo?
- É um toten.
- Não, é largo demais para isto.
- Uma muralha pois. – Corrigiu Rabsfut.
- Sim uma muralha, talvez estejamos indo à outro país.
- Claro! Deserdados desta cidade.
- Ao que parece todo não indica um trágico fim. – Bufou Esni como que cantando uma vitória.
- Mas quê haverá do outro lado do muro?
Andaram então mais um pouco e viram que se tratava de uma extensa muralha, composta de tijolos ornamentados nos mais variados desenhos e representações. Distinguia-se naquelas pedras avermelhadas as figuras de animais, pessoas, e algumas figuras horrendas que pareceram segundo a interpretação de Esni demônios, monstros com enormes chifres e mandíbulas gigantescas, cavalos moribundos, zumbis e toda uma cidade desenhada naquela magnífica muralha. Haviam grandes portões de madeira já abertos, ao adentrarem uma absoluta escuridão dominou-os de modo que levou certo tempo a adaptarem os olhos à ela.
Tudo dentro da muralha tinha um aspecto cavernoso, estalactites, estalagmites, grandes pedras, bastante musgo no chão, umidade no ar e alguns poucos morcegos que ao entrarem se esvoaçaram às profundezas obscuras daquele lugar. Havia um ruído constante no ar, mas Esni não conseguia definir que seria aquilo, ora parecia alguém falar ora o som se intercambiava com sons bastante divergentes e loucos como gritos ou gargalhadas assustadoras que Rabsfut abismado com as imagens do muro interpretou como alaridos dum possível demônio. Mancaram um pouco mais à frente notando que havia um balcão de madeira branca com algumas falhas bem visíveis, e detrás do balcão sentados em duas cadeiras dois indivíduos fumavam cigarros e assistiam à televisão de maneira espantosamente grotesca, rindo muito e pulando da cadeira à cada palhaçada dos atores dum filme qualquer. Entretanto aquele era o ano de 4761 do 6o reinado, ano que jamais um ser humano pudesse saber que era um instrumento rudimentar daqueles, tão velho e tosco que a mais de mil anos não mais era utilizado. Esni e Rabsfut buscando nos recônditos mais adversos e intrínseco de suas memórias e imaginações compreenderam ou tentaram supor que aquele não seria um instrumento de morte mas sim algo extremamente inconveniente e sem utilidade alguma, e que aqueles seres repugnantes não eram demônios senão homens bastante conturbados ou doentes que precisavam de tratamento intenso para curar-se daquela insanidade.
Após suas observações iniciais, um dos cinco Bremenses, aparetando estar indignado com a postura daqueles dois homens se adiantou dois passos e batendo os punhos no balcão, dentre muitas folhas de papel que lá se encontravam falou impetuosamente:
- Que raios partam vossas consciência meus senhores!
- Hãn? – Disse um dos relapsos levantando-se de pronto como que retornando de outro mundo. E, numa atitude resignada e espalhafatosa aos olhos de quem via arrumou seu terno seurando-o com os punhos fechados com uma força superior à que era necessária.
- Parece que ainda não lograram deixar para trás este pérfido aparelho, já há muito ultrapassado. Trouxemos dois prisioneiros, por favor, deixem-nos nas piores de nossas celas.
- Certamente. Sim senhor, sim senhor. – Disse o outro desligando o aparelho enquanto acendia com um isqueiro uma grande vela.
O ambiente ficou todavia mais tenebroso, os cinco Bremenses se foram sem falar sequer mais uma palavra, enquanto estes dois indivíduos trajados de maneira pitoresca e desconhecida levaram os prisioneiros através dum sinuoso corredor, cheio de umidade e alguns morcegos. Alguns candelabros iluminavam o cavernoso caminho produzindo um cheiro de queimado bastante ruim. As roupas destes calhordas, pensou Esni perdendo-se em devaneios, são dum tempo já ultrapassado, roupas patéticas.
Plábius Honorério Hisfran e Comérgius Antónien, assim eram seus respectivos nomes, eram Bremenses que trabalhavam na área de segurança e carceragem daquela região hostil e perturbadora que era o deserto de Bremer. Entretanto tinham recebido uma educação totalmente distinta, seus costumes e hábitos eram segundo a opinião dos Bremenses, deploráveis. Plábius em especifico gostara muito das velharias antigas. Plábius e Comérgius eram cúmplices dum segredo que lhes agradava, pois aquela caverna ao mesmo tempo em que funcionava como uma prisão era também um túmulo donde se enterrava das coisas antigas, e os passatempos e hoobies dos dois respeitáveis gentlermens eram passar horas e horas assistindo seriados antigos, outros momentos ficavam numa oficina que haviam construído numa parte específica da caverna, montando parafernálias, trajes e comidas das mais diversas. Eram por assim dizer uns primitivos.
Rabsfut notou logo que conversavam duma maneira muito peculiar, pareciam mais cantar que falar, mas fingiu não perceber esta abismada diferença cultural e pôs-se a andar da maneira como haviam demandado. Passaram então por corredores ora espaçosos ora mais estreitos, dependendo da configuração natural de grandes pedras, estalagmites e estalactites, até que em certo ponto havia um orifício na parede donde saía um fio de água, este prosseguia no mesmo sentido que o corredor e inexplicavelmente engrossava, de modo que num determinado momento pisavam até as canelas aquela água agora barrenta.
As velas gotejavam cera quente na água produzindo um chiar fantástico, exalando um cheiro que se que misturava-se ao gélido perfume do negro riacho. Tomaram à direita donde estava um grande espaço com várias celas distribuídas, onde ouviam-se gemidos, conversas e lamentos.
- Entrem aí agora! – Falou Comérgius aos prisioneiros abrindo uma portinhola de ferro enquanto Plábius tirava as faixas brancas que atavam aos dois.
- Vamos seus imbecis, não temos todo o tempo disponível, há ainda muito à consertar... – Retomou Comérgius com escárnio e prepotência enquanto batia violentamente a porta produzindo um barulho ensurdecedor de ferro contra ferro.
- Muito à consertar? – Pensou Rabsfut desconcertado com a violência com que foram jogados subitamente dentro daquele local
Ao entrarem ficaram cegos por um momento já que havia intensa luminosidade dentro daquele salão, após verem muitas estrelas coloridas abriram os olhos e se depararam com um ambiente limpo de piso revestido em mármore trabalhado com esmero com figuras geométricas, teto ogival com vitrais laterais magnificamente imperiosos. Onde estavam? Num castelo? Numa igreja? Era um ambiente grande, de dez metros por dez, onde num dos cantos, numa grande mesa de pedra reluzente um homem trajado com largas roupas negras e um bracelete que de reluzir dava à ele um aspecto de Deus, com um óculos espelhados e cabelos penteados colados ao couro com gel especial. comia de maneira opulenta um manjar de frangos com muitos molhos e frutas. Logo que os viu virou tranqüilamente seu olhar como se quisesse dar àquele evento muita pouca atenção. Tirou tranqüilamente seus óculos e pôs nua cadeira toda ornamentada ao seu lado, logo levantou-se.
Havia naquele ambiente música de antigos tempos, tudo parecia ser antigo. Assim principiou Gantestru, um guerreiro pérfido e maldoso que fora preso à algum tempo:
- Vejo que me encontro com convidados em meu palacete.
- Palacete? – Mugiu Esni assustando-se com a soberba do outro.
- Estamos confinados num trecho de palacete se assim prefere. Sou Gantestru, muito prazer. De donde sois? Sprels? E quê fazeis em Bremer? Matar? Roubar?
- Não, nada – Desvencilhou-se Esni, enquanto que Rabsfut fougadamente ia ver que havia para comer já pegando uma e outra comida vorazmente. – Estávamos apenas de passagem, e..., e então ocorreu-nos de d de... – Gaguejou por instantes e continuou - Beber água dum lagos destes aí da cidade! – Falou definindo de maneira brusca suas faltas.
- Quê é isto? Não mais se podem tomar as águas salgadas?
- Foi assim que se passou. – Retornou Esni escondendo o secreto percurso de seu grupo de guerreiros.
- Eres um verdadeiro mentiroso. – Grunhiu Gantestru assustando até o espírito distraído e descompromissado de Rabsfut que comia agora às favas soltando de maneira espontânea e ingênua um arrosto bastante alto enquanto tomava um líquido verdoso bastante azedo. – Mas isto não têm importância pois todos somos, há tantos mentirosos quanto homens no mundo. Estejam bem vindos, e sintam-se por favor em casa, não quero prorrogar esta discussão pois vejo que estão estraçalhados – Colocou então alguns curativos nas pernas de Esni e gelo que dispunha numa pequena geladeira, que representava, mediante o desenvolvimento da época, um aparelho tão rudimentar quanto a televisão.
- Devemos, a pesar de todo o constrangimento agradescer ao senhor, descansaremos um pouco destes imprestáveis sofrimentos. – Disse Rabsfut, enquanto deitava-se numa cama bastante confortável, e após dois ou três minutos já dormia em alto ronco, o que havia desagradado bastante à Gantestru que não pode por isto deixar de rugir um pouco, o que era uma atitude bastante costumeira quando algo lhe desagradava, entretanto se conteve e deixou o outro dormir em sua cama pois havia um beliche velho naquele mesmo canto onde iria ele e Esni dormir após um bom jogo de baralho à moda antiga. Mais tarde certamente os três teriam uma boa conversa.
Enquanto tudo isto se passava Comérgius e Plábius os carcereiros trabalhavam intensamente na oficina, que era uma grande sala, iluminada por abajures e luminárias compridíssimas, no projeto mais audacioso que haviam pensado até então: terminavam os detalhes de um conversível maravilhoso de potência grande e que atingia uma velocidade de até 300 quilômetros por hora, o que naquele tempo nada representava, faziam aquele trabalho árduo apenas pela afeição que haviam criado aos tempos antigos, ou mesmo até por uma grave restrição de pensamento de cultura. A pintura por certo estava reluzente, um laranja escuro bastante vivo, todo material de que se utilizavam para construir houvera sido desenterrado com intensas escavações e reconstruído por eles mesmos, era uma verdadeira façanha aquilo que faziam.
Após muito tempo de trabalho, ao tardar da noite já exaustos jogaram as ferramentas ao chão ouvindo o estridente som produzido quando atingiram o chão, ficaram embasbacados com a própria obra, mas que carro magnífico era aquele! Será que estava correta sua construção? Ao menos estava justamente como viam nos seriados de televisão e em alguns fragmentos escassos de velhas revistas encontradas durante as intensas escavações. Realmente aquele era o resultado de trabalhos extremamente cansativos, mas que valiam a pena, pois era algo equiparável à uma obra de arte, estes eram naquele silencio magistral, mágico e místico perturbado apenas pelo barulho da televisão que ainda ligada emitia do átrio diversos documentários.
Quê haveriam agora de fazer? Subitamente pularam de alegria e se abraçaram, indo logo pegar alguns vídeos de corridas que tinham para assistir. A realidade deles era construída por fragmentos de tempos antigos, por isto, talvez por isto seus pensamentos eram quebradiços e a grande virtude era reconstruir tudo o que pudessem, era tamanha este amos ao passado que não tinham muita afeição pelas novas tecnologias de seus tempos. O que aos outros era obsoleto à eles era algo com sentido artístico, moral e ideológico maravilhoso, as próprias celas eram recontruções por eles feitas de ambientes arquitetônicos antigos. Gantestru por certo estava preso numa igreja recomposta do anos de 1200 da 1a era o que era chamado de Idade média, é bastante viável dizer que a maioria dos achados daquela caverna correspondiam à 1a era, num tempo em que se deflagrou a decadência dos reis.
Cada cela tinha características distintas, mas todas eram no geral de muito bom gosto, talvez os 10 Bremenses do conselho de Uranj não soubessem com exatidão como eram as celas, a verdade é que se distanciavam o máximo dos dois carcereiros, pois os julgavam bastante bestiais, e até pouco fora da realidade, mas como eram carcereiros assim deviam ser. Não tinham com Comérgius e Plábius muitas conversas, aliás: falavam somente o estritamente necessário com o intuito de o quanto antes se livrar deles. Uranj não se envolvia diretamente com subalternos entretanto sabia por motivos maiores que naquele local do deserto se localizava um grande cemitério de destroços antigos.
No outro dia, logo ao amanhecer, após a jogatina da cela Gantestru logo acendeu as fortes luzes da cela acordando repentinamente aos dois companheiros. O café da manhã havia sido trespassado pela portinhola pequenina ao lado da porta, tratavam-se de panquecas de pássaro. Maravilhosas segundo o gosto de Rabsfut que era realmente de uma distinção aterradoramente abrangente.
- Acordem! Acordem! Já é hora. Mas por demônios, como o senhor come! Aliás, deglute a comida de tal maneira que pode ter alguma indigestão.
- É que estamos cansados... – Retrucou Rabsfut sem graça, enquanto colocava uma panqueca e meio na boca
- Concordo plenamente com Gantestru, é melhor comer aos poucos para melhor digerir os nutrientes.
- Sim! Sim! Meus amigos... É justamente sobre isto que temos de decorrer agora...
- O Quê? Nutrição? – Perguntou de maneira espantosa Rabsfut ignorando qualquer que tenha sido a intenção da expressão.
- Não. – Respondeu o perigoso bandido, escondendo em seu íntimo uma vontade de esganar o outro por seu comentário burlesco, com um olhar inquisidor tornou. – Estás falando sério? Claro que não! Falei apenas de maneira figurada, uma abstração, estilo teatral, uma paródia, uma analogia por assim dizer: É que a tempos espero por esta oportunidade, e agora que vocês vieram aqui talvez consigamos numa atitude em conjunto lograr algo de útil, mas para isto deveremos mastigar as informações e digerir o plano.
- O quê? – Perguntaram os outros dois em uníssono.
- Há tempos esquematizei um plano de fuga.
- Existem perigos? – Perguntou Esni interessadamente, com pupilas latejantes de curiosidade.
- Viver é correr riscos. – Respondeu enigmaticamente gantestru sem que Rabsfut conseguisse digerir esta frase. – Vejam o quão ínfima foi tua pergunta, e não mais profira coisas do tipo, pois a partir de hoje meus comparsas de malevolência faremos o que definirei como aliança dos três cavaleiros. Sim! Sim! – Exclamava empolgadamente dando mais ânimo à sua própria palestra. – Peguem agora estas alianças de prata e coloquem de uma vez por todas no dedo indicador proferindo comigo as seguintes palavras...
- Claro, me dê aqui. – Falou Rabsfut julgando aquilo como uma brincadeira sem dar qualquer importância. – Vamos agora participar de um sarau poético...
- Não queira apresentar subterfúgios Rabsfut, não sejas tolo ou incoerente!
- Sim. Vamos às palavras? – Perguntou em tom de troça colocando o anel em seu dedo ao mesmo tempo em que pegava com a outra mão uma panqueca
- Denomino o grupo como aliança dos três cavalheiros, e que assim seja consumado o pacto de nossas vontades, levadas por atitudes conjuntas. Agora repitam isto, por favor, e em seguida tomem uma taça deste líquido verde amargo que está nesta mesa, assim será consumada nossa aliança.
- E agora? – Perguntou Esni após terem cumprido com todas as etapas daquela cerimônia ritualística.
- Agora estamos prontos, vejam só... - Disse ele tirando uma paleta de cobre de suas roupas negras, e utilizando-a para mover uma das lajes de mármore do piso, aqui está o mapa que em muitos anos consegui constituir deste lugar. – Seus olhos brilhavam, e percebia-se um certo êxtase em seus movimentos. – Estas folhas demonstram tudo.
- Humm... – Com uma expressão de extremo interesse, com uma das mão no queixo Esni olhou o mapa prostrado na mesa.
- Explicar-lhes-ei...
E assim prosseguiu-se uma detalhada gama de afirmações, palestras, que demonstravam por x e por y que havia certa possibilidade de sair-se de lá através de um espaço entre as rochas existentes num dos lados da ogiva do teto daquele cela-igreja. Perante o modo vivaz como Gantestru se expressava, os dois criavam certa afeições por sua postura contundente, ficando afoitos com perguntas cada vez mais interessadas preencheram aquele momento de estudos por aproximadamente 40 minutos.
Iniciaram então o plano de fuga com um esmero inacreditável, no qual com materiais disponíveis fizeram em silêncio uma fissura circular no belo vitral do teto, e como gatunos, subindo no próprio beliche adentraram como audazes escaladores no espaço circular. É certo que Rabsfut ocupava um maior lugar no espaço, de sorte que encontrou certa dificuldade em trespassar o orifício. Logo andavam num sinuoso e estreitíssimo espaço, ora agachados ora deitados, numa escuridão tremenda, iam apalpando a frente e inevitavelmente pisando ou chutando as mão de quem vinha por detrás. O mapa neste momento dera inútil, supõe-se que gantestru sabia com exatidão o itinerário. Alargando-se o buraco viu-se à frente uma flâmula luminosidade, eram castiçais e um grande lago negro com escombros por todos os lados.
- Então é verdade! – Proferiu embasbacado Gantestru limpando suas roupas dignamente enquanto se levantava saindo do túnel.
- O quê é isto? – Falou ingenuamente Esni levantando-se com bastante dificuldade já que seus ferimentos insistiam em fazerem-se visíveis. - Estava no mapa? Não me lembro deste lago... Mas quê são todos estes entulhos?
- É a própria imagem dum cemitério de tempos passados, vejam quanto lixo!
- Aqui estamos. – Iniciou Rabsfut com ares de dignidade enquanto pisava naquela terra úmida e verdosa. – Este lugar me dá arrepios! Vejam que cena: Ferros por todos os lados, entulhos flutuando, parafernalhas amontoadas.
- Vamos guerreiros, não devemos nos demorar, pois do contrário aqueles dois calhordas virão em nosso encalço. – Grunhiu o perverso ladrão com escárnio. – Entretanto antes devemos encontrar o riacho para sair deste lugar.
Esni tinha pavor de água, encontrou perdida uma prancha flutuante que usou como utensilho para flutuar, enquanto os outros dois foram nadando até a outra margem do lago, com muita dificuldade, atravessando muitos destroços, pegando per certo alguns deles para atacar aos guardas saudosistas. Rabsfut segurava entre mãos um cabo de aspirador, enquanto Gantestru uma lâmina de batedeira, não se sabe exatamente por quê entretanto Esni achou ocasionalmente que a prancha de surf incompleta teria outras utilidades, e tendo utilizado esta para flutuar na água não largara dela, fato que surpreendeu os outros dois.
- Não, não meus amigos, verão certamente como isto será de grande utilidade. Nunca sabemos quê se nos pode ocorrer, e além do mais me parece bastante bonita com estas cores estratosféricas, é... , sim, sim... vejo que estão um pouco desbotadas, talvez tenha sido o tempo, mas o que vale é a magnitude artística de toda a conjuntura. – E fazendo acenos cada vez mais enfáticos com os braços, ainda olhando queixosamente para Gantestru. – Não há motivos para que os senhores me repreendam, há por certo uma verdadeira utilidade... – E de maneira concisa prosseguia sua palestra.
- Vamos, por favor homem, contenha-se pois estamos chegando no balcão de entrada. – Falou atenciosamente Gantestru contendo-o pela veste já que ia ele mais à frente.
Ouviam-se mais à frente uma série de ruídos metálicos, ferro contra ferro, e ainda aquele impertinente aparelho que estava ligado. A luminosidade aumentava na medida em que andavam cautelosamente à frente. As duas cadeiras detrás do balcão estavam vazias, mais ao fundo via-se uma porta tão larga que pudessem preencher dez portas comuns, de lá de dentro provinha fortes luzes de soldagem. Gantestru estava hipnotizado por sua própria ira, e consigo levava os dois guerreiros para a morte derradeira ou para a glória da liberdade.
- Vamos! Oxalá consigamos uma boa ventura nesta empreitada. – Sussurrou o malévolo assassino lembrando o tempo em que era livre.
De supetão entraram por uma porta lateral mais estreita e viram à Comérgius e Plábius ocupados em suas laboriosas atividades, estando um deles com uma poderosa máquina de soldar nas mãos de pronto após o estupendo susto atacou à Esni com voracidade com aquele calor causticante que saía da maquineta, Esni queimou-se levemente no braço esquerdo, pois sendo inteligente usou a própria prancha de surf como um genial escudo. Surpreso Comérgius que não esperava isto jogou a pesada ferramenta em seus pés e tirou aquela máscara pesada do rosto, já que sendo muito limitada sua visão com ela era de extrema inconveniência que prosseguisse a arrastada luta com ela.
Rabsfut viu que Plábius portava grandes pincéis com as mais variadas cores, pintava por certo uma geladeira, vendo que o outro estava indefeso correu com seu cabo de aspirador em direção à vítima. Não esperando porém que o outro prodigiosamente lhe acertasse um grande balde de tinta amarela pela cabeça, quase se asfixiou, enquanto tentava com muito esforço tirar o balde recebeu forte pancada na nuca, entretanto gantestru conseguiu impedir que Plábius desse o golpe fatal em Rabsfut liquidando de vez com sua vida num ato de precisa pontaria, pois arremessou com espantosa força um ferro de passar roupas no crânio de seu oponente. Como um pateta Rabsfut perambulou por todos os lados da sala com o balde na cabeça tropeçando em toda sorte de instrumentos e apetrechos, até que por fim conseguisse se livrar daquele incomodo.
Comérgius desesperou-se e vendo que se encontrava em sérias desvantagens tratou logo de correr, mas Esni que pulava num pé só o agarrou pelo paletó pardacento e seboso pedindo as chaves da grande porta, o que foi concedido com o mesmo desespero de antes. Gantestru deu um grito de vitória e ao ver mais ao fundo um grande e belíssimo exemplar de conversível perguntou o que era e para quê servia aquilo ao conhecedor Comérgius, este sentindo-se sob fortes ameaças logo foi obrigado à lhes fornecer as chaves, e como se não bastasse ensinar-lhes a dirigir teve ele de dirigir o carro em direção ao deserto de Bremer, o que lhe dava sentimentos e grande entusiasmo, pois aquela na realidade era a estréia do funcionamento daquela máquina do passado: um conversível de muita beleza e perfeição. Ficou exasperado de surpresa sentindo como os ventos lhe açoitavam os espessos cabelos, o sol batia no rosto, e podia sentir a velocidade entrar até os ossos. Os próprios cabelos de Rabsfut preenchido com aquela pasta amarela com os fortes ventos rapidamente começam a secar de modo que a pasta ficava cada vez mais consistente, num determinado momento ficou seu rosto com uma configuração horripilante, esforçava-se por abrir os olhos que ardiam muito. Tanto corria que até Gantestru chegou a ordenar-lhe que fosse mais devagar, já que mesmo sendo bastante devagar para a época da 5a era havia a ressalva de que aquilo era em real uma verdadeira sucata, por menos que pudesse aparentar.
De fato funcionava, Comérgius dava gritos de glória juntamente com os ladrões que deveriam estar sob sua guarda, todos pareciam passar por um êxtase alucinado, não se sabe se com a máquina ou com a liberdade. Foram então em direção dos mais longínquos confins do deserto.

CAPÍTULO XIII
NA CASA DE FANTR

Ainda estafados pela ascensão do Salão de Namblen os guerreiros Jalitre o forte, Quemet com seus negros bigodes, Lauren bastante contraditório, Spangrir o arqueiro alto e esbelto e o Gran Ministro Uranj desceram rapidamente o edifício pegando seus cavalos, todos os cidadãos que se prostravam na base de comendo olhavam-nos extasiados com o fato que Uranj se havia unido a eles, entretanto como muito respeitavam o ministro por toda sua sabedoria e poder suas opiniões a este respeito foram bastante positivas.
Como já há 10 horas estavam numa água relativamente fria tiveram de comer um bom manjar antes de sair, ali mesmo na base de comendo. Após a refeição noturna decidiram sair com seus negros e belos cavalos, que estavam já descansando na margem de um dos lagos, que de maneira enigmática refletiam as extraordinárias luzes das estrelas, era por certo um momento de crucial reflexão para Spangrir, que pensava na possível falência da missão pois havia grande contrariedade no ar, mas no momento em que de maneira sublime contemplou aquele lago magnífico lembrando-se dos tempos em que vivia em Sprels, antes da decadência provocada por Grauder. Naquele tempo era ainda uma criança ingênua e brincalhona, até que em sua adolescência pela consangüinidade sentiu na pele as obrigações de ser um verdadeiro Lante, sim: um guerreiro que deveria lutar contra as obscuras forças que pouco a pouco dominavam o mundo... Verteu uma lágrima que resvalou pela face. Quemet notou que isto ocorria, pois o psiquismo de todos os Lantes era vivamente interligado de maneira que se percebiam sentimentos e pensamentos.
- Meu amigo, certamente são nobres seus pensamentos, vejo que há grande beleza nesta paisagem... – Falou Quemet colocando as mãos nos ombros de Spangrir.
- Lembro-me de tempos passados, nos quais a paz sobrepujava os devaneios da mente humana.
- É certo que hoje tudo se difere, mas a esperança está viva. – Tornou ele passando os dedos pelos bigodes negros penteados para os lados. – Não estamos nós acreditando nisto?
- Claro. – Quase sussurrando respondeu Spangrir enquanto sua mente transpassava os antigos tempos, mas onde havia uma grande dualidade em seus pensamentos, pois as estrelas que estavam na água pareciam amainar sua conturbação.
Uranj vinha de dentro do prédio, já com os 5 auxiliares, enquanto os 4 guerreiros subiam em seus cavalos. Logo foram fornecidos cavalos para os Bremenses e todos em uma comitiva de dez pessoas iniciaram a cavalgada noturna através das sendas do deserto. Cavalgada esta que durou toda à noite, e quando nascia o sol novamente estavam todos extremamente estafados, mas prosseguiam caminhando para a muralha da prisão.
É evidente que ao chegarem depararam-se com o trágico cenário de um dos carcereiros não morto mas desmaiado com um grande calo na parte posterior do crânio, totalmente desnorteado não conseguia proferir frases com nexo de entendimento, o que era provável era que a pancada lhe houvesse deixado louco, os Bremenses que não tinham apreço em se envolver com as loucuras de Comérgius e Plábius logo acharam ser mais uma de suas pirraças, Uranj, indignado com a falta de profissionalismo logo disse em tom de revolta:
- Mas que loucos são estes carcereiros. Deveríamos contratar outros...
- Gran ministro, disse um dos 5 Bremenses, concordo com tua opinião. Devemos entrar a ver os prisioneiros?
- Claro, entremos.
A comitiva entrou então nos sinuosos corredores daquela prisão, e quando se direcionaram às celas dos dois logo notaram que algo de muito errado estava acontecendo, pois além do beliche estar posicionado de maneira qualquer no centro da cela um grande buraco no globo de vidro da pequena igreja-cela. Numa tentativa de averiguar quê é que exatamente havia ocorrido entraram dois dos Bremenses da comissão pela passagem, sem encontrar nada, todos ficaram desalentados com a descoberta. Agora tudo fazia sentido: Plábius não estava dormindo senão seriamente contundido.
Tentaram reavivar o carcereiro com água, ele despertou então bastante dolorido e pedindo clemência.
- Não vês que somos nós? – Falou o ministro tentando trazer-lhe à realidade. – Como é que fugiram estes prisioneiros?
- Gran Ministro? É o senhor quem fala? Sim... Fugiram após intensas lutas... Estou com dor de cabeça... Onde está nosso conversível?
- Conversível? Quê é isto? – Perguntou Lauren tentando inutilmente secar seus pés balançando-os freneticamente.
- Um meio de transporte bastante peculiar que era utilizado na era 1a, conseguimos reconstituí-lo, entretanto vejo que me roubaram.
- Donde está seu comparsa? – Disse o ministro colocando as mão em sua testa e revolvendo o suor que era abundante.
- Não sei. Acaso estes assassinos seqüestraram-no.
- Não são assassinos – Gritou Lauren extremamente conturbado com a designação de seus comuns. – Mas guerreiros como nós outros.
- Vamos embora meus amigos, não há nada mais que possa ser feito para remediar esta situação. – Falou cabisbaixo Spangrir pegando seu arco que havia deixado recostado num dos cantos da sala, e saindo dali cabisbaixo enquanto os outros olhavam-no sem nada dizer.
- Vamos! – Gritou afobadamente Lauren, resmungando algumas palavras baixas que se referiam ao fato de ele haver molhado novamente suas roupas.
Havia ainda tempo de chegarem até a cidade, pois era relativamente cedo, Uranj então gentilmente convidou à todos para que fossem conversar com um homem muito sábio que acaso poderia ajudar-lhes na empreita. Chegaram então ao entardecer numa destas casas da cidade, feita daquele material tão belo quanto o diamante, detalhes como estátuas de belos bustos, figuras femininas belíssimas trajadas em vestidos suntuosos tudo em prata e diamante. Dois grandes lagos de águas escuras se prostravam nos jardins, lateralmente com relação à uma bela escadaria de diamante ou o material que fosse aquilo. Três belíssimas colunas laterais de cada lado da escadaria, e um belo portal na entrada da casa. Os guerreiros ficaram maravilhados com tamanha beleza artística das imagens de prata, duvidavam a possibilidade de tal criação.
Subiram então as escadarias deixando seus cavalos com um encarregado especial que os recebeu no jardim. Um corredor então os levou até um átrio com muitos quadros de belas paisagens, após o átrio foram recepcionados por um senhor de avançada idade, este era Fantr um homem de confiança de Uranj, ao qual muitos segredos Uranj confiou. O Gran Ministro apresentou todos ao velho ancião, todos logo notaram a envergadura da figura que se lhes prostrava diante, pois somente seu olhar já tinha um efeito devastador, se sentiam pequenos.
De fato a sapiência daquele ancião era tamanha que trazia sempre uma cota de mistério e imponência ao arredor, bem ambientados e recepcionados com iguarias entraram num cômodo bastante diferente daquela casa, era bastante antigo, uma lareira com três grandes bustos ao lado apoiados em belos pedestais, os bustos pareciam ser construídos de marfim, e representavam três figuras idosas. A saleta era uma penumbra, até que se acendesse a lareira com troncos que ao queimar estalavam produzindo um agradável barulho.
Um servidor trouxe bandejas com frutas e carnes diversas, que cheiravam maravilhosamente bem, o ar já começava a esquentar na medida em que o fogo da lareira aumentava, e Fantr falava com bastante calma, e com aquele enigmático brilho nos olhos que tinham todos os Bremenses quando falavam ou olhavam alguém. Os forasteiros sentiam que o próprio olhar dizia muito mais que as frases que naquele momento eram proferidas, o que lhes deixava ainda mais curiosos, em real era suprema verdade que os Bremenses falavam muito mais com o olhar que com as palavras.
- Sede bem vindos ao meu humilde lar ó guerreiros Lantes Sprelenses, conforme me apresentei no átrio sou Fantr, e como sei por motivos maiores que agora sois detentores dos segredos do Salão de Namblen podeis ficar mais à vontade quanto aos assunto à que viesteis aqui.
- Sim, - Principiou quemet alisando com uma das mãos seus bigodes negros, atitude que demonstrava sua nobresa e sutileza, e com a outra mão portava um longo garfo de prata preparando para por na boca um suculento pedaço de cante dum réptil bastante comum naquelas paragens. – Sem sombra de dúvidas temos motivos bastante plausíveis para estar aqui – Fez neste momento breve reverência ao ministro, que respondeu com um meneio de cabeça. – O fato é que estamos em importante missão, alguma eventualidade por certo negativa foi inevitável, mas pretendemos encontrar o que se conhece por Luz de Chaug, já que o mundo não está a salvo a menos que este aparato esteja em nossas mãos. Há algum tempo tivemos uma visão em uma de nossas reuniões, onde o Salvador nos disse que Grauder ainda estava em estado latente vivo, e se reconstituindo, mas não sabemos onde raio está tal de Luz de Chaug... – Silenciou por momentos como que pensando sobre o que havia dito, e retornou a falar, enquanto os outros guerreiros comiam, Lauren sobretudo fazia um alarido com sua maneira peculiar de mastigar. – Luz de Chaug, disse que estava num lago, mas sequer imaginamos que lago possa ser...
- Sim. – Disse o ancião com voz um pouco rouca, pegando algumas uvas e tirando um gorro com ornamentos negros da cabeça de escassos cabelos. – Noto que a gravidade deste caso é bastante grande. – Deixou o gorro num dos braços de sua poltrona. E fazendo gestos com a mão redargüiu. – Eu sei donde se encontra esta pedra tão valorosa chamada Luz de Chaug... Muitas lendas dizem ser este precioso pertencente à dinastia dos Lantes, sabeis pois que onde quer que se encontre é pertencente à vocês! E dizem também estas antigas lendas que foi enterrada juntamente com o corpo do mais antigo de todos os Lantes: Umlas.
- Está então num túmulo? –Perguntou Jalitre, que comia frutas e carnes com as mãos com bastante vontade em um prato de cobre, e sentindo pouco de inveja por não ter o mesmo sangue dos Lantes.
- Não somente num túmulo, - Respondeu Fantr, assustando-se ao mesmo tempo com a maneira animalesca de comer do anão Lauren. – Mas o cemitério de todos os Lantes.
Os Guerreiros então neste momento ficaram embasbacados pois não sabiam da existência de tal cemitério.
- As idéias são um contrasenso senhor Fantr. – Disse receoso Spangrir o arqueiro, enquanto Quemet prosternou-se parando de mexer no bigode. – Veja que ou está este aparato localizado num lago ou num cemitério. Serão as informações do Salvador enganosas? Será um falso? Talvez um espião de Grauder ou mesmo uma ilusão criada por pérfidos sonhos de um passado já consumado...
- Há muitas coisas na vida, meu filho, que parecem ser um contrasenso, mas que nada mais são do que a única solução existente: o único caminho. – Falou concisamente Fantr. – Não fique remoendo idéias fantasiosas, viva a vida do modo como ela se lhe apresenta hoje, vamos, - Fez então uma larga menção com os braços enquanto seus sobrolhos se elevaram num gesto afetuoso. - agora que já estão todos saciados vejo que precisam de repouso... Tenho aqui aposentos que julgo adequados para vocês, irão hoje descansar aqui conforme as recomendações de meu caríssimo amigo Uranj. Venham!
Então levantou-se com um pouco de dificuldade com o auxílio de um de seus servos, e andou num dos corredores de cristal da casa, era um material semitransparente magnífico, os aposentos estavam mais ao fundo da casa, e como a sala tinham uma semi obscuridade constante, muitas camas belíssimas de madeira lá estavam, haviam ainda dois sofás de Drojaz com suas exuberantes cores. Lauren ficou empertigado com aquele sofá, achando que eram feios, Spangrir educadamente perguntou à Fantr se poderiam ter a honra de experimentar aqueles sofás que conforme o conselho dos 10 lhes haviam dito proporcionam um tipo de descaso bastante peculiar e revigorante. O que foi prontamente concedido, e veementemente contrariado pelo anão, que sumamente mostrava sua impertinência, não gostara definitivamente dos sofás e fazia questão de incomodar à todos, inclusive à Uranj com suas proposições chulas.
Os guerreiros então ficaram por momentos à sós no quarto, assim tiveram tempo de trocar opiniões à respeito das belezas dos jardins da casa e sobre as conversas que haviam tido com Fantr, e concluíram de pronto que aquele homem era de sapiência descomunal. Mas Ainda haviam muitos receios no grupo, o medo por momentos dominou à todos quando o assunto da discussão recaiu no Portal de Namblen, ficaram enregelados porque se lembraram do momento em que Relirí transpassara aquele portal. Teria ele morrido? Seria Estevan uma memória ilusória dos tempos malignos de Grauder? Estavam pois correndo atrás de uma pérfida e mentirosa missão? Por momentos após este comentário ficaram num silêncio mortal, durante o jantar na casa de Rabsfut muitos desacreditaram no que havia acontecido... Estariam estes certos? Logo a desilusão destas afirmações se desfragmentou, e todos de maneira escassa começaram a fazer comentários à respeito de que em hipótese alguma poderiam correr riscos, o melhor seria prevenir uma suposta reviravolta de Grauder que confiar na sorte e levar a pior.
- Sim! – Exclamou Jalitre com vigor, enquanto tirava aquelas roupas brancas dadas pelo ministro deixando à mostras seu corpo de músculos colossais, quase que desproporcionais, e sentindo o quão leves elas eram as roupas. – Devemos confiar em nossa empreita meus amigos, não sou um guerreiro qualquer, tenho tato e sensibilidade para notar que o mal pode persistir... – Balbuciou palavras inintendíveis e sentando-se em sua cama prosseguiu. – A cidade há pouco fora completamente destruída, devastada por este monstro de proporções incomensuráveis, nem começamos sua reconstrução e nos aparece uma visão dizendo que tudo está perdido, que o Dragão viverá se acaso não tomarmos uma atitude... Confiemos no Salvador, como muitas outras a cidade será reconstruída, mas antes disto o mal deve ser completamente exterminado... Haverá acaso uma banheira de águas mornas por aqui? Preciso urgentemente de um banho...
Lauren já há muito tempo dormia num sono pesado e com um ronco bastante alto, mas escutara os assuntos discutidos, somente se encarregou de fazer muitas reclamações a respeito de muitas coisas, a iniciar pelos sofás de Drojaz, logo falou que suas roupas sempre se molhavam e estava ficando por isto com mau cheiro nos pés e nas pernas, entediado caiu como um defunto e dormiu como uma múmia. Os Lantes Quemet e Lauren ouviram as palavras de Jalitre com atenção dobrada e logo concordaram concomitantemente com suas palavras, mas agora deveriam descansar, pois teriam somente por poucos momentos de sono. O que foi pensamento absolutamente errado pois seus sonos foram bastante conturbados, uma dúvida cruel os perseguiu durante toda a noite: Acaso não seria a missão uma falsa fantasia, uma ilusão?
Pela manhã despertaram pouco conturbados com o sono, mas logo se desvencilharam das idéias antagônicas e após se alimentarem de muitas verduras e frutas foram convidados por Fantr à uma caminhada pelos arredores da cidade. Logo ao saírem, notaram todos a singular beleza proporcionada pelo nascer do sol, já que seus raios perpassavam de maneira extraordinária as paredes dos edifícios e casas de cristal produzindo em toda a cidade um efeito de luzes coloridas que atravessava por todos os lugares, como num prisma entretanto em milhares de lugares ao mesmo tempo. Logo que desciam as escadarias da casa de Fantr puderam notar este acontecimento, e ficaram paralisados diante daquela visão, até que Fantr lhes indicou o caminho a ser tomado. Passaram pelos extensos jardins da casa, que tinham nas laterais dois lagos de formato oval, no centro destes dois lagos estava o suntuoso jardim, com uma série de estátuas de prata, representando muitas cenas de pessoas conversando, bustos, estátuas de tamanho real, as feições das estátuas eram todas alegres, pareciam conversar entre si, e sorrir, sempre sorrir. Se tivessem um pouco mais de coloração poder-se-ia confundir com pessoas reais.
Assustaram-se e se extasiaram ao mesmo tempo com aquele jardim, até que atingiram as ruas da cidade numa caminhada leve e descompromissada, Fantr caminhava a passos curtos com o auxílio de uma belíssima bengala de prata, na qual havia a escultura de um rosto feminino com esvoaçantes cabelos, estava trajando uma batina negra e esbelta com detalhes em branco, assim como sua touca, seu olhar era brando, mas as palavras sempre concisas e veementes.
- Mas que magnífico jardim! Têm odor de flores agradabilíssimo, e estas estátuas todas... – Disse quase que hipnotizado Spangrir sentindo o frescor da manhã enquanto que uma gama de luzes coloridas perpassava seus cabelos longos, encaracolados e loiros. – Estas estátuas de belíssimas donzelas sorridentes, por momentos pensei estarem elas vivíssimas, e ainda que olhavam diretamente a min... estranho... Há algo de enigmático.
- É de fato uma absoluta verdade as impressões que tiveste deste jardim. – Respondeu Fantr fazendo alguns gestos particulares com as mãos. – Há muitas coisas que não podemos entender. As estátuas pois se estão vivas ou mortas, tudo é uma verdadeira incógnita.
Caminharam então através de muitos outros lagos, vendo que naquela cidade havia incontestável tranqüilidade, o povo todo caminhava pelas ruas a pé com aquelas mesmas roupas brancas, e estranhavam muito Lauren, que além de ser muito mais baixo que todos usava suas roupas cor de barro com umas luvas amarelentas que usava para a espada, mas que nesta caminhada fizera questão de usar.
Andaram até um lugar bastante diferente pois parecia uma pirâmide, mas sua estrutura não era alicerçada num triângulo senão num circulo, e composta daquele mesmo material dos edifícios, nesta pirâmides haviam muitas pessoas sentadas em seus degraus, enquanto que no topo havia um homem segurando em dois globos luminosos escuros, e sua voz se propagava de maneira inacreditável, falava sobre acontecimentos da cidade como os alimentos do mercado tal, os negócios do mercado de tecnologia, vendas, inovações, educação, arte e filosofia. Fantr levou-os para a pirâmide para que ouvissem às noticias da cidade, ficaram maravilhados já que em Sprels não havia isto. No retorno da longa caminhada ao passarem por algumas multidões de pessoas notaram que todos que estavam no caminho se curvavam à Fantr devido à sua importância e sabedoria.
Ao chegarem novamente na casa de Fantr comeram um belíssimo manjar de pães com pastas especiais, dos mais variados sabores, acompanhados do mais requintado vinho de frutas especiais, outros preferiram a cerveja de Bremer, que era de fato bastante encorpada com uma cor que ia do laranja ao preto. A sobremesa foi servida em magníficas bandejas de cristal, eram pequeninas bolinhas de chocolate e um bolo que era à eles já conhecido em Sprels nos bons tempos, bolo das duas cores, tinha dois sabores e era metade verde metade amarelo.
- Caríssimos convidados, tereis o prazer de ouvir agora a min, pois cantarei uma canção em homenagem à missão que vos propuseste à cumprir. – Disse Fantr colocando as mãos num intrumento de música muito similar à um piano de calda que naquela saleta de comer estava, mas que era composto por uma série de infindáveis botões.
Então tocou-se belíssima música que fazia emergir nos expectantes súbitas emoções, haviam momentos de graciosidades alternados por um certo romantismo e partes imponentes, fortes como forte deve ser a vida, noutras partes havia sensibilidade de tamanha virtude que até Laurem, considerado uma pessoa insensível e tosca chegou a verter duas lágrimas, fato que negou veementemente dizendo que tratava-se simplesmente de suor já que estava não se sabe por quê bastante nervoso e tenso naquela ocasião.
- Há muitas coisas que sentimos e simplesmente há algo que prevalece nas pessoas que faz com que elas nada precisem falar para algo expor. – Desse Fantr embalado pelas emoções da música, à qual todos elogiaram vivamente quase esquecendo donde estavam ou a que estavam no mundo. – Notei o interesse que tiveram por meus jardins, e vejo a necessidade de explicar-lhes algo de supra importância, mas antes disto quero que descansem um pouco mais, podem se direcionar aos vossos aposentos meus filhos, que algo muito importante voz espera, importante e tão distante quanto possa parecer outro planeta. Lhes encontro daqui à duas horas, pois tenho de me ausentar neste tempo. – E tendo dito isto saiu da saleta sem dar mais satisfações, tendo ficado na porta uma atenciosa criada, com uma roupa verde escura que lhe cobria de maneira belíssima, com aquelas mesmas fitas das roupas brancas dando à ela um aspecto entre místico e divino.
Os guerreiros ficaram prosternados quando Fantr saiu da saleta de músicas daquela maneira enigmática. Era verdade que todos, sem qualquer exceção sentiram pelo jardim uma estranha afeição, algo como uma lembrança de algo que nunca aconteceu, o que em suma era bastante estranho, as estátuas de belas donzelas, o modo como as personagens estavam esculpidas, suas expressões, os músculos, as belezas de instrumentos como harpas e guitarras que tocavam, belos animais quadrúpedes como gatos, cavalos com magníficas asas de penas, todos em pedras de tons esverdeados. Outras estátuas eram de mármore cor roxo com ranhuras brancas, as cenas representavam ora danças circulares, brincadeiras e jogos de crianças, grupos correndo à algum lugar que parecia ser bastante aprazível, isto os guerreiros supunham pelas expressões de entusiasmo que tinham aquelas figuras que ao contrario de paralisadas transmitiam uma intensidade de movimento fora do comum. Numa das ocasiões em que andavam aleatoriamente pelo jardim, deleitando à cada cena que viam Lauren, o anão, extasiado comentou de maneira inusitada que aquelas estátuas pareciam ser mais expressivas que muitas pessoas vivas que ele havia visto. Comentário este que trouxe boas risadas à comitiva que em tom de aprovação concordaram concomitantemente com o sábio comentário de Lauren, que pela primeira vez pareceu não reclamar de algo. Noutra ocasião Spangrir, o esbelto arqueiro disse que sentia-se maravilhado estando ali na casa de Fantr, mas que tinha sentimentos confusos naquele jardim já que quando ali estava lembrava-se ou tentava lembrar de algo que não havia vivido, o que foi da parte de todos os outros notoriamente fidedigno já que todos sentiam esta estranheza.
Sem que nos atabalemos de maneira confusa na ordem dos fatos retornamos à sala musical, onde os guerreiros conversaram brevemente após a saída do ancião, aproveitando a ocasião para comer algumas frutas e sementes que desconheciam a procedência por suas cores amareladas, o que em Sprels nos bons tempos d fato não existia.
- Tenho curiosidade em saber qual a novidade que nos será contada por Fantr. – Comentou Jalitre olhando para o chão numa atitude imaginária.
- Não queira se adiantar aos fatos! – Falou quemet, sem deixar de lado sua insólita mania de alisar os bigodes, enquanto seus olhos brilhavam, pois neste momento não pensava especificadamente nisto, mas sim em sua esposa, que no intuito de se afastar do poderio avassalador de Grauder se havia distanciado a terras longínquas.
- Isto é verdade. – Confirmou Spangrir, enquanto o anão ouvia resignado. – Devemos nos contentar com o que nos foi proporcionado, a pesar de que, me sinto muito incomodado por Relirí, que dentre nós é o mais conhecedor, o mais velho e por certo o homem que tomaria nas mais diferentes situações as mais aconselháveis e exemplares atitudes. Não à toa meus amigos, foi justamente quem tomou a corajosa decisão de entrar no temido Portal de Namblen. – E tomando um tom da mais pura tensão e preocupação continuou enquanto os outros escutavam atenciosamente, pois aqueles que estavam mastigando no mesmo tempo em que ele proferiu estas palavras pararam de mastigar, os que cutucavam a mesa despreocupadamente já não mais o faziam. Quemet, na medida em que ouvia começou a ficar tenso de modo que das ranhuras de sua testa três gotas de suor deslizaram para suas ressequidas bochechas. – Sim meus amigos: aquele era um momento crucial, meus pensamentos eram pavorosos, minha alma clamava por clemência do destino, todas as memórias de minha vida me açoitavam, e indevidamente como vocês não me resignei a enfrenta-las. Todos os seres que vivem neste mundo certamente temeriam pelo portal, pois ansiamos pelo futuro enquanto do passado enterramos os medos e desventuras, como covardes que fogem da própria vida. Sim... – Devaneava, como que perdido em si mesmo Spangrir, como se estivesse novamente no próprio Salão de Namblen. – O zumbidos que aqueles vertiginosos giros produziam me inundavam a alma como um silêncio mortal, um vazio inconcebível a qualquer raça deste mundo. E logo o medo, o medo de min mesmo. O que é por certo o maior medo que alguém pode sentir, pois até mesmo de Grauder, naquela sangrenta batalha que tivemos tive menos pavor que neste momento... Medo... O portal é um arcabouço da vida de quem o transpassa... É isto...
- Todos se sentiram assim. – Redargüiu Quemet, limpando o suor que lhe escorria nas magras faces com uma das faixas de sua roupa, que era de grande maleabilidade. – Ao menos assim o julgo. – Proferiu quando olhou a todos, um de cada vez nos olhos como se quisesse confirmar sua afirmação.
Perdurou um silêncio cúmplice após esta frase, de modo que os guerreiros ficaram com medo do que poderia haver acontecido com Relirí, entretanto confiavam em Uranj e isto lhes revigorava os ânimos. Foram então conforme o convite do anfitrião descansar nos aposentos, onde discorreram sobre o que poderia haver acontecido aos desgarrados e patéticos guerreiros Esni e Rabsfut, na verdade preocupavam-se mais com Esni que com o outro, pois lhes era mais caro por ter atitudes mais digna e compatível com um nobre cavalheiro, não simplesmente pelo fato de que Rabsfut não fosse um Lante. Haveriam entrado em óbito?

CAPÍTULO - XIV
ENTREGUES À SORTE DO DESTINO


Não mortos mas animados com a sorte de terem conhecido uma pessoa tão perspicaz quanto Gantestru, e por incrível que pareça passaram a se afeiçoar muito por Comérgius. Corriam de maneira alucinante pelas terras desérticas de Bremer, uma terra dura e árida com pequenos pedregulhos e alguns cactos, os quais eram motivos constantes de interessantes manobras experimentadas pelo audacioso piloto. Comérgius parecia ter uma personalidade muito forte, seus olhos estralavam quando, enquanto os ventos lhe resvalavam na face, falava sobre antigas histórias que conhecia relativas aos reinados da 1a , 2a e 3a era.
Eram histórias muitas vezes escabrosas, de diversos tipos de ladrões, mas a maioria delas eram burlescas e palhaçadas das mais diversas. De maneira pesarosa a maioria dos contos espalhafatosos eram estranhamente entrecortados, e percebia-se claramente muitos momentos de improviso, outros de dúvida pois entrava em antagonismo consigo mesmo nas histórias de modo que quando isto ocorria ficava constrangido enquanto todos riam a rodo, pedindo então que outra fosse contada. Isto ocorria porque todo o material que construira sua cultura era provindo das profundezas do lago, donde no entulho estavam discos, fitas e muitos filmes, os quais com muito esforço ele e seu amigo lunático Plábius haviam reconstituído com muito esforço parcialmente o material, de forma que os seriados de Tv. Tinham de ser interpretados de uma maneira bastante abstrata criando pontes e improvisos dos mais variados trechos, de modo que e parecesse a uma história com começo, meio e fim. Noutras vezes Comérgius ria de si mesmo, pois começava a falar, e quando no final da burla lembrava-se que o começo estava errado tinha de retornar mudando toda a essência da história, de modo que isto fazia com que os circunstantes ficassem não mais confusos que ele.
Era portanto uma pessoa bastante peculiar, e o mais estranho era o modo como havia se adaptado aos fugitivos, supunha-se que estivesse contra à vontade, entretanto sua alacridade, espontaneidade e vigor eram tantos que parecia ser ele o mais afobado por estar fugindo das muralhas prisionais. Fato que de inicio pareceu estranho aos fugitivos, mas que depois de certos momentos foi motivo de palhoça, pois notaram que Comérgius era um tremendo pateta.
- É isto que digo! Os tempos antigos são tão terrificantes quanto engraçados! Vejam vocês, que há muito mais violência que nos de agora, as pessoas se auto degradavam, por outro lado haviam muitos palhaços...
- Estas histórias que contaste são prosaicas concepções do passado. – Concluiu Gantestru com ares de sapiência. – Mas não julgo que qualquer guerra tenha matado mais que o Demônio o tenha feito.
- De fato. – Confirmou Rabsfut, tirando com os dedos aquela tinta que já ressequida se grudava de forma extremamente desagradável às orelhas e olhos, e de fato o gosto lhe trazia anciã de vômito. Afirmação que segundo ele consolidava uma maior confiança com Gantestru, pois não queria em hipótese alguma que ele soubesse quem eram eles e qual a missão que lhes trazia à Bremer. – Este demônio por certo é o acontecimento mais terrificante dos últimos tempo...
- Como dizem isto? – Contestou, com bastante indignação o carcereiro, no momento em que desviava de um grande cacto com uma vertiginosa curva à esquerda, enquanto todos os outros se seguravam com todas as forças nos assentos para não tornarem-se pássaros do deserto. – Tampouco os senhores conhecem as três primeiras eras de nosso mundo, me resigno a dizer isto, foi tudo enterrado meus amigos, não temos mais passado, e dele nada conhecemos, nada podemos aproveitar. Tudo enterrado, tudo perdido... – Disse tristonhamente.
- Melhor que seja assim. – Volveu Gantestru com firmeza na voz, que até assustava de tão ameaçadora. – O passado pérfido e vulgar de nossa civilização para nada presta senão de servir de alimento para os vermes da terra, é ainda bastante capaz de que estes coitados morram após comer de congestão! Há, há, há... – Riu sarcasticamente, enquanto o motorista se conformava em ouvir as palavras do locutor.
- Não, mas quê dizes? – Retrucou após breve silêncio Comérgius, olhando de maneira alucinada ao velocímetro para sempre manter uma velocidade limítrofe da máquina. – É certo que toda história foi deteriorada, mas não que esta não presta para nada... Uma civilização sem história é uma civilização sem identidade, por isto... Por isto nossos tempos estão tão conturbados, sim: É isto! – Exclamou como que apreciando de maneira inesperada suas próprias conclusões. – Os tempos atuais perderam a identidade, o caos do mundo proveio da ausência de histórias, tudo perdeu-se, o mundo conturbou-se, desfaleceu, tudo agora será uma grande ilusão.
- Não concordo com tua opinião. – Colocou pausadamente Esni, que a pesar de ser um anão sem discernimentos refinados defendia à todo custo à honra. – Até parece que quem está conturbado é você.
- Mas, mas... E o Dragão. – Retrucou novamente com uma expressão de medo nos olhos, meio apavorado.
- Grauder há muito fora derrotado! – Respondeu Rabsfut, lembrando-se de que era uma mentira, pois nem tudo estaria salvo segundo algumas proposições.
- Não queiras brincar comigo... É certo que já fiz muitas burlas, mas não sou pateta nem uma besta! – Enfadou-se o outro.
- Não és, mas és um alienado. – Redargüiu, todavia mais enrubescido o gordo, que já tinha ímpetos de dar-lhe um tapa para que não dissesse mais asneiras, era porventura quase tão precipitado quanto o anão este Rabsfut. – Sim: um tremendo de um ignorante, que vive com suas loucuras... Até parece que vives no passado. Grauder já há muitos meses foi estrangulado violentamente por guerreiros. – Disse ele dissimulando um tom de inveja que tinha dos Lantes, tentando transmitir a informação com indiferença, o que não foi bem sucedido, já que neste momento Gantestru lhe olhava com umas pestanas inquisidoras percebendo algo de estranho na frase, entretanto isto o assassino guardou para si. – Os guerreiros, Lantes: esta ordem que diz proteger o mundo e tais coisas como estas.
- Pois disto não sabia. – Falou Comérgius sem acreditar nas palavras, já que era de fato alienado e reprovava qualquer insinuação moderna.
Já à noite bastante cansados Rabsfut e Gantestru dormiram como defuntos, o anão, entretanto, mantinha tamanha desconfiança de Comérgius que não fecharia os olhos por quantos dias fosse necessário. Com uma curiosidade infantil Comérgius testou os faróis de milha daquela máquina, sempre elogiando a genialidade dos primitivos, que com tão poucos recursos haviam feito tanto, e conectava à seus elogios comentários adjacentes nada interessantes para Esni, que ouvia com certa resignação respondendo com escassos comentários duma admiração idiotizante. Falava com grande admiração e um fervor quase que louco sobre os tais aviões, que seriam umas máquinas muito grandes voadoras, como os pássaros. A pesar de que nem ele próprio sabia como voavam. E dizia com morosidade e tristonhamente que seus tempos não tinham mais destas coisas aventurescas, somente aquelas grandes e sinuosas máquinas energéticas chamadas de gerador de alimentação físico-psíquica do qual dependia toda uma cidade. Aquelas malditas parafernálias apelidadas de Flars, que faziam o tele-transporte duma maneira tão cômoda que não via qualquer atratividade nisto.
Nisto tudo Comérgius guardava grande dose de rancor, parecia não haver se adaptado no tempo em que nasceu, e justamente por isto tornou-se uma espécie de louco aficionado por sua paixão pelo passado, uma loquaz obstinação lhe dominava o cérebro. Tinha uma opinião retrógrada a respeito da detonada cidade de Sprels, e quando ficara sabendo da destruição da cidade, e de que há alguns anos aquela cidade vivia sob o poderio total do dragão não pode conter um leve torcer dos lábios, que representava o marulhas de um sorriso interno. Isto porque era a pesar de tudo uma pessoa preconceituosa, tinha uma certa linha e não abdicava dela, a menos que fosse em situações de risco. Suas maledicências não eram voltadas especificadamente contra a cidade de Sprels, mas sim com o fato de que ela era uma espécie de escórias das imundices da sociedade, já que fora povoada por sobras de outras cidades. Sobras de distintas raças: haviam Humanos, Transmorfos Aquáticos, os Terribas, que segundo se diz viviam abaixo das terras, daquela coloração verde luminoso completamente fora do comum e finalmente alguns mutantes, resultado de experiências interrompidas pelos ataques. Os próprios anões não eram nada aprazíveis à Comérgius, o que tentou não relacionar. Esta mistura lhe trazia pudor, não gostava de se envolver com estes malucos. Agradeceu à intervenção do dragão naquela cidade, provocando a total decadência da cidade, mas ao mesmo tempo temeu a proximidade das duas cidades, e sabia que Bremer seria a próxima escolhida. Devaneando de maneira em seus pensamentos vagabundos acabou por revelar ao anão toda a sua angústia e seu estado de espírito revolto com relação às últimas intercorrências no âmbito mundial. Quando comentou algo sobre seu enojamento com as diferentes raças o pequeno Esni, que demonstrava intenso desinteresse pelas descrições quase saltou do banco de trás para esgana-lo com um berro ensurdecedor ininteligível, o que fez com que todos acordassem de súbito já achando que estavam sendo atacados por Bremenses furiosos. Juntando os fatos tudo se traduz com uma intensa confusão no carro, pois enquanto o anão berrava de maneira ensurdecedora estrangulando o pobre e lunático Comérgius os outros dois acordavam de supetão: Rabsfut acordou convulsivamente se assemelhando à um bêbedo tentando procurar donde estava, e inutilmente apalpava ao seu lado o estofamento na anciã de encontrar sua prancha. Gantestru, acreditando piamente que estavam sendo atacados, o que temia em seu íntimo, pulou do assento da frente absolutamente desnorteado e escutando os aterradores gritos de guerra do anão julgou estar diante de um pelotão fortemente armado, e pelo motivo de que somando os berros do anão com o forte zumbido da ventania teve uma sensação todavia mais realista do imaginário ataque, tudo isto lhe trouxe ímpetos da mais pura sobrevivência, o que fez com que rapidamente arrancasse com força descomunal a portinhola do porta-luvas que se prostrava à diante e se voltasse para trás donde supunha surgirem os guerreiros Bremenses, e com um golpe incrivelmente veloz desferiu no próprio Rabsfut um tremendo golpe, este que recaiu num dos ouvidos deixando-o surdo temporariamente. Assoma-se tudo isto ao fato de que Comérgius além de quase sufocar-se com a força dos musculosos braços de Esni, e com sua imperiosa obstinação em enforca-lo perdeu completamente o controle do carro, e este fazia curvas sinuosas dando a sensação de total ausência da gravidade, não sabiam donde estavam, se estavam caindo para baixo, para os lados ou para cima.
- Quê baderna é esta? – Gritou furioso Gantestru após se aperceber a situação, e haver restituído alguma ordem.
- Este calhorda, meu amigo Gantestru. – Explicou-se Esni extremamente indignado. – Admitiu, num tom de total incredulidade que não quer saber de outra raça que a dos próprios Bremenses. Sim foi isto que ouvi com meus próprios ouvidos. – Quando o anão disse a palavra ouvidos Rabsfut ficou ainda mais aturdido, pois seus ouvidos, como se não bastasse a quantidade de tintas dentro ainda teve de se contentar com o inchaço provocado pela fortíssima pancada efetuada por um crasso engano. – Sim, meus ouvidos o sabem muito bem, é um homem sem escrúpulos. Como pode ele, meu venerável Gantestru, contrapor-se às raças do mundo, e aliar-se às desgraças proporcionadas por um maldito dum Dragão.
- Tranqüilize-se, meu caríssimo Esni. – Disse Gantestru tentando amainar a situação de forma reconciliadora, sendo que em seu íntimo gargalhava às favas com a inusitada situação, enquanto que neste tempo Rabsfut desconsoladamente gemia de dor, não podia sequer encostar na orelha, pois esta latejava tanto quanto seu coração batia. – Sabes que agora não devemos por motivos tão mesquinhos como este entrar em conflito. Mais vale o entendimento suportável que este seu nervosismo mordaz. – Falou mas pensou o contrário, pois gostava de notar que a aliança fora feito com o que julgava ser um enérgico e temerário anão, que sem sombra de dúvidas, segundo sua concepção deveria ser oriundo das mais conturbadas profundezas duma sociedade caótica e pérfida.
- Por enquanto sim, mas outra destas não suporto. – Respondeu o anão sem satisfazer-se com a oposição de Gantestru.
De fato Comérgius arrependera-se amargamente por suas eloqüentes afirmações, não deveria por certo entregar seus pensamentos a estes terrificantes gatunos. Pouco tempo depois, não suportando mais ficar no volante, pois o sono viera também à ele, às 4 horas da manhã disse que iria parar, afirmação com a qual todos concordaram, e estando todos extremamente queimados pelo escaldante sol do deserto haveriam de suportar o extremo frio que fazia à noite naquelas paragens. Acomodaram-se então deitados uns sobre os outros no carro, improvisando cobertas com os tapetes de borracha do carro, de tão cansados que estavam, devido às últimas intercorrências, e pelo fato de estarem despertos há aproximadamente vinte e duas horas não custou muito para que caíssem os quatro num sono pesado como chumbo. Durante a noite sonharam todos com temas gélidos como estar perambulando pela neve ou extremos como no caso de Rabsfut, que sonhara estar à caminho de uma geladeira pegar um frango e um suco, quando subitamente foi tragado pela própria geladeira, sentindo até nos cabelos um frio desencabido, um detalhe deste sonho era que tanto a geladeira quanto o próprio frango eram estranhamente amarelos.
Os quatro acordaram pela manhã, olharam vislumbrados o nascer de um sol maravilhoso, o frio do deserto pouco a pouco se esvaia dando vazão ao aterrador calor que daí a algumas horas viria a cobrir aquelas paragens. Todos estavam empertigados de uma noite mal dormida, com excessão de Gantestru, que maquinara durante à noite diversos planos para o porvir, planos de triunfo e glória, imaginando até uma possibilidade de vingança contra o Gran Ministro Uranj. Gantestru não era um bandido qualquer, ansiava segredos sobre informações que Uranj revelava, mas que eram impossíveis de um ser humano ou mesmo ser de outra raça saber, já que eram demasiadamente proféticas. O mais impressionante é que as profecias de Uranj sempre se consolidavam. Suas dúvidas o levaram a consumar vários crimes, sua suspeita sobre Uranj se transformou numa obcessão sem igual, a partir de então Gantestru, que já era uma pessoa de personalidade violenta e desordenada, buscou a todo custo a origem de toda a prodigalidade daquele homem. Seus atos foram tornando-se cada vez mais complexos, sua busca era o próprio poder de Uranj, procurava com muita dificuldade se aproximar dos amigos de Uranj, e deles tentava extrair algo que para si pudesse parecer útil. Muitos se sentiam intimidados por seu caráter dissimulado, outros ingenuamente não percebiam dado à uma certa teatralidade criada por ele em momentos precisos. Foi assim que Gantestru, com muita astúcia e perspicácia extraíra importantes informações sobre a vida de Uranj. Nesta noite gélida e alegre, na qual sua liberdade após cinco anos de espera se efetiva, os planos do bandido se passaram em torno dos resquícios secretos que extraíra antes. Sabia que Uranj não era deste tempo, por haver forçado alguns que o sabiam a falar. Os motivos de sua prisão estão intimamente vinculados à sua perseguição por Uranj, perseguição esta que se tornou cada vez mais violenta, e que se consumou em sua própria prisão, trazendo-lhe todavia mais sede de vingança. Nesta manhã, pois, acordou eufórico e pronunciou:
- Vamos amigos! Precisamos aproveitar máximo o tempo e direcionarmo-nos à Sprels. Levantem... Levantem... Vamos por estes tapetes naquela máquina...
- À Sprels? Você está louco? – Falou Rabsfut tentando a todo custo tirar a tinta de seus ouvidos e levantando-se desengonçado devido ao excesso de gordura – Não existe mais Sprels! Grauder não deixou que restasse algo a não ser uns quantos sobreviventes que perambulam como insanos em um mundo praticamente destruído.
- Temos de ver no entanto, - Retornou Gantestru, colocando seus óculos espelhados e limpando, com um movimento das mãos repetitivo, suas roupas, que eram impecavelmente lisas. – que um distante amigo me espera em Sprels, por isto é para lá que devemos ir......


CAPÍTULO XV
O sentido e o motivo

Relirí sempre tentou compreender qual era a essência de Grauder, o grande dragão, no entanto seus pensamentos eram diversos também instigou-se em saber qual seria a origem do dragão: de onde teria vindo? Certa ocasião reuniu todos os Lantes para discutir a questão e chegaram à conclusão que era muito provável que mais importante que atacar diretamente o Dragão seria descobrir exatamente o por que do comportamento do dragão Grauder, foi aí então que o grupo decidiu empreender uma das jornadas épicas mais fascinantes que se possa imaginar, dividiram-se em grupos de dois e três e se direcionaram à locais estratégicos no intuito de conseguir estas valiosas informações: Relirí e Ungius, o historiador fizeram uma jornada de 10 dias atrás de um sábio que vive nos lugares afastados de Bremer, conseguiram achar o sábio, seu nome: plabru, haviam ouvido muitas lendas à respeito de Plabru, inclusive que ele é uma pessoa que se situa "Fora do tempo" pois já havia encontrado o segredo do "Portal de Namblem".
      Haviam três cavalos negros pastando nas cercanias e uma casa integrada à uma caverna, plabru parecia jovial e alegre ainda que fosse temido por alguns e venerado por outros. Conversaram os três enquanto plabru fazia um chá com ervas da região, fora então esclarecido que o Dragão Grauder conhecia os segredos do portal de Namblem assim como Plabru, que já havia entrado diversas vezes em sinergia com a mente do Dragão no campo psíquico descobrindo o idioma que o dragão falava, tendo sido revelado à ele que a missão do Dragão não era destruir os geradores de energia das cidades nem lutar contra seus habitantes mas obter de alguma maneira energia para manter os geradores psíquicos do portal possíveis de serem acessados.
      Sendo então que a solução estava no futuro onde a comunidade havia construído um gerador exclusivo para o dragão. Havia a possibilidade deste gerador se transferir também no tempo indo ao passado, evitando assim a destruição das cidades, esta é a manobra mestra deste enigma.
      A solução segundo Plabius seria buscar no futuro o que faltava no passado evitando qualquer tipo de transtorno, havia muito tempo em que Plabius mostrando seus papéis, configurava todo um planejamento para fazer um salto temporal suficiente para chegar-se ao tempo em que o gerador tivesse a tecnologia suficiente a ser transferido no tempo... Mostrou uma série de apontamentos sobre a arquitetura sofisticada de tal manobra.
      -  Grauder é Fantástico, sua mente é plena, sua inteligência é atemporal: consegui sincroniza-la à minha - Dizia o mestre Plabius enquanto fumava seu cachimbo segurando um cálice de ouro com um estranho chá vermelho - Conseguí sincronizar através de atos magísticos secretos sua mente à minha, seus pensamentos aos meus, sua origem estelar à minha realidade material, uma conjunção sem precedentes... - Falou isso agora mexendo em sua barba que se extendia até a altura do peito, seus olhos negros brilhavam, e até dois dos cavalos relicharam quando ele apontou com o dedo a montanha...  - Vejam de onde vêm o vento: sintam sua mensagem, é ele! Sua presença é marcante assusta apenas aos que desconhecem a verdade pois guarda em si mesmo o mistério que soluciona seu conflito: O conflito de todas as eras.
  - Como isso? Qual solução? - Abismou-se com o conhecimento de Plabriu Relirí soprando seu chá
-  Foi Grauder que percebendo depois de muitas gerações que o planeta já possuía tecnologia suficiente para produzir o novo gerador, assim projetou o gerador, na verdade no sexto Reinado do ano de 4.761 De maneira genial conseguiu manter o Portal de Namblem intacto até que chegasse este dia.
      O governo quis ocultar a existência do dragão, a mente do dragão é a mais vasta e sábia que existe, atravessa todas as eras sua aparência aos seres deste planeta pode ser impactante mas em si resguarda o calor e a salvação da transtemporalidade consciêncial. Jamais intencionou o conflito mas sim a preservação de seus fieis amigos.
      Relirí e Ungius ficaram surpresos com o que ouviram, encontraram a resolução. Então os planos de Plabriu foram postos em andamento até que entraram num novo tempo.
     Os Lantes então formaram a congregação que sob o comando de Plabrius, o mestre, e Grauder passaram a administrar Portal de Namblem dominando e regendo vários tempos e eras.
      Foi assim que fizeram!